VIDA MORTAL PERFEITA E VIDA IMORTAL DESPERDIÇADA.
 
Uma vida mortal perfeita e satisfeita é superior a uma vida imortal desperdiçada. (Luc Ferry) – filósofo francês e que foi ministro da educação da França.
A vida de um modo geral, principalmente a vida humana, é totalmente frágil e finita, entretanto, ela é constituída por um componente sutil e não-físico que chamamos e conhecemos por “vida consciente”. Nessa vida consciente, nós temos pleno conhecimento dela, através dos nossos sentidos e, mais ainda, ela mesma pode nos dar mais certeza e autenticidade, pois é exaustivamente que comprova e ratifica a sua presença e a sua existência cognitiva e ativa através da nossa razão.
Na vida mortal perfeita e satisfeita, nós podemos fazer o bem, podemos ser altruístas, podemos nos educar e educar aos outros. Podemos investigar a vida, para propiciar melhores dias para nós mesmos, podemos crescer como seres inteligentes, podemos melhorar a nossa saúde, podemos aprimorar a educação civil e o aprimoramento científico. Inclusive, podemos até prolongar as nossas próprias vidas, buscando através da ciência a cura para muitos dos males que afligem a humanidade. Na vida mortal perfeita e satisfeita, nós podemos exercer a solidariedade e a caridade através do exercício consciente da Ética. Pois, o laicismo, também pode alcançar e propiciar o crescimento do ser humano sem a intervenção das religiões, apenas cultivando os princípios éticos, pois a ética norteia o comportamento humano sem o chamado sentimento de culpa ou sem a promessa utópica de uma vida imortal eterna.
A vida mortal perfeita e satisfeita nos dá o prazer, nos dá consistência de caráter, nos imprime princípios para que possamos viver em harmonia numa coletividade (comuna). Pois, a Ética pura não avaliza desperdícios e nem propõem devaneios eternos, num nirvana imaginário. Mas, deveremos considerar e nos conscientizar de que a nossa vida mortal, mesmo que seja perfeita e satisfeita, ela, obrigatoriamente terá um fim, pois somos feitos de matéria elementar e vulnerável que, infelizmente, se decomporá rapidamente e voltará a sua origem (tu és pó e ao pó voltarás). Essa é, pois, a regra imutável na economia do universo em que vivemos, quando muitos ou todos se decompõem (morrem), outros surgem, nascem, para também se submeterem ao processo da morte e da decomposição.
Isso é um fato, pois o vemos com os nossos olhos todos os dias e, a própria ciência nos dá prova cabal disso, ratificando a morte e a consequente decomposição.
Vamos agora enfocar a vida imortal e eterna, se é que ela realmente existe. Pois aqui nos defrontamos com mais um absurdo criado pela cabeça humana. Queremos crer que se trata de mais um mito, talvez o último mito que a humanidade acredita de boa-fé. O ser humano (nem todos), já cultuou santos, santas, lendas, fadas, relíquias, medalhinhas, escapulários, todos movidos pela fé que lhe foi introjetada, entretanto, sem a mínima evidência de serem fatos verdadeiros e sem a eficácia das curas tão propaladas.
A vida imortal, por ser um evento ininteligível e de existência duvidosa, e que apenas habita na cabeça de grande parte da humanidade, é como algo imaginário que se espalhou de forma coletiva. Isso, devidamente insuflada e autenticada pelas religiões que, de certa forma têm interesses de poder e manutenção para que se acredite nisso. Pois, é necessário que se mantenha também um redil de ovelhas obedientes e submissas, para que as religiões também mantenham os seus interesses escusos, que de certa forma, é muito particular, não democráticos e duvidosos. Essa vida imortal e eterna e desperdiçada por não existir, é mais um engodo para consolar e confortar um rebanho de ovelhas submissas e alienadas à religião que pertencem. A vida imortal e eterna é apenas um desejo egoico do homem mal instruído e daqueles que se deixaram bloquear mentalmente pelas teologias blandiciosas e tendenciosas das religiões.
Aqui queremos fazer referências às crianças que, na tenra idade são submetidas a um tratamento de bloqueio ou lavagem cerebral, um verdadeiro bombardeio de teologias infantís e anacrônicas.
Então, vejamos o que aconteceu com a abolição do "limbo", pois o Papa Bento XVI o anulou ou aboliu esse lugar inexistente para aonde iam as crinacinhas inocentes e não batizadas.
Agora, eu pergunto: Por que esse mesmo Papa, naquela época, não aproveitou a deixa e aboliu ou proscreveu as existências do Céu ou paraíso, o purgatório e o inferno?
Pois, ao morrer o homem, morre com ele tudo o que lhe pertencia, como por exemplo, corpo físico, mente ou razão, memória, inconsciente e consciente – tu és pó e ao pó voltarás.
