O morto sem sepultura.

O corpo jazia lá na geladeira do IML há alguns dias. Ninguém foi retirá-lo. E talvez nunca virá.

Ninguém se preocupou em velá-lo. Inerte como todo cadáver deve ser, ele parecia que estava esperando por alguém.

A carne já dura, o sangue há muito desistira de sua marcha, a pele ficando com aquela cor sem brilho que só os mortos conseguem ostentar.

Os vermes, tão ávidos por iniciar seu banquete derradeiro, também se mantinham inertes, como se esperassem pelo momento certo.

Talvez os vermes até fizessem isso como ato de respeito por aquele monte de carne e ossos embrutecido pela partida da vida pra sempre.

Não era um cadáver qualquer.

Enquanto alimentava uma alma, protagonizou um filme de horror ao vivo. Aquelas crianças não mereciam isso. Ninguém merecia isso.

Uma atrás da outra foram sendo abatidas tal se faz numa caçada insana, com a diferença de que a caça tem a oportunidade de escapulir ou até revidar o seu algoz.

Nesse caso, não. Não deram a menor chance para estas pequeninas vítimas mudaram o seu caminho, não tiveram chance nem para se despedir dos seus colegas. Foram friamente abatidas.

E aquele corpo ficou lá, insepulto para sempre. Mesmo que venham a enterrá-lo como indigente, que parece ser o seu destino, para o restante do mundo será eternamente um morto sem sepultura.

O que fez não lhe dá o direito nem de ficar a oito palmos abaixo do chão para sempre.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 11/04/2011
Reeditado em 12/04/2011
Código do texto: T2901727
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