O Paraíso na Quarta Idade

O Paraíso na Quarta Idade

Por: Joao Carlos Holland de Barcellos, mar/2011.

Introdução

Já faz um bom tempo que venho tentando escrever algo sobre uma ideia que é deveras controversa e que, em alguma época no futuro -como foi e está sendo a eutanásia - deverá causar uma grande polêmica, para depois, como prevejo, ser adotada nos países culturalmente mais avançados.

Resolvi retomar a ideia e escrever porque meu pai, já com 82 anos, e recente vítima de um AVC que lhe paralisou o lado direito do corpo, foi recentemente internado. Há muitos anos , ao contrário de minha mãe, ele já não tinha uma vida ativa: basicamente passava o dia a ver TV com algum gato no colo.

A ideia , que eu realmente não sei se já existe ou existiu, é a de que pessoas muito idosas, que não sejam ativas e que estão abandonadas em asilos de idosos ou que tenham o cérebro ou parte dele comprometido por alguma doença degenerativa incurável, e ainda que se for do interesse desses idosos, e com seus consentimentos, eles poderiam participar do programa que eu chamei de “Paraíso na Quarta Idade”.

O PQI seria um programa governamental (ou não) que ministraria drogas que causariam prazer nos idosos que não teriam condições de voltarem a ter uma vida normal. Com o consentimento deles, obviamente!

As drogas poderiam ser quaisquer daquelas que fornecem prazer como as tradicionais: Morfina, LSD, Cocaína, Crack, Ópio, Heroína, ou as sintéticas, ou então, e preferencialmente, através de uma única substância padrão especialmente produzida, controlada e distribuída por algum órgão governamental (sociedade). A ideia básica é dar prazer a estas pessoas que, já não podendo ter mais prazer com a vida, ganhariam uma nova e gratificante etapa na sua última fase da vida antes da morte.

As drogas poderiam ser produzidas e controladas pelo governo (como já fazem com material radioativo e/ou bélico) e ministradas por profissionais da área. Extravios constantes dos lotes produzidos poderiam fazer com que o programa fosse fechado.

Perguntas

Algumas Perguntas podem ser previamente respondidas:

1-Não seria melhor e mais ético produzir alimentos para os pobres do que investir na produção de drogas para idosos?

R: Numa democracia a sociedade deve definir as prioridades e o destino dos recursos públicos. Eventualmente, dependendo da sociedade (do país) a relação custo/benefício pode não compensar e, neste caso, o PQI pode não ser mesmo ser politicamente viável.

Entretanto, devemos lembrar que é normal a sociedade (via governo eleito) investir e aplicar os recursos disponíveis em diversas frentes, como, por exemplo, pesquisa espacial, biotecnologia, recapeamento de estradas, construção de parques, viadutos, pontes, reflorestamento, usinas atômicas, hidrelétricas, bolsas de estudos etc.. Mesmo sabendo que tais recursos poderiam ser destinados exclusivamente a resolver graves problemas sociais como, por exemplo: A questão da miséria e da fome, retirada de crianças das ruas, construir clínicas especializadas para tratar viciados de drogas, combater a dengue, construir mais creches, aumentar o policiamento e etc... Ou seja, é natural a diversificação de recursos para combater e prevenir vários problemas da sociedade e não aplicar todos os recursos em alguns poucos programas.

Isto ocorre porque a sociedade é estratificada em diversos níveis e o poder governamental deve contemplar a todas as camadas com parte dos recursos.

Assim, os muito idosos também deveriam ter direito a uma vida mais digna e feliz, pois também fazem parte da sociedade, e, portanto, parte do orçamento também deveria ser destinado a esta camada social.

2- O “Paraíso na Quarta Idade” não poderia incentivar o consumo de drogas?

R: Creio que dependa de como seja feito a introdução deste programa na sociedade. Se o PQI for alardeado como a grande esperança de vida e prazer do ser humano (algo semelhante talvez a uma bela e gorda aposentadoria) isso poderia incentivar o jovem a tentar antecipar seu ‘paraíso’. Entretanto, se o programa for colocado como um remédio, como uma espécie de ‘prozac’ (droga antidepressiva) que os velhinhos teriam direito para serem mais felizes, neste caso, a visão deveria ser outra. Se o programa tiver muito sucesso, ou seja, se os velhinhos começarem a ficar muito felizes com seu novo tratamento, é possível que isso eventualmente estimule o consumo de drogas e isso poderia por em risco o programa.

Agora eu deixo uma pergunta ao leitor:

-Você leitor, já entrou num asilo para idosos? Você gostaria de, caso chegasse a uma velhice avançada e, eventualmente, fosse largado num asilo para idosos, fazer parte do programa “Paraiso na Quarta Idade? Ou preferiria ficar olhando para as paredes até a morte chegar?