As instituições religiosas estabelecidas tem em comum com a Maçonaria os seus anacrônicos dogmas, por exemplo, as religiões têm os seus dogmas initeligíveis, coisas da idade média, e a Maçonaria tem os seu Landmarks. A verdade é que as religiões de um modo geral não se atualizam e não aceitam a evolução humana, nem mesmo a Maçonaria que é mais liberal faz esse trabalho de reciclagem. Tudo evolui, somente eles ficam com os pés fincados  na modernidade, mas a cabeça totalmente obstruída e recheada de valores superados e foras de época. É verdade que existe algo de positivo nisso tudo, pois bem ou mal, as religiões domam, domesticam, disciplinam o ser humano por demais primitivo. Prometendo-lhes, é claro, dependendo do seu comportamento na sociedade e na instituição religiosa a qual pertencem, os prêmios ilusórios da salvação, do perdão, do paraíso e da vida imortal eterna, numa outra dimensão (nirvana), num faz niente, que é apenas sustentada pela fé e que nada prova.

As religiões têm interesses em manter essa modalidade teologal, simplesmente para se manterem como poder. E, para benefícios de seus cleros, vivendo assim nababescamente do óbolo do fiel bem-intencionado. Diz um velho ditado que, enquanto houver cavalos são Jorge não anda a pé. Enquanto houver uma boa arrecadação dos dízimos, os Pastores andarão bem vestidos, morando em mansões, com dispensas abarrotadas e com um carrão do último tipo estacionado na garagem. O mesmo pode-se dizer dos Padres, Bispos, Arcebispos, Cardeais e Papas. Todos não têm o mínimo de escrúpulos e exibem um luxo exagerado que revolta os pobres cristãos. Acredito que Jesus teria que voltar aqui na terra, para mostrar e ensinar de novo a esses desvirtuados cleros, o que é humildade, misericórdia, caridade, solidariedade e humanismo.
A verdade é que, as religiões, seja qual for a sua tendência de credo, surgiram e se estabeleceram sobre o nosso planeta como um poder moderador, mas, na verdade, são ervas daninhas, pois nada elas produzem, no entanto, a tudo colhem. Entretanto, como é sabido que todo o poder fascina e corrompe, elas não escaparam dessa influência deletéria. Com o passar dos séculos, elas se transformaram em verdadeiras concentrações de riquezas, (financeira e patrimonial), contudo, sem nenhum escrúpulo de consciência. É só notar que elas ocupam os espaços mais nobres da televisão, isto é, os mais caros, isso nos induz a pensar que, esse investimento dito como evangelizador tem um retorno financeiro que abarrota as suas contas bancárias.
E, para impor o seu credo de consistência duvidosa, toda a sua doutrina é baseada em dogmas, uma suposta verdade, um ferrolho à intelectualidade e à liberdade de crença. Em virtude da não aceitação desse absurdo, o poder tirano e déspota dos seus cleros, determinaram por meio de massacres, mortes por tortura ou queima em fogueiras, pois, inclusive, exterminaram civilizações. (Exemplos, os Cátaros ou Albigenses, as famosas cruzadas, exterminando os árabes, os Incas no Peru e etc.) Esses milhões de pessoas inocentes, que se submeteram a essa carnificina patrocinada pelos ditos religiosos em nome de Deus, foram simplesmente dizimados por não acreditarem em seus dogmas, e assim, exerceram sem dó e nem piedade, uma violência inacreditável para impor uma religião que diziam ser de Deus ou da vontade de Deus. Isso foi uma esdruxula ignorância e uma absurda arrogância exercida pelos ministros ditos de Deus. (Quando a persuasão não funcionar, a vara funciona – Santo Agostinho)
Foi nessa incapacidade do homem de aceitar a sua finitude e de ser mortal, que as religiões entraram com os seus credos e as suas teologias de recompensa. Isto é, prêmios eternos, que, na verdade, é um engodo para submeter, domar, disciplinar a humanidade através de um teologismo infantil e tendencioso para, assegurar a própria manutenção do seu poder eclesiástico. E esse poder é acima de tudo um grande negócio financeiro e de larga abrangência patrimonial, Carl Gustav Jung, já disse com muita propriedade que, a teologia clerical de qualquer tendência religiosa, tem mais “logia do que theos”. Deus é um mecanismo inerente da natureza e do universo. Deus e natureza: Dois nomes para a mesma coisa ( Spinoza)
Para Espinosa, se tivéssemos o poder de viver conforme a razão, e não pelo desejo cego, certamente viveríamos de acordo com as regras sabidamente instituidas, sob a conduta da razão, E por via de consequencia, seriamos livres, felizes, sem sofrimentos e tristezas. Espinosa, 2099, p.13