É importante dar também um sentido de solidariedade a nossos ganhos, não nos esquecendo de ajudar as pessoas, em qualquer nível de carência, de forma mais consciente, direta ou indiretamente. E isso não tem necessariamente nada a ver com questão moral. É apenas o atendimento a um chamado natural auto e interprotetivo. Ninguém vive sem precisar de ajuda. Logo, ninguém pode viver sem ajudar. Isso é um dos atributos inconscientes da hominalidade. Coincide com a bondade natural pregada pelo filósofo e escritor suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Segundo ele, em seu livro Emílio, as pessoas humanas são naturalmente boas; é só uma questão de despertar essa bondade dentro de cada um de nós. Pode parecer um pouco extremista esse conceito, embora seja real.
Mais extremista, contudo, foi o conceito desenvolvido pelo historiador ediplomata italiano Nicolau Bernardo Maquiavel (1469-1527), em seu famoso livro O Príncipe. Segundo ele, todos os seres humanos são naturalmente corruptos. Embora não tenha sido nenhum líder político, ele aconselhava os soberanos a desrespeitarem qualquer princípio moral, se necessário, para se manterem no poder. Que o líder seja amado ou odiado, conforme a necessidade, mas que se mantenha líder. Eis seu princípio de estratégia política. Por essa esteira de raciocínio, muitos o consideram o fundador da Ciência Política. Que fundador maquiavélico! Ainda bem que só recebeu o título de fundador, não de pai! Felizmente as correntes de pensamento evoluem, com a própria diacronia dos fatos sociais e culturais.
Creio já ser ponto pacífico entre os pensadores modernos que toda bondade é relativa e toda ruindade é relativa.
Não podemos desconsiderar, contudo, que muitas pessoas da nossa sociedade altamente competitiva nem de longe se preocupam com essa questão de solidariedade. São ideologicamente darwinianas, no sentido mais frio do termo. Preocupam-se bastante com a teoria da evolução, mas da evolução de seu patrimônio, de suas riquezas! Partem forte para alcançar e garantir seu lugar ao sol das oportunidades, preparando-se, por exemplo, em escolas particulares de alto nível (que, em princípio, são também pessoas jurídicas comprometidas com a mesma ideologia). Não têm sequer noção de cidadania solidária e dirigida para os milhões de analfabetos ou semianalfabetos que vivem à margem da sociedade e mendigam um tantinho de saber de mais qualidade para conseguirem pelo menos um solzinho fraco no meio do cocuruto.
Nas grandes casas do saber preparatório para ocupação dos lugares mais favorecidos do mercado, os mais pobres não têm direito nem de espiar pela janela, e vão se acomodar nas sombras do anonimato, a espera da ninharia subpreparatória oferecida pelo ensino público civil.
No chamado “darwinismo social”, o que predomina é a seleção cultural e a seleção econômica, que nada têm a ver com seleção natural nem instintiva.
É uma ideologia geral excludente, severa, mas que felizmente não atinge a todos os excluídos. Dentre estes, muitos não aceitam se autoexcluir e, com muita atitude e coragem, correm atrás por si só, autopatrocinados pela determinação, e conseguem superar-se e superar toda sorte de obstáculos e conquistar também seu lugar sob o astro-rei, com toda dignidade e mérito. Amparam-se no apoio familiar afetivo e moral, “colam” junto a ONGs e OSCIPs educacionistas e a outras pessoas patrocinadoras físicas ou jurídicas. Ou partem sozinhos mesmo para a luta, cheios de vontade! Há os que se valem, também, da ajuda excepcional (no duplo sentido) de professores e administradores escolares competentes, pinçáveis dentro do próprio ambiente escolar público. [Ressalte-se que muitos destes anjos da guarda cognitivos são mestres também na arte da sobrevivência criativa. São verdadeiros heróis da resistência, não raro também excluídos de oportunidades de maior capacitação formal, mas providos de empenho, talento e conscientização missionária altamente estimulantes, mesmo quando não suficientemente compensatórios.]
Não podemos deixar de pontuar que também na nobreza não é tão raro se ver nobres exceções[!]. Algumas empresas de ensino oferecem bolsas de estudo para hipossuficientes, ainda que obrigadas por lei ou estimuladas pelo lucro indireto das concessões fiscais. [Esperar mais do que isso também já é querer demais de pessoas jurídicas programadas preponderantemente para lucrar e submetidas também a uma seleção darwiniana empresarial.] Há diretores-empresários de escolas particulares que são, direta ou indiretamente, “amigos da própria escola” que dirigem e empresariam. Com iniciativas pessoais, mesmo à revelia dos interesses financeiros da casa, dão incentivos concretos de grande valia para alunos carentes. E incluam-se entre estes alunos carentes alguns da própria instituição, ainda que, não raro, se dirijam para as aulas em carros de luxo. [As carências mais prejudiciais e destrutivas não são as relacionadas a finanças. São as relacionadas ao caráter, à honra, à moralidade e ao amor.]
Há também muitos alunos, ex-alunos, professores e pais de alunos que fazem suas doações particulares e dão outras formas de apoio inclusivas anônimas, de uma forma ou de outra.
 
