UMA REFLEXÃO SOBRE O ENSINO DA DÊIXIS E DA ANÁFORA NA SALA DE AULA

UMA REFLEXÃO SOBRE O ENSINO DA DÊIXIS E DA ANÁFORA NA SALA DE AULA

Introdução

Pretende-se por meio desse ensaio apresentar um parecer acerca da dêixis e da anáfora, especialmente da dêixis discursiva que em determinados usos se assemelha muito com a anáfora. Observando essas complexidades existentes, tem-se o propósito de levar tais discussões para o âmbito escolar a fim de compreender quais as formas e os métodos pedagógicos podem e devem ser empregados para que os alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio possam obter maior desempenho na aprendizagem desse assunto tão importante. E essa importância enfatizada a esses dois termos, dêixis e anáfora, como se verá no decorrer do trabalho, é porque a vida é expressa por meio da linguagem e a dêixis é uma das formas de se fazer referência e, além disso, ela prova a existência do homem na língua, como afirma, Benveniste (1995). Porque ao fazer referência o homem precisa colocar-se primeiro no enunciado e afirmar-se como pessoa. Baseado nisso pergunta-se: Conhece-se alguém dotado de racionalidade que não pratica tais atos da comunicação?

Assim, com a finalidade de mostrar essa importância do uso e do estudo da dêixis e da anáfora e também do levantamento de métodos pedagógicos elaborou-se essa pesquisa, a qual, para esse último fim, foram entrevistadas duas profissionais da educação, professoras de Língua Portuguesa

1. O que é Exatamente Dêixis e que Função Desempenha na Língua?

Quem nunca se deparou com estes dois casos tão comuns: a) Com uma placa apontando a localização de um estabelecimento? b) Ou quem nunca, ao andar na rua, ouviu uma buzina de bicicleta ou do carro do Corpo de Bombeiros? São situações diferentes, mas fazem compreender as duas formas de se usar a dêixis. No primeiro caso a placa está indicando a direção do estabelecimento, e isso deixa implícita a intenção de alguém em praticar a ação de apontar. Assim, se o sujeito estivesse ali presente certamente usaria também o recurso da voz que ajudaria a completar a ação. Em contrapartida, para decodificar a mensagem o interlocutor teria que usar recursos sensoriais para acompanhar toda a ação do locutor. No segundo caso, a pessoa estando na rua ou em casa ouve sons diversos e, mesmo sem estar presente no local onde tal som se originou, ela é capaz de identificá-lo. Esse caso seria o mesmo em que duas pessoas estivessem em uma sala trabalhando e, de repente, com a falta de energia uma delas gritasse:

(1) Onde você está?

E a outra respondesse:

(2) Eu estou aqui próximo à escrivaninha!

Nessa situação, ao contrário da primeira, o locutor e os participantes da comunicação não têm o auxílio da visão, porque a sala está escura, portanto não se pode fazer o gesto de apontar e tampouco acompanhá-lo visualmente. Dessa forma, ao conversarem entre si, buscando localizar um ao outro, terão que usar o conhecimento prévio do ambiente, da voz da pessoa e a indicação precisa que o dêitico denota (aqui denota proximidade com o objeto designado pelo falante: a escrivaninha). Quando se usaram os dêiticos “eu” e “aqui”, essas entidades significativas orientaram, inclusive, sonoramente o ouvinte, de maneira que, metaforicamente dizendo, tal expressão funciona como se fosse o som da buzina. Bühler (1950) usa dois exemplos similares aos casos (1) e (2) para explicar o funcionamento dos dêiticos, todavia não mostra a sensível diferença no modo de usá-los. Mas essa distinção pode ser vista visivelmente nos estudos de Levinson (2007) que chama o primeiro caso (1) de gestual e o segundo (2) de simbólico. Esses dois modos de usar a dêixis se distinguem porque no gestual o referente está presente no cenário discursivo, porém no simbólico o referente não está presente, por isso o locutor ao dizer, por exemplo, lá nos Estados Unidos da América, terá que pressupor que seu interlocutor tenha conhecimento prévio acerca desse país e de sua localização.

Por tudo isso convém lembrar que a dêixis é um termo da semântica etimologicamente herdada dos gregos que significa apontar, mostrar ou assinalar e, no início, a primeira noção tida por eles de dêixis vinha do uso dos demonstrativos que era como um apontar de dedo. Isso torna os demonstrativos os elementos mais primitivos da dêixis. (cf. Lahud 1979; Lyons 1979). Hoje, além de ser um termo estudado no âmbito da semântica, é também amplamente estudado como um termo ligado à pragmática , e o sentido de dêixis herdado dos gregos se traduz na ação desempenhada pelo falante de apontar ou indicar referentes que estão estritamente conectados ao contexto situacional de fala. O ato de apontar, exercido pelo falante, confere à dêixis duas importantes características que regem o seu funcionamento: o egocentrismo e a subjetividade. Tais características apresentam a existência de um Eu central, de um tempo central e de um lugar central (cf. Lyons 1979; Mateu Vicente 1994; Levinson 2007). Os referentes mostrados pelos falantes estão ligados às categorias de pessoa, de espaço, de tempo e de dêixis social, que indica hierarquia entre os participantes no enunciado. Todavia, a dêixis não se manifesta somente na situação de fala, mas também pode acontecer no ambiente intratextual, no caso da dêixis textual, na qual as categorias de espaço e de tempo são metaforizadas da realidade para o texto. Assim, conforme comentou Levinson (2007), da mesma forma que o falante utiliza, por exemplo, as expressões como o ano passado e na próxima segunda-feira para indicar e medir o espaço-temporal no contexto real de fala, para indicar o espaço-temporal dentro do texto o locutor utiliza expressões como, no parágrafo anterior, no próximo capítulo.

