Os genéricos do amor
O amor, quando verdadeiro, não se interrompe. Não existe ser humano capaz de desligar esse interruptor. Não sem muito sofrimento. O que nos ilude, muitas vezes, é que nos vendem coisas parecidas com o amor. Há empatia, simpatia, admiração, carência afetiva, auto-afirmação. Há até a falta do que fazer. Mas, dentre todos os perigos aos quais está exposto o nosso coração, o mais devastador é quando nos fazem tomar do amor genérico.
O genérico do amor está por aí, em cada esquina, em cada virar de olhos, em cada poesia lançada aos quatro ventos. A bula é igual, a dose é a mesma, a embalagem criativa, o sabor às vezes até mais açucarado. Ao contrário do verdadeiro, que nos deixa na boca o mel e o fel, que altera o nosso cheiro, se embrenha pelos poros e chega ao nosso DNA, para dali em diante nunca mais sermos o que fomos antes dele. Estejamos onde estivermos e com quem estivermos ele estará lá, porque não há modo de desligarmos nossas artérias e permanecermos vivos.
O genérico do amor é danoso porque tem o brilho da coisa nova. Tem a leveza do encanto. (Do canto das sereias). A diferença é que ele evapora mais rapidamente e, ao evaporar, destrói o nosso sistema imunológico. Deixa-nos graves efeitos colaterais, como, por exemplo, a saudade da coisa vazia. E não existe pior seqüela que a saudade do que poderia. Bem diferente da saudade do amor curtido, que mesmo lavando os olhos, nos faz companhia.
Mas, cuidado, que até a saudade tem seus genéricos. Um deles até conheço: o amor-próprio ferido, que em tudo a ela se assemelha, no escuro. Até que nova luz se acenda.
Não que todo genérico seja ruim, pois na falta do nada o pouco sempre ajuda. Mas, se pretendemos evitar falsificações, nada melhor que a vacina de uma boa dose de auto-estima.
Dedicado a todos que tiveram seus interruptores danificados devido ao mau contato de fios baratos.