CONEXÃO ENTRE RECEPTOR E TEXTO
Um bom amigo e conterrâneo publica o seu escrito e me pede leitura, em primeira mão... Atendo-o, com o carinho e o apreço de sempre:
“Parte V I I
Jorge Ruiz Braga
Fui para escola, louco para perguntar o que significava a palavra ANISTIA para o professor de história, Humberto Canarin, ele tinha uma baita barba negra, uns óculos fundo de garrafa, uma abertura entre os incisivos, e dono de um conhecimento literário invejável, era um professor que dizia aos alunos para abrirem em tal página do livro e começava a narrar o texto sem ter aberto o seu livro! Era uma pessoa muito inteligente; No meio da aula levantei a mão todo ansioso por uma resposta que me convencesse que eu estava certo do que tinha lido nos manuscritos do Vitor, o professor olhou-me com um ar de surpresa e amarelou de repente;
– Não entendi tua pergunta Carlos! Com ar de admiração.
– Professor, eu ganhei um decalque de um amigo com essa palavra, mas não estou muito certo do que ela significa.
– Bem, alunos, acabou a aula. Carlos tu ficas, pois temos que conversar.
Depois que todos saíram da sala ele me chamou em sua mesa e perguntou:
– De quem ganhasse esse decalque?
– Um vizinho me deu, professor!
– Não podemos falar sobre essas coisas em público, é muito perigoso, as paredes tem ouvidos!
– Mas...
– Não podemos conversar aqui na escola sobre política; faz o seguinte tens que perguntar para teu vizinho o que significa, ou melhor, o que ele quer que tu entendas sobre esses assuntos de “adultos”, pois ainda és muito jovem para pensar em política, agora vai indo...
– Mas...
– Nem mais nem menos, estou atrasado para dar aula na outra sala, tchau!
Já saindo na porta ele olhou para trás e disse:
– Não tenta te envolver com esses assuntos! As diretas estão chegando e o País vai respirar melhor, é só uma questão de tempo, vai pra casa!
– Ele nem deixou eu dizer que o Vitor tinha fugido! Pensei.
Meu pai andava estranho, muito nervoso em casa parecia que estava fugindo de algo, eu não entendia o que estava se passado!
Estava começando a ficar desconfiado que ele também fosse um subversivo (palavra bonita!).
Ele não dava atenção para minha mãe, estava sempre com a mente distante de nós!
No sábado, convidei toda galera para fazermos o primeiro ensaio da banda na casa de Vitor, foi o máximo, ninguém para nos incomodar pelo volume!
... Comecei a perceber que aqueles escritos dariam boas letras de músicas, e que eu poderia fazer com que as pessoas às ouvissem e ao mesmo tempo burlar a censura que estava por toda parte; então começamos a musicá-las para um festival que teria no final do ano ficaram todas muito boas; e o pessoal da banda gostou do resultado.
Publicado no Recanto das Letras em 24/04/2011
Código do texto: T2928373”.
Amigo Jorge Braga! O texto está bem interessante e convidativo, mas sem conclusão. Já que se trata de um 'conto' normal, em nada surreal ou onírico, nessa faceta exige-se uma certa veracidade: o exemplar tem que ter início, meio e final coerentes. O recheio está bem urdido, o assunto – com certo ar sigiloso – também “pega” o leitor pela coloquialidade, só que, por falta de finalização, esvaiu-se a modalidade literária. Claro, entendo que estás publicando em "partes" ou "capítulos"... Mas a net reclama isso: a peça tem de ter certa autonomia, tem de bastar-se, ter uma finalização, o que não ocorre com o livro, porque é só virar a página e temos o outro capítulo... Ou então a denominação, a classificação dentro da modalidade CONTO está incorreta, Ok? Por que não completas o capítulo, tornando-o mais redondo, a ponto de saciar o leitor ávido da historieta completa? A não ser que termines o CONTO em: "Ele não dava atenção para minha mãe, estava sempre com a mente distante de nós!". O parágrafo final foge do temário central e "desconecta" o receptor do assunto que era o tema principal. Este final talvez sirva para iniciar um novo conto com o tema de "... letras de música e o pessoal da banda...". Acho que já sabes: a minha tarefa é a de funcionar como instigador – um permanente provocador. Se o texto não tivesse valor literário, não perderia tempo fazendo essas análises, que venho tecendo sobre a tua criação. Porém, o que observo é que te tornas – pela experimentação – um envolvente “contador de histórias". Mais uma observação: ao final deste estudo, me dei conta de que o teu conto deveria conter uma titulação mais convidativa ao navegante da net para que venha a ‘abrir’ o escrito (e lê-lo), pela especificidade de que o texto está publicado no Recanto – sítio pra escritores. Algum vocábulo que lembrasse o temário central: “O SIGILO”, por exemplo... É árdua a função do analista. Parece que nunca se esgota o assunto. Realmente, a Palavra reúne todas as incógnitas...
– Do livro TIDOS & HAVIDOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/2930180