2. A Diferença entre Dêixis e Anáfora no Contexto Situacional

Falando sobre a dêixis em geral, já expusemos no primeiro capítulo o conceito de dêixis como um elemento que é usado para apontar referentes em estreita conexão com a situação de fala. E usando essa definição de dêixis seria fácil diferenciá-la da anáfora, dizendo que anáfora é um termo da gramática, cujos elementos ligados a ela se referem a um antecedente ou antecipam o que será dito (função catafórica). Aprofundando um pouco mais esse conceito, pode-se dizer que anáfora é um termo do grego anapherein, que, traduzido para o Latim, quer dizer refere ou referir, na Língua Portuguesa. Nota-se, na tradução desse termo, a conservação do mesmo sentido etimológico: referir ou retomar algo anteriormente dito. Abordados os conceitos de dêixis e anáfora, se se fizer uma pesquisa histórica, ver-se-á que muitos estudiosos utilizam semelhante pensamento para distinguir esses dois termos. Por exemplo, Apollonios Dyskolos, gramático grego, um dos primeiros a falar a respeito de anáfora, utiliza tais noções para distinguir, entre os pronomes, aqueles que se referem a objeto, no caso a dêixis, e os que remetem ao seguimento do discurso, os anafóricos (Cf. DUCROT & TODOROV, 2001, p.258). Outro estudioso ao empreender tal estudo foi o psicólogo Bühler K. (1950) . Para Bühler, tanto a dêixis quanto a anáfora tem função mostrativa (função fórica), porém, a diferença é que a anáfora não está na categoria de campo mostrativo como os dêiticos, mas está em uma categoria textual ou psicológica, porque quando a anáfora é usada, o referente é transposto do âmbito situacional para o texto se tornando uma entidade real (palavra) ou uma entidade anteriormente mentalizada. Com a elevação da anáfora esse nível psicológico, tanto o emissor quanto o receptor detém completamente a fluência textual, podendo reter ou antecipar suas partes. Dessa forma, quando acontece essa operação mental da situação para o texto envolvendo a anáfora, os dispositivos indexicais, independente de estarem presentes ou ausentes da referência, sugerem que estão fisicamente apontando, embora seja apenas uma operação mental (Cf. MATRAS, 1994). Segundo Matras, esta é a circunstância em que a noção de dêixis muitas vezes colide com a de anáfora . Com essa explicação, que entende-se estar na linha de pensamento de Bühler (1950) e Matras (1994), Levinson (2007), ao notar dificuldades a que podem se sujeitar os analistas ao diferenciar dêixis e anáfora, usa o seguinte esquema para distinguir dêixis e anáfora:

Diferentes usos dos termos dêiticos

1. dêiticos: a. gestual

b. simbólico

2. não dêiticos: c. não anafóricos

d. anafórico

O autor explica, por meio desse esquema, que os usos gestual e simbólico marcam a fronteira entre dêixis e anáfora, muito embora, o próprio autor admita exceções, dizendo que podem acontecer usos simultâneos de dêiticos e anafóricos no texto. Como nos exemplos (LEVINSON, 2007, p. 82) :

(03) Eu nasci em Londres e vivo lá desde então.

(04) Eu cortei um dedo: este.

No exemplo (21), o advérbio lá é simbólico, porque não está apontando Londres, mas apenas se referindo à cidade. Uma vez que, quando o locutor o usa, supõe que seu interlocutor já tenha o conhecimento prévio da localização dela. Além disso, o lá também tem uso anafórico porque está retomando Londres no nível sintático. No exemplo (22), o pronome demonstrativo este tem o uso dêitico gestual, porque aponta o dedo lesionado, e o interlocutor só poderá compreender o gesto por meio de um monitoramento possibilitado pela visão. Ao mesmo tempo, o pronome este tem uso anafórico, pois retoma o substantivo dedo em um nível sintático.