Enfim, malgrado as adversidades inerentes ao caminho ascensional de cada um, o centro gerador de sucesso ou de fracasso começa e termina sempre no indivíduo, e quase nunca começa com a questão de ter ou não ter dinheiro. É questão de saber amealhar e saber investir valores ligados aos potenciais anímicos, emocionais e espirituais.
Por isso, devemos enxergar sem preconceitos e sem generalizações casos isolados de vitória ou de derrota. Ajudar sempre, onde puder, mas sem prejulgar.
 
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Além de pessoas físicas, somos também pessoas sociais, conceito inventado certamente por algum empirista australopteco ou, mais adiante, por algum pensador neandertalês, mas já cristalizado por grandes sábios de todo o período antropozoico (intervalo de tempo geológico desde o aparecimento do homem, segundo seu Antonio Houaiss). Apesar da idade desse conceito, muitos até hoje nos damos ao “luxo e originalidade” de esquecê-lo.
 
Como pessoas sociais, normalmente interagimos em três níveis principais de relações:
 
·        com os iguais a nós, através dos relacionamentos de mesmo nível (embora isso seja absolutamente relativo);
·        com os que podem nos melhorar e que estão acima de nós em alguma forma hierárquica formal ou informal; e
·        com os que podemos melhorar, que estão abaixo de nós de alguma forma e a quem precisamos ajudar a crescer.
 
Contudo, não raro, entre duas pessoas vê-se o exercício de dois dos três níveis ou até mesmo dos três níveis concomitantemente, cada qual ajudando ou incentivando o outro no que pode. É comum coexistirem hierarquias achatadas ou verticalizadas em níveis diferentes entre duas pessoas e, em paralelo, a existência de uma saudável e descompromissada amizade ou perfeita affectio societatis (confiança e lealdade recíprocas entre sócios de um mesmo contrato empresarial, de parceria ou de convivência).
No mundo das relações contratuais há sempre uma forte tendência dos interesses econômicos superarem os interesses da amizade ou da inimizade. [Imagine duas pessoas se relacionando amigavelmente em nível sofrível e, ao mesmo tempo, se relacionando comercialmente a mil maravilhas, sendo uma o pai da outra!]
As camadas relacionais entre as pessoas nem sempre são todas uníssonas entre si e nem sempre é a mesma a vibração no campo gravitacional de cada um.
Independentemente das hierarquias internivelares, todo mundo precisa ajudar, ser ajudado, ajudar a ajudar e ajudar a ser ajudado. O difícil às vezes é conviver harmoniosamente com a compreensão dessa duplicidade de vias. É questão de maturidade inter-relacional exterior (entre duas pessoas) e de maturidade intrarrelacional interior (entre os eus de cada pessoa). É cuidar para não se resvalar na chatice humilhante e nem na arrogância de se achar um ser moralmente superior só porque ajudou alguém de alguma forma. É o essencial.
 
A questão é que a valedia moeda-amor, no sentido intersolidário do termo, tem de circular. Nenhuma carga de afeto é em vão. “Qualquer maneira de amor vale a pena” (segundo aquele verso da canção “Paula e Bebeto”, de Milton Nascimento e Caetano Veloso), idealmente de acordo com a necessidade circunstancial de cada necessitado que estende o chapéu, ou que estenderia o chapéu, se tivesse consciência de sua própria necessidade de amparo.
Isso nos faz lembrar de uma ideia maior: a de que somos, acima de tudo, pessoas integrais, envolvendo pessoa física, pessoa humana, pessoa social e pessoa espiritual.
Seja qual for o nível de pessoa a considerar, não desistir de amar e “amar sempre, sem esperar resultado”, como bem apregoava o psicógrafo espírita Francisco Cândido Xavier. Essas são as regras, para uns, severas, para outros, deveras.
 
[Agora, aqui frente ao nosso tema: Essa questão da caridade material, para o inteligente econômico, é particularmente mais difícil do que para as outras pessoas. Ele pode e até deve também ser generoso. Contudo, em nome da coerência do seu próprio título (“inteligente econômico”), idealmente, só deve atender a impulsos repentinos de solidariedade se for com sua própria verba livre, não com o dinheiro compromissado de seu microbanco pessoal. Os bens do proprietário de uma empresa não devem se confundir com os bens da própria empresa.
Quando o inteligente econômico faz a sua retirada mensal da microempresa pessoal para seu uso particular, através do envelope “verba livre”, aí, sim, ele pode fazer o que bem entender com esse “lucro natural”. Idealmente, da sua microempresa financeira ele só deve destinar verbas para a caridade se houver um envelope pré-montado para esse fim específico. É uma solução coerente e simples de organizar e de manter a saúde econômica em dia, fortalecida pelo tônico do controle científico dos gastos.
Essa cientificidade básica, ainda que algo estressante e esfriante, é a mola mestra dessa inteligência especializada, como de qualquer outra forma de administração seriamente programada para o sucesso pecuniário.]
 
