Sobre a magia

Podemos conceber um passado distante habitado por magos dotados de poderes encantadores, fascinantes e assustadores. Criemos a figura de um feiticeiro de longos cabelos e barbas a contemplar fatos distantes em uma bola de cristal, segurando um poderoso cajado capaz de ribombar trovões e abater até mesmo inimigos distantes, e portando beatíficas poções capazes de restabelecer a saúde de enfermos debilitados.

Diante de tal personagem nos colocaríamos, provavelmente, em atitude respeitosa, em deferência a seus poderes imensos e incompreensíveis.

Estranha e curiosamente, ao compreendermos aquilo que vemos, perdemos a veneração com que, à primeira vista, tratamos a figura misteriosa.

Imaginemos que o homem descrito acima não passa de um capiau desgrenhado assistindo televisão enquanto segura uma espingarda, carregando amarrado à cinta um preparado à base de ervas. Sob essa descrição, a magia da cena se dissolve, e o poder advindo do mistério se esvai de imediato.

Nem todo o discurso relativista é capaz de me convencer que um punhado de índios dançando tropegamente para evocar a chuva seja algo mais do que patético.

Mistério é o nome que damos à nossa própria ignorância quando não a reconhecemos. Quando verdadeiramente conhecida e dominada, a magia é designada tecnologia.