Como se pode ver com as palavras de Bühler (1950), Matras (1994) e agora com o esquema e os exemplos de Levinson (2007) , há um problema declarado quanto à definição de dêixis e anáfora. Por isso, podemos expor o seguinte: existe uma semelhança muito grande no que se refere ao uso simbólico da dêixis e ao uso da anáfora ao retomar uma imagem mental, porque estão em um mesmo nível de abstração , ou seja, o referente de ambas é uma representação mental. Porém, apesar disso, pode-se resolvê-lo da seguinte forma: o uso dos termos é simultâneo, como foi posto por Levinson (2007). Assim, quando o locutor faz o uso simbólico do lá para se referir a Londres, ele já pressupõe que seu interlocutor tem conhecimentos prévios da localização da cidade, ao mesmo tempo, como a cidade de Londres já havia sido ativada pelo discurso do locutor, o lá serviu para fazer a retomada dela. A diferença, portanto, entre o uso desses dois termos, embora estejam em um nível de abstração e sejam usados simultaneamente, deve-se ao fato de a dêixis ser de domínio pragmático, ou seja, o locutor se refere a uma cidade situada em algum ponto do planeta, cuja localização ele pressupõe que seu interlocutor saiba. Do contrário, ao falar a respeito de Londres, ele forneceria ao ouvinte ou ao leitor as devidas explicações acerca dessa cidade. A anáfora está em um nível sintático, ou seja, retoma uma entidade anteriormente dita no discurso (Londres) e ativada na memória, tanto do locutor quanto do interlocutor.

3. A Diferença entre Dêixis Discursiva e Anáfora

Observando essas dificuldades propostas anteriormente, pode-se dizer que elas aumentam quando se trata da dêixis discursiva ou textual em relação à anáfora, pois ao ser transposta da situação de fala para o texto, a dêixis deixa de ser exofórica e passa a ser endofórica, como a anáfora, por isso, veem-se certas complexidades dada a ínfima fronteira que separa esses termos. Pode-se constatar isso no exemplo apresentado por Lyons (1977) apud Levinson (2007, p. 107) com a finalidade de mostrar essa ligação complexa entre essas dois termos:

(05) A: Eu nunca o vi

B: Isso é mentira.

Se se observarem os enunciados, ver-se-á que o pronome demonstrativo isso não aparenta ser anafórico, a não ser que o leitor admita estar retomando enunciado de A. E nem tampouco parece ser um dêitico discursivo, porque não se refere à sentença, mas a afirmação feita. Esse caso é chamado por Lyons (1977) de dêixis impura, e como nessa ocorrência o pronome isso não parece nem dêixis discursiva e nem anáfora, tal pronome torna-se um elemento intermediário, conforme afirmou Levinson (2007) e Cavalcante (2000) apud Lyons (1977).

Falando ainda a respeito dessa relação entre dêixis discursiva e anáfora, além daquilo que já foi abordado a respeito dos pronomes demonstrativos, dos advérbios de lugar e do pronome de terceira pessoa, Levinson (2007) fala sobre expressões da dêixis de tempo e de lugar, tais como: na semana passada, no próximo mês. Tais expressções são metaforizadas da situação discursiva para o texto, da seguinte forma: no capítulo anterior, no próximo capítulo. Assim o autor define tais expressões da dêixis discursiva dizendo que elas

[...] dizem respeito ao uso de expressões num enunciado para fazer referência a alguma parte do discurso que contém esse enunciado (ou ao próprio enunciado). Podemos também incluir na dêixis de discurso várias outras maneiras pelas quais um enunciado assinala sua relação com o texto em que está inscrito, por exemplo, anyway (de qualquer modo) no início da enunciação parece indicar que a enunciação não diz respeito ao discurso imediatamente precedente, mas a um ou mais passos atrás (LEVINSON, 2007, p. 105 – grifo nosso).

Segundo o autor, as expressões da dêixis discursiva fazem parte de um enunciado que retomam partes do discurso em que pode estar contido esse enunciado, ou ainda, essas expressões podem retomar o próprio enunciado (como anáfora). Dessa forma, como tais expressões apontam e ao mesmo tempo retomam um referente, porque não poderia dizer que comportam também a função anafórica, embora Levinson (2007) tenha preferido dizer que são outras maneiras pelas quais tais expressões assinalam sua relação com o texto? Com isso se continua a evidenciar por meio da visão desse estudioso a interrelação entre dêixis discursiva e anáfora. Ainda há outras expressões de dêixis espacial, como aqui, abaixo, acima, e principalmente os demonstrativos este e essa e suas variações conforme Apotlèloz (2003). Observando-se as presentes categorias que auxiliam no funcionamento do texto, vale destacar que a dêixis discursiva tem também a função metatextual, que permite organizar o espaço e o tempo no texto, fazendo com que o leitor se situe nesse ambiente (APOTHÉLOZ, 2003). Nota-se que até o momento tem-se comentado acerca dos pronomes demonstrativos, dos advérbios e dos pronomes de terceira pessoa, além dessas expressões da dêixis discursivas. E em toda a discussão notou-se uma interrelação ou um uso comum entre dêixis discursiva e anáfora em relação a esses elementos, contudo, tem-se ainda o problema como não confundi-los com essas duas classes? Levinson (2007) ao perceber esta complicação propôs o seguinte exemplo, a fim de fazer a diferenciação entre dêixis discursiva e anáfora, e o explicou dizendo:

Harry é um amor; ele é tão atencioso. Herry e ele são correferenciais isto é selecionam o mesmo referente [...]. Em princípio, a distinção é clara: quando um pronome se refere à própria expressão linguística (ou porção do texto), ele é dêitico discursivo; quando um pronome se refere à mesma expressão linguística anterior, é anafórico (LEVINSON, 2007, p. 106).