Não adianta se ter sucesso financeiro, mas não se saber empregar o dinheiro ganho de forma coerente e vantajosa para o crescimento pessoal como um todo. Há outros sucessos a batalhar nesta vidona: sucesso afetivo, sucesso social, sucesso na saúde, sucesso na sabedoria e sucesso moral, cuja cesta básica envolve itens invisíveis aos olhos, mas igualmente essenciais.
Para uns, o dinheiro pode facilitar o alcance de alguns ou até de todos esses sucessos. Para outros, pode até afastá-los de si por muito tempo. Ninguém veio a esta vida só a trabalho remunerado, muito menos só para o trabalho de gastar dinheiro com uma vida inútil e supérflua. E o trabalho de amar e amar-se? E o trabalho de instruir e instruir-se? E o trabalho, enfim, de servir a Deus através do serviço ao próximo?
 
{“Assistir a caravana que passa dá muito mais sentido a nossa própria ida do que simplesmente assistir à caravana que passa”. – Antero, poeta e andarilho, em nota escrita após bate-papo com amigos, durante uma trilha no Vale do Paty, na Chapada Diamantina (BA), no verão de 1981.}
 
Tão natural quanto a sociedade é a solidariedade entre os seres humanos. Não só trocar, juntar ou dividir, mas também dar forças para receber forças, e receber forças para dar forças. Não só inter-relacionar-se ou correlacionar-se, mas, também, super-relacionar-se através do intercorrelacionamento, ou seja doar-se para o próximo sem esperar deste qualquer retorno, embora, por esta via, se relacionando inevitavelmente com Deus. Trata-se de ações ou reações de relações verticais ou horizontais, ascendentes ou descendentes.
 
Não é possível não reconhecer a importância da ajuda como meio de autocrescimento. Este subtema pertence inevitavelmente ao nosso contexto temático, apesar de ajudar ser sempre um gesto personalíssimo. Mas é possível a todos nós. Para isso temos o exemplo do Óbolo da Viúva, imortalizado no livro de Lucas, 21:1-4.
 
Em Química, existe o fenômeno da ionização. É quando um átomo libera elétrons, ou recebe elétrons.
Quando os elétrons passam de um átomo para outro, formam uma corrente elétrica, porquanto cada átomo, ao ganhar elétrons, libera outros elétrons de si, para poder receber os novos. E os elétrons liberados vão para o próximo átomo e assim por diante. Na gênese dessa corrente há uma pressão que gera o efeito dominó. E o resultado no fim dessa corrente? Luz, som, calor, frio, vibração, movimento etc.
Existe uma espécie de ionização naquele enunciado de São Francisco de Assis, de que “é dando que se recebe”.
Quanto mais exercitamos a solidariedade para quem está precisando preencher alguma carência sua, mais nos capacitamos a também receber a solidariedade de que precisamos para preencher alguma carência nossa. Ajudando outros a conseguir seus objetivos, seremos também ajudados na consecução dos nossos próprios. E isso também é uma corrente, que gera efeitos úteis ao crescimento de todos. [No mínimo, para quem acha que dar simplesmente, sem cobrar nada do outro, ou que dar apenas para receber não é autoeducativo, pense-se que nem sempre damos para tomar prejuízo ou para receber. Quase sempre damos para ressarcir.]
No circuito elétrico da malha social, qual é a psicogênese ou tensão propulsora dessa corrente solidária natural? É a lei do progresso, da qual ninguém está livre de observar, mais cedo ou mais tarde, quer seja pelo amor, que é uma lei natural, quer seja pela dor, que é também uma lei natural.
É uma espécie de Física divina, que nos faz crescer verticalmente para os lados. E somos obrigados a observar essa lei, mesmo quando estamos abalados por influencias externas de píons (partícula elementar extra-atômica que se choca com o núcleo do átomo gerando conflitos na estrutura formada por prótons e nêutrons) que se chocam com nossa corrente normal de sentimentos. [Por falar nisso, e o quantum intranuclear do átomo, partícula ainda não plenamente reconhecida, tem poderes de interferir ou até de provocar esse conflito? É, como especulam alguns, uma partícula fundamental inteligente?]
Se Você é daqueles que não aceitam, de jeito nenhum, amar sem a motivação do sentimento espontâneo, não tem problema. Vale amar assim mesmo. Não importa tanto a base de convicção para justificar sua caridade, por exemplo, de mitigar a fome, o frio ou a sede de um indigente social. O que mais vale é que o seu benefício não é uma miragem ou uma imagem para o favorecido. Para ele é real mesmo! Depois, querendo, mande botar a fatura em um dos pregos do Filho de José, o carpinteiro. [Afinal, Você é conhecido dele, não é mesmo? Ou vai negar?]
 
