PAIXÃO: BURRICE, SANDICE OU ESTADO DE GRAÇA?
O assunto do meu presente debate não é fácil de ser ensaiado.
A princípio meu propósito era, ao invés de PAIXÃO, falar do AMOR, porém, como o tal sentimento "amoroso" é muito nobre e, digamos, não "conceituável", acho que é mais fácil falar da paixão, algo mais científico, com bases biofarmacológicas "crono" delimitadas.
Sempre que escrevo tenho inspirações, e desta vez duas musas inspiradoras me movimentam os dedos, as personagens de Gilberto Braga, Norma (Glória Pires) e Natalie (Débora Secco), ambas da novela global da noite, a INSENSATO CORAÇÃO.
Pois bem, venho observando a mensagem que o autor tenta discutir ali,através de duas belas e aparentemente bem "antagônicas" mulheres, aliás discussão deveras interessante.
Norma, uma técnica de enfermagem, mulher madura, desgastada pela vida sofrida, sozinha, carente e batalhadora entra num "barco furado" dum amor bandido, rapidamente seduzida pela astúcia dum jovem e belo príncipe encantado que apaixonadamente bate à sua porta na escusa intenção de lhe furtar o dinheiro do seu patrão, uma grande quantia que era guardada em casa.
Depois de descobrir o furto e a humilhação pela qual passaria com o falso apaixonado, Norma vai para o "xilindró", em nome da sua devoção ao príncipe dos seus sonhos, acusada pelo tal furto.
Natalie, uma bela jovem com pretensão a modelo, tenta entrar no sonhado e difícil mundo, porém, enquanto tenta a sorte na futura carreira, usufrui de seus dons femininos para seduzir qualquer príncipe mais predisposto a se encantar , bem como a deslizar em certos prazeres da carne, para assim se dar bem na vida.
O interessante do personagem de Norma é que ela é uma "piriguete" ética, quer um homem livre, porém, não esconde dos homens a sua intenção de ascender social e financeiramente sem nenhum esforço, para levar uma vida de dondoca.E ama a muitos...do dia para a noite numa velocidade assustadora.
Encanta-se e deslumbra-se com a beleza à sua volta e com o luxo que o dinheiro do seu "amor" poderia lhe proporcionar.
Acredita, de fato, que vai encontrar alguém que , por sentimento, a eleve ao maior e definitivo patamar da vida fácil.
Aliás, sinto este personagem um dos pontos altos da novela, posto que nos passa fielmente a psicologia humana feminina, (e por conseguinte a masculina também!) muitas vezes tão simplória, a ponto de acreditar que a paixão dum homem possa lhe garantir o sucesso pessoal e a felicidade da vida emocional para todo o sempre.
Todavia, o mérito deste meu ensaio é justamente comparar o feminino das duas personagens, que embora pareçam muito diferentes, são exatamente iguais: movidas pelos sonhos e pelas ilusões dum amor (ou duma paixão?) incondicional e para toda a vida, o famoso "Complexo de Cinderela".
O universo feminino, de fato, é muito complexo, e observem, adentrá-lo não depende da eficiência das previsíveis travas da sua "idade cronológica".
Dependendo das frestas é tão fácil seduzir uma ingênua adolescente sonhadora quanto uma "vivida" e séria mulher madura.
Cabe aos homens mais astutos o treino para conhecer o "feminino", suas angústias, suas expectativas sonhadoras e suas frustrações...e obviamente a arte de, muitas vezes, manipulá-lo ao bel prazer.
Quanto mais frágil o tal universo, mais portas se abrirão aos sonhos...e aos invasores desconhecidos.
Gilberto Braga ali se aproveita para também discutir os homens da nossa sempre e atual sociedade machista: suas necessidades e também inseguras fragilidades, suas trapaças e objetivos quase sempre não muito claros quando a intenção primordial é a de colecionar conquistas e troféus femininos.
Ocorre que, às vezes, o tiro machista pode sair pela culatra, porque os mistérios da paixão e principalmente do amor nunca são desvendáveis, senão não seriam tão grandes mistérios.
O que muitas vezes começa como uma simples brincadeira masculina poderá assumir proporções devastadoras, sem caminhos de volta.
Esperemos pelos desfechos e pelos merecidos "castigos" que Gilberto dará aos seus personagens, enquanto isso, digo que o autor nos tem feito pensar, chorar...e rir muito com a maneira pela qual discute a tão surpreendente psicologia humana, seja ela feminina ou masculina.
Se a paixão é burrice, sandice ou estado de graça apenas nossos personagens de vida poderão conceituá-la.
Vinicius de Moraes, o GRANDE "poetinha" apenas nos advertiu: "que seja ela eterna enquanto dure..."
Já o amor, poderia ele desafiar a relatividade do tempo?
Talvez seja este o divisor diferencial entre as poéticas definições de amor e de paixão. Ou seria esta uma proposição cantada em verso de Cinderela?
O fato é que muitas vezes rimos da própria sorte, e deste fato, acreditem, ninguém escapa.
É mera questão de tempo.