Nota-se que a fronteira que o autor coloca entre a dêixis discursiva e a anáfora é uma característica da própria anáfora: a correferencialidade, ou seja, dois termos são correferentes quando eles têm a mesma identidade ou quando eles designam o mesmo referente conforme destacou Apotlèloz (2003) e Cavalcante (2000). Acrescenta-se a explicação de Levinson (2007) apenas outra característica da anáfora: a co-significação, ou seja, dois termos são co-significativos quando têm o mesmo sentido (APOTLÉLOZ, 2003). Dessa maneira, no exemplo de Levinson (2007), Harry e ele são correferentes e co-significativos entre si, porém, no exemplo de Apotléloz (2003) pode-se ver que isso nem sempre acontece e, nesse caso, será fácil mostrar que tais características não são suficientes para diferenciar dêixis discursivas e anáfora:

(06) O homem que deu seu salário à sua esposa é mais sábio do que o homem que o deu à sua amante.

Nesse exemplo do autor, nota-se que o pronome o é apenas co-significativo em relação à expressão seu salário, porque para ser também correferencial teria que estar designando essa expressão ou teriam que ter a mesma identidade referencial, o que não se confirma. Assim, como se pôde ver, em um enunciado o elemento anafórico nem sempre será correferente e co-significativo ao mesmo tempo. Isso por si só já é suficiente para dizer que torna difícil colocar uma fronteira entre dêixis discursiva e anáfora usando tais predicados anafóricos. Nesse sentido, se se tomar, por exemplo, a anáfora associativa, ver-se-á que a utilização dessas duas características da anáfora não fará tanto sentido a sua caracterização e, consequentemente, não poderão fazer direfença entre dêixis discursiva e anáfora. Isso porque a anáfora associativa não tem um antecedente explícito. Pode-se ver abaixo um exemplo de anáfora associativa mostrado por Apotlèloz (2003):

(07) Nós chegamos a uma cidade. A igreja estava fechada.

Nota-se nesse exemplo a falta de um antecedente explícito, mas apesar disso tal antecedente é construído mentalmente por meio da noção que todos têm acerca do que existe em uma cidade: uma praça, uma igreja etc. Dessa forma, esse tipo de anáfora, além do exemplo anterior a esse, coloca em xeque a noção de que a correferencialidade ou a co-significação podem caracterizar a anáfora e, além disso, estreitam ainda mais a relação entre dêixis discursiva e anáfora. Isso porque, se essas noções características da anáfora não marcam uma fronteira entre ela e dêixis discursiva, quem poderia negar então que a dêixis discursiva retoma o antecedente também? E, assim continua-se no mesmo percurso de incertezas entre esses dois termos quanto a sua classificação precisa. E essa relação entre eles sugere mais uma aproximação do que um afastamento.

4. Dêixis e Anáfora no Contexto Escolar

Ao fazer a apreciação entre os elementos da dêixis e da anáfora, pôde-se ter uma noção mais ampliada acerca do funcionamento dessas duas categorias, além de suas complexidades. Nesse sentido, pôde-se ver que no contexto situacional do uso da dêixis é possível fazer uma diferenciação entre ela e a anáfora ainda que elas tenham o uso comum dos elementos e sejam usadas aos mesmo tempo, porque a dêixis é pragmática, ou seja, diz respeito aos objetos, eventos ou pessoas na situação extralingüística (exofórica). A anáfora, ao contrário, diz respeito ao nível textual (endofórica). Mas o interessante é que essas duas categorias têm a função fórica, mostrativa, e isso as aproxima.

Essas complexidades podem aumentar principalmente em se tratando de dêixis discursiva e anáfora, pois são endofóricas e a relação entre ambas é muito ínfima. Nesse sentido, como se pôde ver no capítulo dois, mesmo tendo pleno conhecimento da função de cada uma fazer uma diferenciação é quase impossível e, por isso, cultiva-se a ideia de que uma pode ser usada pela outra. Assim, tais relações não sugerem um afastamento dessas categorias, como propuseram alguns estudiosos, mas uma junção entre elas. Mas, fazendo a recuperação dessa discussão anteriormente estudada, qual a importância de se ensinar dêixis e anáfora? Como a dêixis e a anáfora são ensinadas na sala de aula? Qual método os professores usam? Como essa duas categorias estão dispostas no livro didático?