{"Estamos neste mundo para fazer o bem para os outros. O que os outros estão fazendo aqui, eu não sei." - Wystan Hugh Auden (1907-1973), poeta inglês.}
 
Conforme a legislação crística, somos obrigados a amar e a ser amados, não pela obrigação em si, mas para atender a uma das características da natureza humana, qual seja, a de que somos seres afetivos (ou homines amorosi). Relembremo-nos da frase de Rousseau: “todo ser humano é naturalmente bom”.
Podemos ser motivados a despertar e a desenvolver essa afetividade natural, através do próprio amor já espontâneo, à flor da pele, ou mesmo pelo amor planejado, mas que seja principalmente de moto próprio.
O nó górdio ou o ponto nevrálgico da questão não é a “obrigação de amar”, mas é a necessidade natural de despertar e expandir o sentimento do amor que já existe em todos nós. Ele é o combustível que impulsiona a carruagem da evolução humana na direção de Deus.
Quem insiste em não mobilizar esse combustível, individual ou dividualmente, para se pôr em movimento, vai precisar “pegar no tranco”, no empurrão da dor, já que nesse tráfego nenhum veículo pode se dar o luxo de ficar estacionado muito tempo.
Neste fim de era do nosso planeta, que se protrai já há mais de dois mil anos, o amor caritativo formal ainda é uma tônica necessária. A contrario sensu, Jesus não teria relevado tanto, em suas preleções, a necessidade dessa “assistência extrema”.
A caridade cristã, pois, por uma visão lógica, não depende de espontaneidade e de sentimentos afetivos. É o simples atendimento a uma “carta rogatória-impositiva”, expedida não para outras terras ou países, mas para os tempos posteriores de toda a humanidade. Responder a essa carta é não só uma homenagem ou deferência a seu emissor – o Governador Espiritual do planeta – como é de cumprimento indiretamente coercitivo, como pré-requisito de entrada no reino dos céus através daquela famosa “porta estreita”. Não é uma carta difícil de responder. É uma “carta social”, simples, pesando menos de vinte gramas. É uma meia dúzia de convocações e pronto. Porém, apesar da leveza de seu fardo, é um fardo. Apesar da suavidade de seu jugo, é um jugo. Não se trata de normas meramente de enfeite (programáticas). São cogentes ou impositivas, do contrário Jesus não as teria classificado como jugo e fardo.
Estamos fadados a amar. Isso é condição inicial ou final para a obrigatória promoção de cada espaçonauta desta nave-mãe chamada Terra.
Não temos para quem apelar: “estamos condenados a evoluir”, mais cedo ou mais tarde. Temos de avançar ou, no mínimo, jogar sempre, sob pena de tomarmos cartão amarelo, por “prender” a bola em demasia na área defensiva, ou sob pena de sofrer uma derrota por W.O., mesmo estando à margem do campo.
Enfim, a questão, ou a resposta, não é amar conscientemente, mas amar conscientizadamente.
 
{“Somente uma vida vivida para os outros é uma vida com valor.” - Albert Einstein}
 
Talvez a maior preocupação cinja-se apenas a amar em segredo, o que nem sempre é possível e às vezes nem sempre é tão útil. Que a pretensão, contudo, não seja a de aparecer em público desfilando em carro aberto como o “herói da tarde”. Mas o exemplo do amor precisa às vezes ser publicado, ainda que só em seu gesto, onde necessário. Pode colocar outras pessoas para pensar um pouco ou até a começar a agir adiante.
[Já pensou se a Irmã Dulce tivesse tentado ocultar todo o seu gigante trabalho pelos pobres de Salvador? Como poderia ser ajudada a ajudar? Como poderia servir de referência de amor puro e incondicional, que a tornou, creio que indubitavelmente, o maior homem da história da Bahia?
O Nazismo passou, mas os “campos de concentração”, de alguma forma, continuam até hoje e em toda parte, inclusive aqui no Brasil. Por isso, eu comparo Irmã Dulce com a pacifista polonesa Irena Sendler (1910-2008), que salvou mais de 2.500 crianças do gueto durante a ocupação alemã na Polônia, nos anos quarenta. O risco é se resvalar para o egoísmo psicológico, o que não é raro acontecer.]
Ajude-se no anonimato, sempre que possível, inclusive para que não veja nem a própria mão esquerda (que é muito fofoqueira), mas sem perder a oportunidade de exemplificar nos ambientes públicos, principalmente aos próprios filhos ou netos, como é que se faz! O ideal é que isso não se resvale em vaidade. [Mas se esta ocorrer uma vez ou outra, que fique apenas no coração do ajudador, no máximo partilhada só com seu grilo falante e com Deus, que é onipotente, onisciente e onipresente e trabalha também em um posto de observação avançado dentro da consciência de cada criatura.]
 
