Água: patrimônio da humanidade - II

Conforme tratado na edição anterior, a água deve ser valorizada pela sua importância como elemento indispensável à vida e pelo seu considerável papel nas inúmeras atividades humanas.

Nós devemos considerar também que a água apresenta um rico valor simbólico, estando presente em diversas tradições e costumes de inúmeros povos.

É justamente sobre o valor simbólico da água que trata o presente texto.

No Hinduísmo, principal religião da Índia, é costume das pessoas tomarem banho logo nas primeiras horas da manhã. Esse banho deve ocorrer, preferencialmente, nas águas de um rio ou riacho próximo à residência. Caso não exista nenhum, pode ser em um local mais acessível, como por exemplo, o chuveiro ou uma piscina. Os hindus acreditam que tais banhos os santifiquem, aproximando-os das suas inúmeras divindades.

O Candomblé é um sincretismo de tradições católicas com influências de religiões africanas e tem na sua mais conhecida entidade espiritual - Iemanjá - uma forte relação com as águas salgadas do mar. Isso pode ser visto nos rituais que ocorrem nas praias litorâneas e nas diversas oferendas colocadas em pequenas embarcações e deixadas a beira mar.

Como outro exemplo bem próximo de nós, podemos citar a presença da água no Cristianismo. Entre as principais liturgias do Cristianismo tem-se o batismo com água – simbolizando o novo nascimento para uma vida a serviço de Cristo.

Vemos também que entre inúmeros povos indígenas a água possui um valor de destaque. O maior grupo indígena de nosso Estado, os Karajá, apresentam uma estreita relação com as águas do rio Araguaia. Segundo sua lenda, no princípio os Karajá viviam nas profundezas das águas do Araguaia, em aldeias subaquáticas, juntamente com os peixes e tartarugas. Num certo dia, eles resolveram sair das águas para habitarem as margens dos rios Araguaia e Javaés. Mas, como aqui encontraram a morte, alguns não quiseram sair e permaneceram nas profundezas, transformando-se em índios especiais, denominados de Aruanãs e Worysy (pronuncia-se uorãsã). Atualmente, os Karajá mantêm uma estreita relação com esses seres mágicos das profundezas, através de seus principais rituais místicos, a Festa dos Aruanãs e o Hetohoky. Por ser o rio Araguaia o local de origem mística dessa etnia, eles mantêm um enorme carisma e respeito por suas águas e pelos diversos animais e plantas ali presentes.

O que ocorre muitas vezes é que deixamos de enxergar a água como algo sagrado, deixado por Deus para que dela desfrutássemos com responsabilidade. Dessa forma, passamos apenas a enxergá-la e a tratá-la como um bem de valor econômico descartável, o que explica grande parte de nossas ações desrespeitosas contra os recursos hídricos e contra meio ambiente em geral.

Vale lembrar que a solução para os problemas relacionados ao desperdício de água e a má gestão dos recursos hídricos é a educação e conscientização da população. Porém, isso se trata de um processo extremamente lento e gradativo, o que nos força a correr contra o tempo, nos empenhado com todo esforço para reverter esse quadro.

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Publicado no Jornal Mesa de Bar News, edição n. 224, p. 20, de 17/08/2007. Gurupi – Estado do Tocantins.

Publicado no Relatório Trimestral 3 do Programa de Educação Patrimonial: “Caiarí: revendo o passado, cultivando o futuro”, na área de intervenção da UHE Santo Antônio, município de Porto Velho, Rondônia. Novembro - Janeiro 2009/2010. 54 páginas. Disponível em: http://siscom.ibama.gov.br/licenciamento_ambiental/UHE%20Santo%20Antonio%20(Rio%20Madeira)/UHE%20Santo%20Antonio/ANEXOS/ANEXO%2021.2/ANEXO%2021.2_Rel.%20Trimestral-3%20nov_2009_jan_2010.pdf

Giovanni Salera Júnior

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Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 06/11/2006
Reeditado em 01/01/2012
Código do texto: T283484
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