Adultos Infantis, Confusões e Conflitos - CAP 01

Nós, as ocidentais nos arrumamos, nos vestimos bem para sair de casa e quando estamos em casa, vestimos uma roupinha mais leve, simples – feia. Uma ou outra mulher usa maquiagem em casa, mas a maioria não. Lingerie? As de ficar em casa mesmo - feias, deixando as mais incrementadas para a noite especial, isso sem contar, aquelas que separam as lingeries melhores para ir ao médico!! Para dormir, salvo também umas e outras (as que têm medo de passar mal no meio da noite e entrar no hospital como uma mendiga, e as que amam dormir bem arrumada) a maioria pensa: ah, pra dormir mesmo! Então qualquer trapinho serve. Não vou fazer a unha do pé porque ninguém vai ver mesmo, uso sapato! Não vou fazer a unha da mão porque vou lavar a louça e vai sair tudo mesmo!

Agora, falou em sair de casa, pronto, é aquela produção! Imagina eu fazer feio por aí! Andar desmazelada, o que vão pensar de mim!!!?

As orientais se embelezam para si e para seus maridos.

As muçulmanas e indianas usam o lenço na cabeça, cada qual a sua maneira, pra guardar a beleza de seus cabelos para seus maridos e em sinal de respeito. As indianas são menos restritivas em alguns aspectos que as muçulmanas, usam por aí roupas mostrando sua barriga, anéis pulseiras e colares, um festival de beleza e cor, mas, andar bonita é para o marido, tanto é que, quando o marido morre lhe tiram todos os adornos, cortam os seus cabelos e as lançam em um viuvário (eu preferiria morrer na pira de fogo rs, melhor que viver em um viuvário rs). As muçulmanas usam também vários adereços e jóias, mas ao sair na rua, se cobrem com o véu e vestem uma espécie de galabia – também muito bonita - por cima da roupa, afinal, se enfeitar para estranhos é algo sem pé nem cabeça. As gueixas estão sempre com kimonos impecáveis, lindos penteados e adornos. Gestual discreto e comedido.

As muçulmanas, quando vão se casar, têm todo um ritual de beleza onde pela primeira vez elas se depilam e aí vira uma prática para a vida de casada. Tanto indianas e árabes usam a henna para se enfeitar.

Todas estas saem bonitas pelas ruas, mas isso é conseqüência do que elas estão usando em casa e detalhe, nada do que vestem é “indecente”, ou seja, revelando partes de seus corpos num apelo sexual.

Aí penso: como somos desleixadas para conosco, para nossa casa e para nossos maridos!!!

O lugar mais importante do mundo, penso eu, é minha casa e eu ando como uma mendiga! Que horror!

Fomos criadas para viver de aparência! Para que os outros (estranhos os quais não temos intimidade alguma), nos vejam como mulheres bonitas, bem arrumadas, educadas, etc, mas em casa, somos o que somos mesmo! Têm coisa mais absurda que ter lingerie separado pra ir ao médico? Para que ele não pense que você anda maltrapilhaaaaaaaa!!!

Mas para o marido pode. Pode dormir com aquela camiseta que vc roubou dele do time de futebol, furada e desbotada! Pode deixar o cabelo sujo, a raiz enorme (faz um coque e ta bom!! Né?). Não escovamos os dentes após as refeições. Usamos o banheiro de porta aberta, conheço casos que raspam a perna na sala vendo novela e a família toda lá assistindo este horror show!)

Aí, quando o marido tem uma amante, acha ruim! Mas convenhamos, quem agüenta dormir, acordar, transar com uma pessoa que não se esforça em nada para estar bonita para si mesma e para seu amado (o pior é a falta do ‘pra si mesma’!! Têm gente que nem perfume usa, pq não vai sair de casa, ela não entende que é algo pra ela ficar cheirosinha, gostosa).