 
Para quem está predisposto a entrar na corrente do progresso individual a partir da contribuição voluntária para o progresso alheio, dando alguma demão no campo da solidariedade, o serviço logo aparece.
As pessoas jurídicas (pelo menos as sociedades anônimas), além de visar ao lucro, têm, por lei, a chamada “função social”.
Também as pessoas físicas podem atribuir uma função social a seus ganhos, não pela lei comercial, mas, sim, pela lei do amor, através da ajuda. E o que não falta são formas de ajuda: doações de bens ou de serviços, presentes, patrocínios, serviços voluntários, palestras, participação em campanhas de farnel, visitas a hospitais, prisões e manicômios e infinitos etcéteras. Há os que se dedicam à distribuição de alimentos e agasalhos a moradores de rua, alívio de fome ou dor eventual de alguém, conversações motivacionais, em grupo ou individualmente. Há ainda os que preferem fazer doações a instituições filantrópicas, hospitais, ONGs, museus, fundações, e por aí afora e acima.
Muitos não ajudam diretamente, mas mantêm aberta uma “carteira de benefícios” em sua estrutura contábil, especialmente voltada para contribuições regulares a alguma instituição assistencial. Outros, para nem se preocuparem com esquecimentos, costumam fazer consignar um desconto mensal em sua folha de pagamento. [É o exercício da solidariedade por procuração. Tem validade também, ainda que não se compare em satisfação, alegria e emoção com o amor presencial ou laboral.]
 
{Quando se bate em qualquer porta para oferecer ajuda, esta se lhe abre as duas bandas, de forma escancarada, principalmente se for a anônima porta dos fundos, que é a porta de serviço.}
 
Nós nos elevamos não é só quando levamos apoio, mas também quando nos levamos em apoio.
A melhor ajuda, seja presencial ou mediada, é aquela que não espera resultado nem de Deus, embora nem todo mundo tenha o impulso natural para ajudar constantemente. Porém, a esta altura da vida planetária, qualquer ajuda pode ser levada em conta, ainda que só pensando em “se salvar”.
É indubitável que todos temos missões solidárias a cumprir, por mais materialista que possa ser nosso dia a dia ou nossa filosofia de vida ou até nossa religião(!).
Mas, ajudar, em qualquer de suas manifestações, não é somente uma ação missionária. Pode ser exercitada por qualquer um, para qualquer um, em qualquer momento, em qualquer lugar, de qualquer forma, esperando ou não retribuição de Deus. Se eventual retribuição divina não chegar pela via direta, não se apoquente. Nós recebemos muito mais do que damos. Se quando nós ingressamos na construtora da vida não trazemos nenhuma ferramenta material para o pé da obra, nem mesmo a roupa do corpo, qualquer perda eventual em favor de outrem não causará nenhum prejuízo. As ferramentas que se utilizam no trabalho pertencem mesmo é ao Dono da obra. E quando cada um se aposenta da lida (bate o último cartão de ponto), deixará tudo que utilizou, para a contratação de outros seareiros. Só se levam mesmo os bens invisíveis acumulados com as ferramentas mais importantes que o Grande Arquiteto ofertou, que já estão escriturados no dia a dia da obra, no livro da Contabilidade Divina. E não são, como muitos pensam, os valores morais de cada um, mas, sim, os favores.
No livro de entradas e saídas do Grande Escritório Contábil, o que entra são só os fazeres melhorativos de iniciativa exclusivamente pessoal, nunca os teres. Ter saúde é uma condição congênita ou adquirida; promover a saúde é uma missão. Ter conhecimento é uma forma de ver o mundo; crescer integralmente a partir do que se sabe é que é a verdadeira prova na escola da vida. Ter caráter ajuda a não prejudicar ostensivamente; mas o caráter só faz sentido quando aliado ao trabalho de equipe, na troca de sentimentos, na busca, na conquista e no compartilhamento da felicidade. E se o dinheiro serve a tudo isso como meio eficaz e facilitador, então ele é um instrumento abençoado.
E Você, na Contabilidade Divina, está mais adquirindo créditos, gastando créditos, adquirindo débitos ou pagando débitos?
Ninguém, acredito, desconhece a importância da ajuda como fator de contentamento também para si mesmo. Nós nos sentimos bem ao ajudar, e isso repercute na saúde, na paz e no bem-estar, sem contar que ficamos mais bonitos e mais jovens.
Grave em uma de suas molduras o seguinte:
 
