Manifesto - Poeta
O poeta é o homem certo, na hora certa, não possui marcas profundas a não ser que essas sejam dentro dele, e conhecendo-as não precisa transparecer ou as tornar visíveis para ser percebido! O poeta é um eterno ingrato, pois sabe que aquilo que a vida oferece pra ser sentido e saboreado é pouco e efêmero, ele não consegue se contentar com os prazeres, mundanos e triviais idealizados pelo senso-comum, assim como a própria ordem proposta por esse.
O poeta é um contestador nato, avalia o que sente o que vê, e percebe. Se indigna com toda superficialidade dos sentimentos, dos pensamentos, do mundo fragmentado, da geração em que vive e empaca sem se dar conta, se indigna com a ignorância crônica. Mas está longe de ser douto. Erudição não é atestado de ser poeta, muito pelo contrário, pois ela é signo de quem é um expoente pra sociedade o poeta vive de sua descrição e simplicidade, vide o exemplo de Cora Coralina, e muitos outros que mesmo sendo figuras modestas e de pouca percepção, na sociedade do mérito quantitativo, tornaram-se poetas admiráveis, de valor inestimável.
Não é o poeta, um iluminado daqueles que descarregam dores, tensões e distimias crônica sobre o papel, ou ainda sim, reproduzir um aparato de idéias a fim de discorrer sobre o mundo e as coisas. O poeta não precisa de discursos prolixos, pois de uma forma ou de outra isso se transforma em lixo (nada, além disso). Se analisarmos, atentamente o momento e as circunstâncias em que vivemos as tecnologias e os meios de comunicação, trazem a informação de forma rápida, eficaz e contundente não importando o caminho que faz, mas apenas sua fórmula objetiva: origem + destino = resultado.
E o resultado é justamente o que temos vivido um estado de estupefação generalizada pelos acontecimentos, desde os mais banais e relativos, até os mais viscerais e sangrentos da sociedade violenta que convulsiona dia após dia. A reação consciente, revelada, é sempre a última a surgir, acompanhada de receio e desleixo daqueles que pareciam ser os mais “fervorosos” indignados. E assim é, pois o que observamos não é caricato, mas verídico! Nesta sociedade se dorme indignado e acorda-se dócil, e aí nesse ponto, entra dura missão do poeta: olhar a si mesmo através dessa realidade e provocar, incitar, estimular a percepção e mudança.
O poeta precisa confabular com o que é cruel e insensato o que muita das vezes, não desrespeita diretamente aos seus temores, mas o de outros. Como diria Belchior: "Minha alucinação é suportar o dia-a-dia, e o meu delírio é a experiência com coisas reais." Assim deve ser os sentidos deste singelo homem, prontos para se perder e se encontrar na realidade. Onde o poeta existe, aí ele resiste!