Nós nos arrumamos lindamente para nossos homens quando: estamos querendo conquistar-lo no início de namoro, caso, enfim, ou quando queremos ter aquela noite! No primeiro caso, a magia dura até se ter intimidade suficiente, aí, pronto, vc se solta e volta a ser o que é: coque, chinelo e “uma roupinha de ficar em casa”. No segundo caso, quando vc quer que ele lembre que vc existe na cama, aí vc capricha! Dia seguinte o sutiã bege volta a imperar com a calcinha de algodão surrada e cheia de bolinhas – boa pra ficar em casa!

Quando somos novas e solteiras, loucas pra achar nosso par, nossas avós e mães dizem: menina, um homem se prende na cama e na cozinha! Vc têm que cuidar bem de sua casa, seu marido e seus filhos. Até aí, tudo bem. OK! As muçulmanas e indianas fazem isso mesmo, (não estou falando das rebeldes, estou falando daquelas que vestem a camisa mesmo!) elas têm orgulho disto. Mulher que se arruma para o marido, q segue a religião e os costumes, tem filhos, cuidam bem da casa, são vistas como mulheres virtuosas!

Só que, para nós, isso é sinônimo de ser Amélia, ou seja, algo, pejorativo, ruim, que nos diminui. Quem fica cuidando de casa, é vista praticamente como uma empregada doméstica, por isso mesmo que as mulheres ficam em casa tão mal vestidas. Por isso que os homens se desinteressam.

Pior que isso, é a mulher que se casa e começa a agir como a mãe dele. Há uma confusão muito grande em nossa cultura com relação a isso, pq para nós, cuidar do homem e da casa é ser mãe. Não é não! Eu não sei de onde saiu isso, mas depois de casada, muitas mulheres assumem o papel de esposa-mãe, confundindo o papel de esposa como papel de mãe, tratando muitas vezes o marido como filho e sendo bem chata como uma mãe é. Aí quando o marido arruma uma amante, acha ruim, mas elas não se ligam que homem nenhum vai transar com mãe!!

Isso é imaturo, ou a mulher, por não saber ser a mulher adulta, age como esposa-mãe ou com menininha, vendo o marido como o papai e muitos casais assim o preferem, pois assim mantém a vida sexual deles.

Os homens têm participação grande nesta bagunça de papéis. Muitos adoram a mulher-mãe pq assim, é como se estivesse ainda morando com mamãe e pode ter suas namoradas por fora. Ou a esposa-filhinha, onde, em muitos casos ela age como criança e em 4 paredes se veste de colegial. Em ambos os casos temos apenas um adulto no relacionamento. Raros são os casais que ambos são adultos. E esta infantilização é o que faz as pessoas buscarem cada dia mais estarem mais jovens, seja com plásticas, elixires, etc. Evitamos ao máximo sermos adultos tanto na aparência quanto nas atitudes. Tanto é que, nossos homens mais moderninhos não usam barba, bigode e ainda se depilam, tudo para ficar com um aspecto mais parecido com as crianças, muito diferente dos árabes que usam com muito orgulho suas longas barbas!

Vamos para a sexualidade. O máximo que muitos conseguem fazer de inovador e sedutor é um strip-tease ou se excitar vendo filmes pornográficos. O strip-tease é muito pobre em termos de sedução, aliás, paupérrimo comparado com os diversos rituais que em culturas milenares eles praticam.

A pornografia é o sexo na sua forma mais infantil (no sentido de primário, básico, sem muita elaboração e requinte), é o sexo pelo sexo. É bem claro e explícito para que as “criancinhas” marido e mulher entendam bem e se excitem e consumem logo o ato. Tanto é assim, que praticamente não temos preliminares, é o orgasmo pelo orgasmo. Parecemos animais apenas querendo reproduzir.

O sexo mais elaborado começa com casais que tem mais maturidade ou vêm de culturas que compreendem bem a importância deste ato. O sexo acontece a todas as horas, ao longo de todo o dia – não estou falando de dar uma de tarado, não – começa num sorriso ao levantar, em um beijo de bom dia, um banho para os dois, no preparar e servir as refeições, num dançar uma música e por aí vai, é um dia todo de preliminares, e quando estiverem no ato de fato, é algo muito mais lento, rico, atencioso, observa-se cada gestual, sente-se o parceiro(a), é praticamente o sexo tântrico onde o nirvana é melhor que o orgasmo.