{Quem precisa, ajude.}
 
Parece que há uma contradição intrínseca nesse enunciado, não é mesmo? Mas se nós o analisarmos com um microscópio, vamos enxergar muito mais além de suas três palavras.
Esse mote funciona bem quando estamos momentaneamente em depressão, em tristeza profunda, em solidão filosófica, intelectual, social ou afetiva ou em qualquer forma de carência aguda. É o melhor método de cristoterapia, considerando nossas limitações evolutivas. Olhar o outro mais necessitado do que nós, estender a mão a alguém circunstancialmente mais carente do que nós mesmos. Rapidamente achamos alguém com quem nos solidarizar, um ombro amigo, alguém que nos compreenda, mesmo que permaneçamos calados sobre nossos conflitos internos perante o ajudado. No mínimo, minimizamos nossos problemas ou os reencaixamos em suas verdadeiras dimensões. Rapidamente saímos da fossa e voltamos à lufa-lufa existencial.
 
Na dúvida, ajudemos, mesmo sem o arroubo natural dos gestos afetivos que marcam as grandes personalidades do amor universal. Ajudemos porque no mínimo somos também ajudados, e também como uma sacada de obediência à ordem do Homem, que foi bastante imperativo: “Ame o próximo como a si mesmo.” Observe o modo imperativo do verbo: Ame! Foi mais imperativo do que Moisés 1600 anos antes, que só usou verbos do tempo futuro dentro do decálogo (“amarás”, “respeitarás”, “não cobiçarás” etc). Jesus nem deu margem para questionamentos, não concedeu apartes, não concedeu prazo para qualquer defesa, nem quis saber se alguém pode não ter inclinação para amar, nem perguntou sobre o que pensa sua religião. Apenas deu a ordem: “Ame o próximo como a si mesmo”, reportada no livro de Mateus, 22:39. [No “ame a Deus sobre todas as coisas” é até compreensível o uso da preposição após o verbo transitivo “ame”, porque dá uma ideia de reverência, de respeitoso distanciamento vertical. Porém, no caso do “ame o próximo como a si mesmo”, eu prefiro ligar o verbo “ame” diretamente ao objeto direto “próximo”, sem a intermediação prepositiva, não obstante nossas traduções bíblicas modernas desse segundo mandamento de Jesus tenham distanciado o “ame” e o “próximo” com a preposição “ao”. Amar como verbo literalmente transitivo incita mais à ação prática de amar efetivamente o próximo, na prática.]
Em suma: na mesma medida com que se ama, ame também as outras pessoas, e, de preferência, sem qualquer ligação formal-ideológico-religiosa.
[A rigor teleológico, Jesus resumiu o decálogo mosaico não a dois, mas a três mandamentos:
 
·        amar a Deus (vertical ascendente), que se confunde com adoração, respeito e obediência a suas leis;
·        amar a si mesmo (destinando afeto para dentro de si mesmo, sendo, portanto, um movimento centrípeto). É o autoamor, o zelar, estudar, trabalhar, progredir pelo esforço próprio, pelo autopoder e pela relativa independência; e
·        amar o próximo (horizontal unidirecional centrífugo). Entende-se como todo movimento de fazer pelos outros exatamente o que se faz por si mesmo, nem mais nem menos. [Entre os próximos incluem-se também os eus internos a cada um de nós. Também eles são carentes e precisados do nosso afeto. Eles também são “filhos de Deus”. Você ama todos os seus níveis de consciência? Quer sempre o melhor para seus instintos? Pensa com carinho nos seus sistemas digestório, respiratório e circulatório? A rigor, se for para dedicar mais amor aos próximos mais próximos de nós, temos de voltar nossas cargas de afeto para dentro de nós mesmos, inicialmente. Depois, com a mesma medida, amemos os nossos próximos externos necessitados de apoio elevatório.]
 
