SOBRE A SERRA

O passeio começa no meio da manhã coberta pela chuva fina e constante.

Em meio a apresentações e cortesias típicas dessa gente de cá, a viagem ruma. Em cada recorte de paisagem uma descrição pausada e lírica sobre as coisas da "Serra do Cipó".

No banco da frente conversas triviais, assuntos vários. No banco de trás, ouvidos atentos, ensinamentos, aprendizagem e introspecção. Mergulho na paisagem e ignoro o infante ao meu lado.

O sobe e desce da paisagem nos mostra os contrastes de uma região miscigenada, aculturada, genuinamente bela. Dentro do carro um aparelho radiofônico é instrumento de interação entre veículos de mesma rota.

Pela janela do carro vejo as portas do céu. Fotografo. E sob o olhar atento, inspiro profundo aquele cheiro úmido, adocicado pela vegetação do cerrado, que, aliás, tem diversas nuanças. Um verde sobre um outro verde e mais... Gerando harmonia sem igual no sobrepor das cores e no refletir dos raios de sol. A imagem da frondosa gameleira, raízes enormes abraçadas à rocha, é como a mãe-terra que abraça e absorve gotas de chuva após intenso calor. De repente, uma ave ligeira sobrevoa o vão sobre nossas "cabeças de lata" - o carro-. Era um pica-pau em preto e branco e logo disseram que era corintiano embora prefira pensar que era atleticano.

Ao longe se avista o Pico da Lapinha e abaixo dele a Cachoeira da Conversa. Fico pensando no que falavam aquelas lavadeiras no esfregar das roupas difícil de alvejar, ao pé daquelas rochas milenares que generosamente vertia água cristalina e abundante...

A Serra também tem gosto. Gosto exótico, típico de regiões montanhosas. Experimento, com paladar afeito a expectativas de novo gosto, um “bacupiri” fruto do cerrado. Um gosto agridoce, não incomum.

Seguimos em frente... A vista fantástica convida ao descanso do olhar, do pensar, do espírito assoberbado da vida urbana.

Desce-se do carro, a viagem agora segue o curso do rio e, no navegar lento do barco a remo; o silêncio dos arredores. Ao lado do barco o capim navalha vai roçando encosta e as costas dos estupefatos turistas.

Do outro lado da lagoa, um enorme paredão é tela para artista esculpir seus ideogramas carregados de conversas de tempos imemoriais. Séculos de história registrados nas rochas em desalinho.

Quanta beleza!

Quanta natureza!

Viagem finda e ainda... A volta, onde nada se repete!

Suerdes Viana
Enviado por Suerdes Viana em 24/04/2011
Reeditado em 26/04/2011
Código do texto: T2928148
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