A fim de responde a essas indagações, duas profissionais foram entrevistadas e, pelas palavras dessas professoras de ensino fundamental e médio pode-se ter um panorama da aplicação da dêixis e da anáfora no processo educacional. Por exemplo, quando se perguntou a Merizio (2010) sobre a importância do ensino da dêixis e da anáfora, obteve-se a seguintes respostas: “É mostrar ao aluno que, por exemplo, no caso dos pronomes retos, ele irá estudar tal assunto a partir da função e do emprego concreto na língua, a partir da dêixis” (MERIZIO, 2010, p.1). Nota-se que para Merizio, o uso da dêixis está ligado a concretização do enunciado na língua e mostrar aos alunos isso por meio dos elementos é muito importante. Sobre a anáfora a entrevistada diz: “É o fator que auxilia e fundamenta a coesão textual”. Lembra-se por meio dessa fala que tanto a dêixis quanto a anáfora são elementos coesivos e contribui para que o aluno possa falar ou escrever um texto em cujas ideias estejam mais bem concatenadas. Sobre isso, tem-se o parecer de Marinato (2010) ao responder sobre a importância de se ensinar a dêixis e a anáfora:

O estudo da dêixis tem por função aprimorar as habilidades linguísticas dos alunos. Por meio de uma reflexão e de um estudo de seu uso, os alunos podem ler e escrever de forma mais atenta, sempre observando o contexto que envolve a língua (MARINATO, 2010, p. 1). O estudo da anáfora possibilita o desenvolvimento das habilidades lingüísticas, sobretudo no âmbito da escrita. Além disso, como qualquer forma de estudo da língua, esse conhecimento pode direcionar o aluno ao desenvolvimento do olhar crítico em sua leitura (MARINATO, 2010, p. 2).

Segundo a professora, o ensino essas duas categorias auxilia o aluno no desenvolvimento da produção de textos fazendo-o observar os contextos referenciais a que os elementos gramaticais se referem e, além disso, ajuda o educando a pensar de forma mais crítica ao produzir ou ao ler o texto.

Tendo discutido o parecer das entrevistadas a respeito da importância do ensino da dêixis e da anáfora, é necessário saber qual a importância atribuída ao assunto pelos livros didáticos. Sobre isso, Merizio (2010) disse que se lembra de ter visto o assunto tratado como dêixis em alguns livros do oitavo ano apenas, e tais livros não se aprofundam no assunto, trazendo na maioria das vezes uma explicação a fim de enriquecer o vocabulário do aluno. Ainda, segundo Merizio, outros livros trabalham, as distinções entre dêixis e anáfora e catáfora como apontamentos intra textuais e extra textuais. Nota-se que Merizio (2010) talvez não tenha conseguido organizar todo o conhecimento sobre a dêixis e a anáfora a fim de dar a resposta com mais clareza. Dessa forma, tendo entendido isso, pode-se destacar que o termo dêixis não vem afixado geralmente nos livros didáticos se comparado ao termo anáfora, encontrado em qualquer livro didático, segundo nossas pesquisas. Além disso, em se tratando da dêixis os assuntos podem vir dispostos em variados capítulos do livro didático, por exemplo, a dêixis de pessoas está na parte que trata da classe dos pronomes; a dêixis temporal está na parte que trata de verbos, pois se relaciona às desinências temporais, e dos advérbios; a dêixis espacial está disposta no capítulo em que se trata dos advérbios etc. Dever-se lembrar que os anafóricos são vistos não só na classe dos pronomes pessoais de terceira pessoa, mas também, nos pronomes relativos e oblíquos.

A isso se junta outra particularidade: a do tratamento tradicional que os livros didáticos atribuem ao ensino dessas duas categorias. Sobre isso, Marinato (2010) diz:

Os livros didáticos ainda se orientam pela gramática normativa. O que é privilegiado, então, é o olhar normativo dos elementos lingüísticos, os quais são trabalhados com maior apuro – seus usos, suas funções, fatores extralingüísticos – de maneira secundária. Assim, a palavra dêixis não aparecem nos materiais didáticos; tem lugar o bom e velho pronome (MARINATO, 2010, p. 1). O termo “anáfora” aparece, normalmente, na seção “figuras de sintaxe”, com um conceito estanque. Alguns livros se utilizam de textos literários para discutir o uso desses mecanismos lingüísticos (MARINATO, 2010, p. 2).

Pelas palavras da entrevistada, confirmam nossas pesquisas realizadas em alguns livros didáticos a cerca do assunto, em especial, esta observação a respeito do tratamento formal no ensino da dêixis e da anáfora.