A parábola do bom samaritano, reportado no livro de Lucas, 10:25-37, é o corolário maior desse entendimento. Através dele Jesus incentivou a ajuda, independente de propósitos religiosos. Ele demonstrou claramente que o único passante que ajudou o moribundo à beira da estrada foi justamente alguém que nem dali era, ou seja, alguém que não pensava igual aos do lugar, não representava as religiões reinantes, sendo, portanto, para o conceito da época, um “inimigo”. E, na mesma parábola, ficou a segunda grande lição: o passante ajudou completamente o necessitado, longe de qualquer templo, e depois simplesmente foi-se embora. Não pediu qualquer retribuição futura para si nem para sua instituição religiosa. Nem mesmo pediu mudança de pensar o mundo àquele que ajudou.
Apesar do discurso imperativista do Cristo, no sentido de que “devemos” amar, a ilustração dessa parábola deixa claro que o melhor amor é o praticado a partir de uma piedade ou de uma generosidade espontânea, movido pelo sentimento ou pela consciência do dever a cumprir. É o amor puro ou purificador.
Para quem já despertou esse nível de amor dentro si e o tem expressado continuadamente, ótimo! Não se trata mais de caridade, mas sim de um estilo de vida, em que se ama a quem precisa da mesma forma com que se ama os próprios filhos.
Para quem esse sentimento ainda não está suficientemente “externalizado” e vivificado, o jeito é partir para uma educação dirigida mesmo. Nem todo processo educativo tem de ser natural. Aliás, quase nunca o é. Contudo, pode ser organizado, metodizado e agendado, desde que pelo próprio educando, a partir da conscientização das necessidades alheias e de que este é o único caminho suave (ainda que longo) até a “porta estreita do céu”. Apesar de único, como todo caminho, também este tem duas margens, ainda que não confundíveis com o contorno da estrada. São como as duas respostas possíveis nas funções matemáticas e nas equações de segundo grau. Essas duas margens-respostas simbolizam as duas maiores forças de propulsão da humanidade: a fé e a razão, que não querem dizer sinônima e obrigatoriamente a religião e a ciência.
[Ajudar pessoas a saírem do sufoco moral, emocional, espiritual e também financeiro é mais do que simplesmente dar ajuda direta e simplesmente dar as costas. É tentar contribuir como puder para que o sufocado volte a viver normalmente. Às vezes uma palavra, um abraço, um sorriso, ou simplesmente ouvir o problema do sufocado pode ser de muito mais valia do que oferecer dinheiro ou bens materiais. Dar a solução nem sempre é possível, mas indicar caminhos, encorajar, ouvir, estimular à autoestima...]
 
Cada margem é um lado da estrada, tomando por base a linha central. A partir de cada margem pode-se enxergar o mesmo fim por lados diferentes. E a melhor visão não é a do melhor ângulo da estrada, mesmo porque os ângulos de cada lado são de mesmo grau em relação à infinitude do fim, que está no meio. O melhor ângulo pessoal é medido a partir da distância em que cada um esteja da margem que escolheu momentaneamente para trilhar. Quanto mais próximo do meio, melhor. E esse meio? Será a terceira margem da estrada? Será Você em si (conforme a conclusão chegada no conto “A Terceira Margem do Rio”, de João Guimarães Rosa)? Será seu self em si? Ou Você só se aproximará mais do meio quando se dirigir samaritanamente para a margem em que estiver gemendo um moribundo que acabou de ser assaltado?
 
Muitas vezes é a dor (a “irmã dor”, na definição de São Francisco de Assis) que, na longa estrada da vida, acelera nosso veículo evolucional, mesmo que, como vimos, este tenha pegado “no tranco”. Também a consciência despertada, por si só, o impulsiona fortemente para engrenar marchas de velocidades mais aceleradoras. Entretanto, somente o combustível do amor é que garante os maiores impulsos de avanço.
 
{“Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,”
Se vires uma alma abandonada,
Para um pouco. Estende-lhe tua mão.
[Adaptação da primeira estrofe do poema “A Cruz da Estrada”, de Castro Alves, em seu livro “Os Escravos”, que assim principia: “Caminheiro que passas pela estrada, / seguindo pelo rumo do sertão, / quando vires a cruz abandonada, / deixa-a em paz dormir na solidão.” Aqui na nossa argumentação, o precisado ainda está vivo! Logo, ele, mais do que ninguém, é quem não deve mesmo ser deixado à margem da estrada, concorda?]}
 
