INDISPENSÁVEL CONTINUAR TRABALHANDO COM UMA GRAMÁTICA CUJAS DEFICIÊNCIAS SÃO EVIDENTES?

Oriunda do grego gramatiké a palavra gramática é a nomenclatura que se dá a um grupo de regras que individualmente são aplicadas para serem utilizadas por determinada língua.

É classificada como um dos instrumentos de estudos utilizados pela lingüística cuja finalidade é estudar a relação existente dentro de cada oração ou frase, tendo em vista o seu uso de forma correta.

Não há uma ligação de gramática a uma língua específica, ou seja, não é atributo de algumas apenas, más de todas as línguas. A gramática dentro das suas ramificações (normativa, histórica, comparativa, funcional e descritiva) objetiva estudar a morfologia e a sintaxe que trata apenas dos aspectos estruturais.

Quando a proposta é estudar a gramática é considerável a possibilidade de, intencionalmente ou não, percebermos a distância existente entre ela, quanto objeto de estudo e a realidade dos leitores, escritores, falantes e ouvintes de determinada língua em determinado período diacrônico, realidade esta que apresenta muitas falhas e incoerências como na feliz abordagem feita por PERINI, (1995, p. 6)

As falhas da gramática tradicional são, em geral, resumidas em três grandes pontos: sua inconsistência teórica e falta de coerência interna; seu caráter predominantemente normativo; e o enfoque centrado em uma variedade da língua, o dialeto padrão (escrito), com exclusão de todas as outras variantes.

Nesta expectativa, podemos tomar como exemplo o emprego da mesóclise, cuja prática não é comum na fala dos brasileiros, no entanto é algo que não somente está na gramática bem como é cobrado em sala de aula por muitos professores de português.

Há um pensamento que, verdadeiro paradigma, sacramentou a idéia de que quando o assunto é ensinar gramática na escola, logo a barreira da prática de ensino inadequado que funciona mais como medidas coercitivas do que pedagógica é levantada como principal empecilho.

Não descartando a possibilidade de o ensino gramático coercitivo tornar-se um entrave como ensino inadequado, devemos levar em conta também o fato dos professores questionarem sobre como ensinar, o que ensinar, ensinar ou não gramática? E ainda um grupo que nada pergunta, sendo este um segundo problema.

Como podemos ver, tudo isso são resultados dos muitos aspectos de discórdias existentes entre o que a gramática ensina e a língua que está sendo falada em determinado lugar e momento, discórdias que são pontuadas e apresentadas de vários modos por teóricos de várias escolas de estudos analíticos.

Seguindo a linha de estudo do teórico Mário Perini posicionamo-nos e defendemos a gramática como importante e indispensável instrumento para o ensino da língua portuguesa em sala de aula. Acreditamos que os professores não somente podem como devem utilizar a gramática.

Neste sentido, pensamos que antes de tudo o mais deva ocorrer urgente e necessária desmistificação da gramática. Quando falamos desmistificação referimo-nos ao fato de ser atribuída à gramática a posição de ponto referencial que equaciona todos os problemas que aparecem na leitura de textos, na escrita e na fala, problemas vistos como barreiras que impedem a ascensão social de todo falante leitor ou escritor.

A utilização da gramática em sala de aula deve levar em consideração as muitas e variadas situações de uso da linguagem. O professor ao valer-se do uso gramatical em sala de aula, não deve fazer asseverações que além de virem carregadas de inconsistências são por si só cheias de preconceitos.

A abordagem da gramática não pode nem deve ser feita acompanhada com uma carga de autoritarismo e arrogância, mas que seja uma abordagem que açambarque tanto o aspecto descritivo quanto o aspecto funcional.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.

PERINI, Mário. Para uma nova gramática de português, 8ª Ed. – São Paulo, Ática 1995.

Joilton Cardozo
Enviado por Joilton Cardozo em 03/03/2011
Código do texto: T2826993