Essa forma tradicional de ensino sugerida pelos livros didáticos faz suscitar a seguinte questão: Como os profissionais trabalham a dêixis e anáfora e quais métodos utilizam? Merizio responde isso dizendo que não ensina a dêixis e nem anáfora de fora isolada, mas vai trabalhando com os elementos linguísiticos a partir do contexto e, assim, explicando o funcionamento desses fenômenos sem usar as terminologias dêixis e anáfora. Pode-se observar que embora os livros didáticos sugiram um ensino tradicional, a professora não se norteia por meio dele, mas faz uso de métodos mais dinâmicos que aliam teoria e prática. Em discordância a Merizio (2010), Marinato (2010) diz:

Sou guiada pelo material que utilizo. Na medida do possível, acrescento novos pensamentos, formas diferentes de se tratar o assunto, com ênfase especial na utilização dessas ferramentas linguísticas em textos literários. Mas trabalho, sobretudo, com a visão que a gramática tradicional tem dos pronomes – em substituição, talvez infeliz, da dêixis. Assim, meus métodos envolvem, primeiramente, a conceituação e o uso dos pronomes (MARINATO, 2010, p. 1).

Nessa citação, Marinato afirma a importância do livro didático como um guia para o professor, mas ela destaca que não usa totalmente a metodologia deles, procurando inovar sempre que possível. Segundo a profissional, ela costuma trabalhar com os alunos partir de textos. Essa atitude é importante porque faz com que o educando tenha uma noção do texto como um todo conjunto. E a partir disso, ela analisa a recorrência dos termos dêiticos e anafóricos e suas funções dentro do texto.

Nota-se que as profissionais de educação utilizam para ensinar dêixis e anáfora métodos diferentes: o tradicional sugerido pelos livros didáticos, e também métodos mais práticos e dinâmicos. Mas qual o aproveitamento dos alunos em relação aplicação de tais métodos? Marinato (2010) responde essa pergunta da seguinte forma:

Os alunos de Ensino Médio têm mais facilidade em compreender e pensar sobre essas ferramentas da linguagem, mas ainda com muita limitação. Eles passam toda a vida absorvendo modos tradicionais de ver a língua, e mudar essa concepção já no fim da vida escolar é bastante difícil. Para os alunos de ensino fundamental o assunto é ainda mais complexo. Entretanto, a dêixis é um fato lingüístico de que todo o falante se apropria a todo momento. Parece muito simples. Mas fazer os alunos pensarem sobre esse fenômeno é extremamente complicado. Por outro lado, a compreensão da descrição normativa do fenômeno não é tão dificilmente apreendida, já que, nesse caso, a língua é reduzida a fórmulas. Assim, por esse ponto de vista a dêixis não é um fenômeno complexo, mas apenas uma pequena parte do estudo da língua (MARINATO, 2010, p. 2).

Marinato (2010) diz que os alunos de ensino médio têm maior facilidade em aprender as noções de referenciação dêitica e anafórica por meio dos métodos que emprega, embora se sintam às vezes desconfortáveis com tais métodos. Isso acontece segundo a entrevistada porque os alunos estão acostumados com os métodos tradicionais e isso é algo histórico. Com isso, entende-se que o modelo tradicional é algo que perdura e é muito difícil mudar essa realidade, porque para que isso mude seria necessário alterar toda uma estrutura social. Marinato (2010) diz ainda, que os alunos do ensino fundamental, se comparados aos do ensino médio, a dificuldade no aprendizado é muito maior no sentido de fazê-los entender as categorias de pessoa, de espaço e de tempo. E, nesse caso, tanto o método tradicional quanto o método mais práticos contribuem.

Merizio (2010) ao enfatizar o uso de métodos mais práticos, afirma que não se prende as nomenclaturas dêixis e anáfora ao ensinar essas duas categorias e, dessa forma, percebe que seus alunos entendem e compreendem bem as noções de tempo e de espaço na maioria das vezes. Mas crítica os livros didáticos pelos tipos de perguntas e de questões formuladas que não aproveitam os conhecimentos do aluno. Assim, é por isso que é sempre necessária sua intervenção com os métodos práticos.

Pelos estudos empreendidos até o presente momento somados as declarações dessas profissionais de educação, conclui-se que o professor precisa estar sempre preparado criticamente para executar seu trabalho. Deve também dominar os métodos pedagógicos para saber adequar os meios aos fins. Em um assunto como a dêixis, por exemplo, o professor deve entender que estará ensinando aos alunos o vocabulário. E, nesse caso, os educandos já trazem consigo um farto conhecimento, além das noções de significação e de abstração. Dessa forma, o professor, como um mediador, poderá se utilizar disso para despertar o conhecimento dos alunos fazendo-os progredir e atingir níveis mais autos de conhecimento.

Referências

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BENVENISTE, Émile. Problemas de lingüística geral I. 4ª Ed. São Paulo: Pontes, 1995.

______. Problemas de lingüística gera II. São Paulo: Pontes 1989.

BÜHLER, K. Teoría des Lenguaje. Madrid: Revista de Occidente, 1950.

CAVALCANTE, M. M. Expressões indiciais em contexto de uso: por uma categorização dos dêiticos discursivos. 2000. 212 f. Tese (Doutorado em Lingüística) – Programa de Pós-graduação em Letras, Universidade Federal do Ceará, Recife, 2000.

______. A Construção do Referente no Discurso. Facículo 7 do Curso de Formação Continuada de Professores da Rede Pública; Universidade Aberta do Nordeste – Fundação Demócrito Rocha – Fortaleza, 2003.

