MAIS UM CARNAVAL
Todos os povos tinham uma grande preocupação com a continuidade do reino e do povo em si. As guerras, os perigos naturais, os inimigos de um modo geral sempre ameaçaram uma tribo, ou um grupo social. A fertilidade era assunto de festas e rituais, assim como as colheitas. Se um se preocupava com a continuação da herança a outra o fazia em relação à nutrição. Boa colheita significava comida farta.
Dizem que a origem do carnaval também seria de rituais em busca de procriação a exemplo da dança da fertilidade e outros rituais de acasalamento. Alguns povos tinham rituais mais sofisticados, outros mais grosseiros, porém o pano e fundo sempre foi a fertilização. Histórias que se perdem na memória e registros pouco precisos nos levam a especulações cuja fidelidade nem sempre é comprovável.
O que se sabe é que o termo Carnaval vem do grego Carnis Valles, que significa “prazeres da carne” e ganhou muita força na Roma onde era festejado por sete dias no período de dezembro com direito à suspensão das atividades econômicas e uma liberação da moral. Escravos eram liberados temporariamente para que todos pudessem brincar durante o carnaval. Muito mais tarde a cidade de Paris organizou carnavais cujos modelos foram exportados para o mundo ganhando força especial no Brasil.
Muitos atribuem erroneamente a origem do carnaval à Igreja Católica. O que há de verdade nisso é que ela determinou a data dos festejos. A festa máxima da cristandade é a ressurreição de Jesus, que por conveniência foi associada à festa da Páscoa que já havia muito antes disso. Durante o período de quarenta dias que antecede a Páscoa, a chamada Quaresma, nenhuma manifestação de alegria era permitida. Por isso, toda a atividade festeira terminava na terça feira à meia-noite, uma vez que depois vinha a quarta feira de cinzas que marca o início da Quaresma. Embora já tenham decorridos cerca de um mil anos desde a fixação da data ainda há locais, inclusive no Brasil, onde isso é observado.
O Carnaval no Brasil movimenta uma economia gigantesca. Embora não esteja escrito em nenhuma lei que a terça feira de carnaval seja feriado, ele é obedecido religiosamente como se fosse. Oficializado pelo costume, foi ignorado pelos legisladores. Embora tenha se transformado num feriado prolongado, com a atividade industrial e bancária parada, a indústria do turismo e da arte fatura muito com a festa. O número muito grande de pessoas e atividades reunidas criou a profissão do carnavalesco.
A primeira vista parece muito pensar que há toda uma indústria girando em torno de uma única apresentação pública. Qual atletas que treinam anos a fio para se apresentarem em uma única competição, também os carnavalescos trabalham o ano inteiro para fazer bonito na avenida ou nos sambódromos criados neste Brasil para atender principalmente a festa. Há quem considere desperdício tudo que não se refira à produção ou à promoção humana. Para estes sempre sobra a oportunidade de utilizar o feriado para gozar de férias intermediárias e deixar que outros se cansem com a folia.
Contudo, há pessoas que são sérias durante o restante do ano e no carnaval se tornam irreconhecíveis. A estes, devemos dar as nossas congratulações. Quem trabalha no carnaval são os carnavalescos. A maioria da população brasileira aproveita o período para sair do sério e fazer brincadeiras que somente são “permitidas” no Carnaval.
Luiz Lauschner
lauschneram@hotmail.com