O animal solitário

O nascimento é por si só, um ato de violência. Saímos de um local confortável rompendo o principal laço com a única pessoa que talvez, um dia nos amou verdadeiramente.

Ao depararmos com uma forte luz, ficamos cegos e com medo. Somos expulsos da Caverna de Platão e nos deparamos com um mito incômodo. Choramos.

Lançados em um mundo absurdo, sem nem sequer sabemos quem somos de onde viemos, para onde vamos. E então nos perguntamos, o que estamos fazendo aqui?

Encontrando seus semelhantes, o homem se depara com o seu eu social e ao mesmo tempo com o seu eu solitário.

Podemos supor, mas jamais entender o sofrimento e a dor física e moral do nosso próximo.

Talvez, aqueles que vivenciaram uma circunstância parecida cheguem mais perto de algum entendimento.

No leito de morte, a família e os amigos pensam que entendem a condição do moribundo.

A sua angústia, o seu medo ateu da morte seguida da sua não existência e da sua negação de Deus. A nadificação. O animal solitário em sua forma pura. Não, não pode ser verdade ou será que não deveria ser mentira?

Cavando entre carnes e vísceras, o homem do subsolo almeja o retorno a escuridão, seu único momento longe da solidão em comunhão com aquilo que o fez perceber que um dia não esteve só, naquele breve momento, antes do nascimento da tragédia chamada vida.

Inã Cândido
Enviado por Inã Cândido em 07/03/2011
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