MARINATO, A. C. LIMA. Ensino da dêixis e da anáfora a alunos do ensino fundamental e médio. Entrevista concedida a Leandro F. Menezes para confecção de monografia, Vitória, 15 de jun. 2010.

MATRAS, Yaron. Dêixis and deictic oppositins em discurse: evidence fron romani. Jornal of Pragmatics. 1998, n. 29. p. 393-428.

MERIZIO, J. Ribeiro. Ensino da dêixis e da anáfora a alunos do ensino fundamental e médio. Entrevista concedida a Leandro F. Menezes para confecção de monografia, Vitória, 14 de jun. 2010.

LAHUD, Michel. A propósito da noção de dêixis. São Paulo: Ática, 1979.

LEVINSON, Stephen C. A. dêixis. In.: ______. Pragmática. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

LYONS, John. Semântica Vol. I. São Paulo: Martins Fontes. 1980.

VICENTE MATEU, J. A. La Deixis: egocentrismo y subjetividad en el lenguaje. Universidad de Murcia: Secretariado de publicaciones e intercambio científico, 1994.

APÊNDICE

Apêndice A – Entrevista sobre dêixis e anáfora 1

QUESTIONÁRIO SOBRE O ENSINO DA DÊIXIS E DA ANÁFORA A ALUNOS DE ENSINO FUNDAMENTAL OU DE ENSINO MÉDIO

Nome do Professor (a): Jacimara Ribeiro Merizio

Nível de graduação: graduada em Letras-português

Escola em que trabalha: Colégio Samaritano / Colégio Castro Alves

Data: 14/06/2010

Perguntas sobre a dêixis:

1) A dêixis é um termo oriundo da semântica mais conhecido pelos professores e pouco comentado nos livros didáticos de forma direta, sendo assim, você saberia conceituar a dêixis?

R: De uma maneira geral, sem se apegar em correntes teóricas entendo dêixis como o fenômeno de apontamento que determinados elementos linguísticos proporcionam aos falantes. É o apontar com o dedo.

2) Para você, qual a importância de ensinar a dêixis?

R: É mostrar ao aluno que, por exemplo, no caso dos pronomes retos, ele irá estudar tal assunto a partir da função e do emprego concreto na língua, a partir da dêixis.

3) Que tratamento os livros didáticas adotados por você oferecem ao ensino da dêixis?

R: Pelo que me lembro, apenas alguns livros da 8ª série. Entretanto os livros não se aprofundam no assunto. Para uma explicação a fim de enriquecer o vocabulário do aluno.

4) Quais os métodos que você usa para ensinar a dêixis?

R: Não ensino dêixis isoladamente. Vou trabalhando com os elementos linguísiticos a partir do contexto e, assim, explicando o funcionamento desses fenômenos às vezes sem dizer o nome “dêixis”.

5) Não acho que os alunos compreendem facilmente as noções de referência de pessoa, de espaço, de tempo e aquelas que são mais conceituais como a dêixis discursiva. Como seus alunos reagem ao seu método de ensino, eles conseguem entender com facilidade a noção de referência desses tipos de dêixis?

R: Não me prendo à nomenclatura, percebo que entendem o funcionamento muitas vezes, o aluno compreende bem as noções de tempo e de espaço, mas são os tipo de perguntas dos livros didáticos que não sabem aproveitar esse conhecimento do aluno.

Perguntas sobre a anáfora:

1) A anáfora é um termo mais utilizado na escola se comparado a dêixis. Dessa forma, como você conceitua a anáfora?

R: Anáfora é o processo intratextual pelo qual um elemento linguístico faz referência a um termo dito anteriormente no texto.

2) Qual a importância do ensino da anáfora?

R: É o fator que auxilia e fundamenta a coesão textual.

3) Quais métodos de ensino você usa?

R: Mesma resposta da pergunta 4 sobre os dêiticos.

4) Como os livros didáticos consideram o assunto?

R: Trabalham, na maioria das vezes, as distinções entre dêixis e anáfora e catáfora como apontamentos intra textuais e extra textuais.

5) Considero a anáfora um assunto mais simples de ensinar se comparado a dêixis. Você observa uma facilidade nos alunos na referência anafórica?

R: Depende da série e do aluno.

Pergunta comum a dêixis e a anáfora:

1) Os alunos têm dificuldade em classificar dêixis e anáfora, uma vez que os elementos gramaticais são praticamente os mesmos?

R: Acho que o grande problema (confusão) é a diferença entre apontamento intra textuais e intertextuais. Isso os alunos confundem muito.

Apêndice B – Entrevista sobre dêixis e anáfora 2

QUESTIONÁRIO SOBRE O ENSINO DA DÊIXIS E DA ANÁFORA A ALUNOS DE ENSINO FUNDAMENTAL OU DE ENSINO MÉDIO

Nome do Professor (a): Ana Carla Lima Marinato

Nível de graduação: Graduada em Letras-português

Escola em que trabalha: CEPC – Centro Educacional Praia da Costa

Data: 15/06/2010

Perguntas sobre a dêixis:

1) A dêixis é um termo oriundo da semântica mais conhecido pelos professores e pouco comentado nos livros didáticos de forma direta, sendo assim, você saberia conceituar a dêixis?