Se Você, por exemplo, parar junto à placa de 500 km e se agachar para ajudar um necessitado, ao se reerguer para prosseguir, verá, “no placard”, a seguinte marca: 1500 km!
É como se Você, no basquete da solidariedade, sem sair do lugar, mesmo ainda bem distante do objetivo, que é a cesta, conseguisse, em um arremesso espetacular, encestar a bola da afetividade e fazer, por isso, três pontos! Tudo graças a sua habilidade e pontaria! [Mas aí (eu não resisto), lá vem o seguinte questionariozinho fatal: Você teve a intenção. Mas será que o êxito da jogada decorreu apenas de sua habilidade? Será que não houve também um encontro (pré-)marcado entre jogador, jogada e jogado, no tempo e no lugar exatos? Será que Você não recebeu também uma “mãozinha invisível” cósmica para, de fininho, ajustar a direção da bola rumo ao cesto ou ajustar a posição do cesto em relação à bola? E quem é efetivamente o jogado nessa história? O da marginal ou Você? E quem é o verdadeiro jogador? Você ou o construtor da bola ou do vento ou da cesta adulterada para Você ganhar e se achar o próprio? E quem é, enfim, o da marginal? Apenas um necessitado ou pode ser também o próprio construtor humanamente presentado. [Esse “presentado” aí é um particípio tomado de empréstimo do Direito Público, em que se entende que o Ministério Público não é representado, mas é “presentado” na pessoa de seu Procurador em atuações formais.]
Isso nos remete, também quase “no automático”, para a imagem de um soltador de pipas. Ele está sobre a terra, fazendo jogo com a pipa, que está no outro extremo de uma linha intermediária (a estrada) bem fina e diagonal.
Inicialmente, entendamos que a estrada estreita da evolução é uma ladeira, tão estreita ou fina que passa pelo meio de nosso próprio ser. Ou, afinal, é o nosso próprio ser? O que importa é que temos de subir a ladeira, não fisicamente, mas jogando ou interjogando com a pipa-objetivo. Nós fazemos o nosso jogo com a pipa e a pipa faz o seu jogo conosco. Nós também somos a pipa da própria pipa com a qual jogamos.
Nós buscamos Deus, mas Deus também nos busca. Só há uma diferençazinha: a pipa-Deus empina a pipa-homem como bem quer. Já a recíproca não é verdadeira, embora nós tenhamos algum poderzinho de jogar também, não com Deus, mas com as demais criaturas em nosso derredor. Semanticamente, o “com” de “não com Deus” quer dizer não contra Deus, ou melhor, não com poder de manipular Deus. Já o “com” de “com as demais criaturas” é bivalente. Tanto pode ser juntamente com elas, relacional e paritariamente, como pode ser também contra elas, ou seja, com algum poder de manipulá-las para um lado ou para outro. Nesse interjogo horizontal (já que se situa praticamente no derredor ou na psicosfera do próprio planeta), nós-pipas jogamos não só para ver quem sabe fazer manobras aéreas mais bonitas, mas também jogamos uns contra os outros para ver quem corta primeiro quem! Temos até o relativíssimo poder de dar mais linha ao próximo, mas também de passar cerol nas nossas próprias linhas e nas linhas das pipas alheias. E temos também o poder, igualmente relativíssimo, de cortar a linha fluídica uns dos outros (é o pipacídio, ou homicídio mesmo). Assim, forçamos os “cortados” a soltar uma nova pipa de vez em quando.
O crível mesmo é que, também no interpoder horizontal daqui do terra a terra, nós nunca jogamos plenamente livres. De uma forma ou de outra, nós somos mesmo é pipas invertidas, ou seja, empinadas de cima para baixo por Deus, através de seus soltadores de outras dimensões.
É importante o pai jogar com o filho. Mas, no caso desse jogo, o Big Father não joga por jogar apenas. Há sempre o propósito de ir nos puxando para perto Dele, à proporção em que Ele vai sutilmente recolhendo ou limitando a linha e retirando-lhe o cerol do mal. E tudo isso Ele faz sem que nós nem percebamos, já que normalmente confundimos onde é que Ele está mesmo nos empinando.
Na verdade, Ele está tanto na ponta superior da linha diagonal, como também na ponta inferior, isto é, dentro de nós mesmos como pipas-deuses. Relembremo-nos: “o reino de Deus está dentro de vós” (Lucas, 17:21). Então essa aproximação gradativa para Deus implica logicamente uma aproximação gradativa para dentro de nós mesmos. Daí a importância de cada um andar o mais “alinhado” possível consigo mesmo e, consequentemente, com o Cosmo.]
 
Talvez quando o iminente aquário abrigar o peixe que ainda está meio fora d’ água, vivificando-o plenamente, possa a humanidade se nutrir mais eficazmente dessa proteína vital. Espero que Você, se estiver lendo este livro aí pelos anos 50 ou 60, já esteja percebendo e vivenciando melhor esses dizeres.
 
[Atenção, contudo, inteligente econômico: se Você tem um capital conseguido a duras penas ou decorrente de alguma ajuda conseguida na sua religião, e deseja fazer contribuições regulares para obras assistenciais mantidas por sua igreja, o direito de se achar nesse dever é todo seu. Como também é direito seu destinar parte de sua verba para ajudar projetos e pesquisas científicas, hospitais, fundações, museus, bibliotecas, universidades... Afinal, também a Ciência, quando voltada para a promoção e o desenvolvimento da sociedade e dos seres humanos, é uma via de crescimento a Deus. E os cientistas podem ser missionários tão divinos quanto os religiosos que perseguem os mesmos objetivos humanitários. Mais importante, pois, do que a causa é o efeito das ações. Tudo é questão apenas de manter tais retiradas devidamente escrituradas, na ponta do lápis.]
 

Josenilton kaj Madragoa
Enviado por Josenilton kaj Madragoa em 03/04/2011
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