Muitos casais que estão em crise, atribuem isso a diminuição do apetite sexual. Com a ausência de atividade sexual constante, os casais se distanciam, não são receptivos uns com os outros, mal conversam, esfria-se totalmente o relacionamento, questiona-se até se há amor ainda. Confunde-se amar, ser receptivo, dar carinho ao sexo (o sexo infantil citado acima, visando apenas o orgasmo). Muitas mulheres andam por aí praticamente semi-nuas, numa atitude de extrema sexualidade justamente para ter este carinho, aceitação e atenção. Pra nós, andar de roupas discretas - burka, sem receber nenhum elogio na rua, nos faz sentir feias, mal quistas, rejeitadas. Olha o nível da baderna!!!

As nossas mulheres são criadas de forma um pouco confusa: Casar, cuidar bem da casa= Amélia/ empregada doméstica. Trabalhar fora, ter uma profissão, por dinheiro dentro de casa = o provedor/homem. Ser boa esposa, mulher = prostituta, amante. Ter filhos, ser boa mãe = mãe, governanta, santa .

Eu não sei de onde saiu isso, mas os homens também vêem assim as mulheres desta maneira bagunçada, onde se pode exercer um papel por vez e eles somente sabem se relacionar com uma por vez. Sei de relatos de homens que não tem relação sexual com suas esposas quando estas estão grávidas, por não transarem com mães!!! Os dois erram aí: ela por “virar” mãe, esquecendo-se que é mãe apenas do bebe em seu ventre e ele que a vê como a sua mãe.

Criamos mulheres Frankestein, com remendos de papéis sociais distorcidos: a mãe, a empregada doméstica, a amiga, a profissional, a amante, a guru, a pajé etc. E espera-se que executemos cada papel com maestria e somos o papel exercido no momento, pois nem sabemos o que é ser o todo.

Muitas começam a ter sucesso em suas profissões, viram ótimas profissionais, aí se casam, a casa é cuidada daquele jeitão, e vão levando, mas quando têm filhos, o bicho pega, porque não dá pra trabalhar e cuidar de uma criança nos primeiros meses ao mesmo tempo. Aí, toda esta confusão em que somos criadas vêm a tona: o q eu sou afinal? Não posso cuidar bem de meus filhos e trabalhar! Fico longe, não estou presente em sua educação, que saudades! Gerando culpa. Ou: não posso cuidar bem de minha carreira com meus filhos e a casa me tomando tanto tempo! Gerando: arrependimento. Isso é um exemplinho curto, existem outros impasses.

Quando não a mulher deixa seu filho para que sua mãe cuide, tornando-se irmã do filho (volta a infantilização) e para substituir a “perda” do filho e suprir a o exercício da maternidade torna-se esposa-mãe de seus marido.

Não é de se admirar que crescêssemos sem saber o q seremos: “O que vou ser quando crescer?” Ou seja, vc não nasce pronto e evoluí, vc é apenas “algo” quando crescer e quanto mais demora o “crescer”, ou seja ser adulto, menos ainda vc o é e maior crise!

Observo outro aspecto curioso da presença infantil nos lares: os idosos. Não somos como os indianos que têm um tremendo respeito pelos mais velhos, pq lá, os mais velhos são os mais sábios e aqui “crianças gastas”. Pq esta ojeriza, recusa aos idosos? Pq eles nos lembram que o caminho inevitável é amadurecer, crescer, virar adulto, então fugimos deste lembrete ambulante maligno! Recusamo-nos terminantemente em sermos adultos! Os idosos percebendo que ser adulta causa repulsa e rejeição, infantiliza-se. Muitos idosos são como criancinhas, usam fraldas, falam bobeirinhas infantis, e alguns até brincam de boneca! Então aceita-se melhor este no seio da família.

Continua no próximo capítulo.

http://irvicaramello.blogspot.com/2011/02/adultos-infantis-confusoes-e-conflitos.html

Irvi Caramello
Enviado por Irvi Caramello em 20/02/2011
Código do texto: T2804692
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.