Casa Familiar Rural: uma Escola Diferente

A Casa Familiar Rural (CFR) teve origem na França, em 1937, por iniciativa de um grupo de famílias do meio rural, com intuito de mudar o histórico de falta de atenção dos governos para com os trabalhadores rurais que não estavam satisfeitos com modelo de Educação daquela época.

Muitas famílias resistiam em colocar seus filhos nas Escolas, pois dependiam da mão-de-obra deles para manter sua produção. Por outro lado, sem deixar que seus filhos freqüentassem as Escolas em longo prazo as famílias também perdiam, pois não conseguiam adquirir mais conhecimentos para melhorar sua renda.

Por isso, surgiu a proposta de uma Escola diferente, por meio da adoção de uma formação profissional que atendesse a realidade dos moradores do campo, permitindo uma “Alternância” entre trabalho e aprendizado. Assim, a proposta pedagógica da Casa Familiar Rural se pautava na integração do aprendizado em sala de aula com as atividades produtivas do campo.

Essa idéia deu tão certa que de lá pra cá esse modelo da Casa Familiar Rural se espalhou por vários países.

Em 1987, o processo de implantação das Casas Familiares Rurais iniciou no Brasil no estado do Paraná, nos municípios de Barracão e Santo Antônio do Sudoeste. Em seguida, surgiram outras unidades nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Em 1998, as Casas Familiares Rurais passaram a integrar as ações do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), possibilitando que esse modelo inovador de Escola se espalhasse por todas as Regiões do país.

Vale destacar que há uma grande diferença entre gestão das Escolas ditas tradicionais, que são administradas pelo Poder Público ou por empresários, e a Casa Familiar Rural que é administrada localmente por uma Associação formada pelas famílias dos jovens que freqüentam a Escola. O Conselho de Administração eleito pela Assembléia Geral representa os membros da comunidade e faz a sua direção administrativa e orçamentária.

Em nível estadual, a Associação Regional da Casa Familiar Rural (ARCAFAR) organiza o apoio no que se refere à “Pedagogia da Alternância”, através da capacitação dos monitores, professores e membros da Associação local.

Em nível federal, a CFR está vinculada à Confederação Nacional das Associações das Casas Familiares Rurais do Brasil (CONACAFARB), que articula parcerias e busca a troca de experiências por meio da disseminação de ações e resultados.

A Associação local mantém a CFR, através de um sistema de parceria com diversas entidades, como por exemplo, as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e Agricultura. Além do apoio institucional, cada família do jovem estudante contribui, trazendo o que se produz em sua propriedade para sua própria alimentação.

Em geral, a duração das atividades na Casa Familiar Rural é de três anos (o equivalente ao 2º Grau), em regime de internato, com a adoção do método de “Alternância” em que os jovens passam períodos alternados, sendo duas semanas na propriedade, no meio profissional rural, e uma semana na Escola.

Uma equipe de monitores, ligados as áreas de Ciências Agrárias e Economia Doméstica, entre outras, é responsável pela organização, pela dinamização das atividades docentes, e pela elaboração, em conjunto com os pais da Associação da Casa Familiar Rural e entidades parceiras, de um “Plano de Formação”, sempre respeitando o calendário agrícola local. Os monitores têm apoio técnico e pedagógico das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e Agricultura.

No período que corresponde a uma semana na Casa Familiar Rural, os jovens colocam com ajuda dos monitores os problemas e demais situações levantadas na realidade, buscando novos conhecimentos para compreender e explicar os fenômenos científicos. Nessa fase, o aluno recebe aulas de Português, Matemática, Ciências da Natureza, aulas práticas de piscicultura, agricultura, preparo de hortas, manejo de pequenos animais domésticos, entre outras atividades. Depois ele leva o conhecimento para o seu local, a fim de desenvolvê-lo junto ao ambiente onde mora.

Durante as duas semanas na propriedade ou no meio profissional, o jovem realiza um Plano de Estudo, discute sua realidade com a família, com os profissionais locais e provoca reflexões, planeja soluções e realiza experiências na sua realidade, disseminando assim novas técnicas nas comunidades. A idéia central dessa “Alternância” é que o aluno aprenda na sala de aula e imediatamente coloque em prática na sua comunidade.

Outro diferencial do processo de ensino-aprendizagem da Casa Familiar Rural trata-se do acompanhamento que os monitores dedicam aos alunos, que se dá por meio de visitas regulares às residências durante os períodos de alternâncias. Tudo isso, cria um laço de integração entre a Escola, o estudante e sua família.

Nesses mais de 20 anos de experiências acumuladas pelas Casas Familiares Rurais brasileiras é visível a enorme contribuição que esse modelo inovador de Escola trouxe para a realidade de centenas de comunidades rurais, especialmente nas localidades de mais difícil acesso como ocorre com freqüência nas Regiões Norte e Nordeste.

É gratificante ver que a Casa Familiar Rural tem se mostrado como um excelente espaço para formação integral dos jovens da zona rural, trazendo conhecimentos técnicos e científicos adequados a sua realidade, permitindo melhorias significativas na qualidade de vida e na auto-estima do homem do campo.

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Publicado no Jornal Mesa de Bar News, edição n. 411, p. 15, de 29/04/2011. Gurupi - Estado do Tocantins.

Giovanni Salera Júnior

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Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 27/03/2011
Reeditado em 01/12/2011
Código do texto: T2872871
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