Noite
A noite corre solta lá fora... Em um quarto de hotel, deixo a TV ligada, porém sem som, apenas para espantar a sensação incômoda da solidão. Os canais desfilam diante de meus olhos: filmes, documentários, desenhos, futebol... Tanta gente, tanta vida...
Eu, porém, a cada dia estou um pouco mais morta por dentro. E o mais triste é a certeza de que isso não é apenas uma impressão, é REALIDADE... Afinal, ao envelhecermos, não fazemos nada além do que morrer um pouco, dia a dia, célula a célula...
Minhas mãos sobre o teclado mostram linhas finas, que não existiam anos atrás. Vou ao banheiro e evito olhar o espelho. Veria uma estranha, de olhar encovado, cabelos desgrenhados, muito diferente da mulher jovem e cheia de vida que eu vejo pela manhã.
A noite me transforma... A noite e a solidão. São cúmplices nessa tarefa macabra: me tornar velha, arrancar de mim a vida...
Volto a desfilar os canais na TV... A noite será longa...