R: De acordo com meus estudos universitários e em termos bastante sintéticos, dêixis é uma forma referencial de se usar nomes, como uma substituição a um ser que é, em tese, extralingüístico.

2) Para você, qual a importância de ensinar a dêixis?

R: O estudo da dêixis tem por função aprimorar as habilidades lingüísticas dos alunos. Por meio de uma reflexão e de um estudo de seu uso, os alunos podem ler e escrever de forma mais atenta, sempre observando o contexto que envolve a língua.

3) Que tratamento os livros didáticas adotados por você oferecem ao ensino da dêixis?

R: Os livros didáticos ainda se orientam pela gramática normativa. O que é privilegiado, então, é o olhar normativo dos elementos lingüísticos, os quais são trabalhados com maior apuro – seus usos, suas funções, fatores extralingüísticos – de maneira secundária. Assim, a palavra dêixis não aparecem nos materiais didáticos; tem lugar o bom e velho pronome.

4) Quais os métodos que você usa para ensinar a dêixis?

R: Sou guiada pelo material que utilizo. Na medida do possível, acrescento novos pensamentos, formas diferentes de se tratar o assunto, com ênfase especial na utilização dessas ferramentas lingüísticas em textos literários. Mas trabalho, sobretudo, com a visão que a gramática tradicional tem dos pronomes – em substituição, talvez infeliz, da dêixis. Assim, meus métodos envolvem, primeiramente, a conceituação e o uso dos pronomes.

5) Não acho que os alunos compreendem facilmente as noções de referência de pessoa, de espaço, de tempo e aquelas que são mais conceituais como a dêixis discursiva. Como seus alunos reagem ao seu método de ensino, eles conseguem entender com facilidade a noção de referência desses tipos de dêixis?

R: Os alunos de Ensino Médio têm mais facilidade em compreender e pensar sobre essas ferramentas da linguagem, mas ainda com muita limitação. Eles passam toda a vida absorvendo modos tradicionais de ver a língua, e mudar essa concepção já no fim da vida escolar é bastante difícil. Para os alunos de ensino fundamental o assunto é ainda mais complexo. Entretanto, a dêxis é um fato lingüístico de que todo o falante se apropria a todo momento. Parece muito simples. Mas fazer os alunos pensarem sobre esse fenômeno é extremamente complicado. Por outro lado, a compreensão da descrição normativa do fenômeno não é tão dificilmente apreendida, já que, nesse caso, a língua é reduzida a fórmulas. Assim, por esse ponto de vista a dêixis não é um fenômeno complexo, mas apenas uma pequena parte do estudo da língua.

Perguntas sobre a anáfora:

1) A anáfora é um termo mais utilizado na escola se comparado a dêixis. Dessa forma, como você conceitua a anáfora?

R: Para a lingüística, anáfora é uma forma de se fazer referência intratextual, por meio da substituição de um nome por um termo que o represente.

2) Qual a importância do ensino da anáfora?

R: O estudo da anáfora possibilita o desenvolvimento das habilidades lingüísticas, sobretudo no âmbito da escrita. Além disso, como qualquer forma de estudo da língua, esse conhecimento pode direcionar o aluno ao desenvolvimento do olhar crítico em sua leitura.

3) Quais métodos de ensino você usa?

R: Costumo partir de textos, para que se possa ancorar em uma noção de conjunto. A partir daí, analisamos a recorrência de termos anafóricos e suas funções dentro do texto.

4) Como os livros didáticos consideram o assunto?

R: O termo “anáfora” aparece, normalmente, na seção “figuras de sintaxe”, com um conceito estanque. Alguns livros se utilizam de textos literários para discutir o uso desses mecanismos lingüísticos.

5) Considero a anáfora um assunto mais simples de ensinar se comparado a dêixis. Você observa uma facilidade nos alunos na referência anafórica?

R: Sim. Certamente, compreender o uso de termos anafóricos em um texto não é tarefa tão árdua. Entretanto, utilizar esses recursos na escrita é algo que passa ao largo das preocupações dos estudantes. Dessa forma, o estudo acaba não cumprindo plenamente seu objetivo.

Pergunta comum a dêixis e a anáfora:

1) Os alunos têm dificuldade em classificar dêixis e anáfora, uma vez que os elementos gramaticais são praticamente os mesmos?

R: Essa diferenciação á feita, normalmente, de maneira inconsciente, já que esses termos são pouco utilizados no ambiente escolar. Porém, é difícil mostrar para o aluno que o pronome “ele”, em uma oração fora de contexto, não possui um referencial nominal e que, portanto, exerce uma função ilusória. Envolver a abstração, especialmente em termos lingüísticos, torna-se, muitas vezes, um ato bastante penoso para os alunos.