O preço da poltrona

- Naquela poltrona ali, doutor?
- Sim, sente-se querida! Sinta-se em casa.
- Tem certeza doutor?
- Claro que sim...
- Bem, já que tocou no assunto...
- Fique à vontade, por favor!
- Está bem doutor, antes de qualquer coisa...
- Não se encabule...
- Ah sim, que bom!
- O que te incomoda?
- Doutor, muita coisa me incomoda...
- Sei, eu sei disso.
- Claro né doutor, afinal, estudou pra isso.
- Sim, estudei muito e, ainda estudo...
- Sim, sim, sim, claro que sim. Para não ficar confuso, né?
( um breve silêncio, meio confuso )
- Mas o que está havendo?
- O fato é que, eu simplesmente não vejo...
- Sei, sei, sei como é?
- Sabe mesmo doutor, já viu o que nem eu vejo?
- Sim, posso avaliar bem...
- Pode?
- Sim, claro que posso!
- Então, vai me curar doutor?
- Demora um pouco...
- Demora?
- Talvez demore...
- Talvez?
- Sim, provavelmente.
- Doutor, pra começar estou desempregada!
- Hum, agravante...
- Muito, doutor?
- Sim, bastante!
- Imagino...
- Tem alguma reserva?
- Hum, acho que sim. Não costumo falar abertamente sobre tudo.
- Não querida, falo de dinheiro no banco?
- Hã?
- Dinheiro, grana, money, tesouro financeiro, economia?
- Ah sim , entendi agora...
- Tem ou não tem?
- Não doutor, gastei tudo com barbitúricos e afins!
- Sei, sei... Isso é grave!
- Que foi doutor, podemos continuar? Estou nervosa...
- Bem, acabou sua hora!
- Já?
- Sim, lamento, mas tem que desocupar a poltrona!
- Claro, claro, claro...
- Ah, e aqui está, um encaminhamento para o SUS!
Cristina Jordano
Enviado por Cristina Jordano em 24/04/2011
Reeditado em 24/04/2011
Código do texto: T2927811
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