A GRANDE ILUSÃO (Celismando Sodré Farias- Mandinho)

A GRANDE ILUSÃO

( Celismando Sodré Farias- Mandinho)

Por mais que o ser humano queira desenvolver o conceito de desigualdade, a idéia de que um é melhor e merece mais do que outro, a vida insiste em mostrar que, num sentido mais profundo e essencial, somos iguais mesmo com nossas diferenças. Quando ouço esta música que serviu como um hino contra o regime autoritário do período militar, em que as liberdades e os direitos humanos foram violados de todas as formas, inclusive com a barbárie do uso da tortura, da prisão e da perseguição. Fico comovido com sua poesia e não consigo entender porque alguns insistem na ignorância e na intolerância. Por esta canção, principalmente, e por outras, Geraldo Vandré foi exilado e violado barbaramente, sem qualquer respeito ao seu livre direito de expressão, provocando em seu psíquico traumas inimagináveis. Como podem existir pessoas que vivem para praticar a violência em todos os sentidos. Que não conseguem se sensibilizar diante de uma realidade tão óbvia, que é a de que todos somos iguais “braços dados ou não”. Os versos que mais me tocam são estes:

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais, braços dados ou não

Nas escolas, nas ruas, campos, construções

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos a fome em grandes plantações

Pelas ruas, marchando indecisos cordões

Ainda fazem da flor seu mais forte refrão

E acreditam nas flores vencendo os canhões

Há soldados armados, amados ou não

Quase todos perdidos com armas na mão

Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição

De morrer pela pátria e viver sem razão.

( Geraldo Vandré)

O preconceito e a discriminação geram a intolerância que provoca a explosão do ódio racial, social e ideológico, fazendo com que algumas pessoas desenvolvam o conceito de superioridade. O comportamento do desprezo e a boçalidade fazem parte dos principais entraves para uma convivência harmônica e sadia entre os seres humanos e os diferentes povos.

Tal conceito de superioridade cultural e étnica, tem provocado genocídios, violências, torturas e distúrbios sociais diversos na história da sociedade humana. Na América, povos nativos foram explorados e desprezados; na África foram escravizados e humilhados; na Ásia foram submetidos a um cruel domínio colonial; os judeus foram considerados corruptos e inferiores pelo nazismo comandado por Hitler, gerando um dos maiores extermínio, com o infame holocausto. Em todas as épocas históricas, em todos os espaços geográficos, alguns, ilusoriamente sempre se acharam melhores e mais merecedores do que outros.

Num tempo em que se fala tanto em respeito a pluralidade e a diversidade cultural, alguns ainda pensam que estão num degrau de superioridade com relação aos demais, racionalizam seus privilégios como se fosse normal e vivem de queixo erguido, cheios de empáfia e arrogância, olhando os outros de cima para baixo, de um falso patamar superior, como se não morressem e virassem comida para os vermes, como se não produzissem excrescências e fluídos mau cheirosos e incômodos do mesmo jeito que todos. Não conseguem perceber a igualdade natural dos homens demonstrada claramente na coerência e na justiça da morte.

Tais hipocrisias, que acometem a quase todos em maior ou menor grau. Em alguns de forma disfarçada, em outros de forma doentia, subverte valores de uma maneira que diante de uma análise mais apurada, provocam comportamento ridículos através de hábitos e costumes repletos de um esnobismo que beira a irracionalidade, tornando-os escravos de um sistema corrupto, falso e exclusivamente materialista. Para estes, o sujeito passa a valer mais pelo que tem, pela fama e pelo prestígio efêmero, do que pela bondade no coração, pela solidariedade para com o próximo e pelo o amor. Eles desenvolvem idéias injustificáveis fundamentadas na coloração da pele, na riqueza financeira, nas características físicas, nas diferenças culturais, no status ou posição, fazendo-os classificar os homens através de critérios ilógicos e incoerentes.

Tais relações fundamentadas nestes critérios são tão falsas, que elas não perduram ao longo do tempo, porque elas são voláteis e fúteis. Quando o sujeito está nas últimas, rememorando seus comportamentos e fazendo um balanço de sua existência, apenas os poucos e verdadeiros amigos estão do seu lado, geralmente a família, e aqueles que não davam a mínima importância a idéia da suposta superioridade que ele pregou e defendeu durante toda a sua ilusória vida, onde mais separou do que uniu, onde mais odiou do que amou.

MANDINHO
Enviado por MANDINHO em 16/03/2011
Código do texto: T2851406