Nada além de mera serragem do chão.

Você é a voz que descargamos quando o tempo pede perdão,

é a camada mais funda do que tentamos ser um dia,

é a poça d´água que não vemos e que nos golpeia ao chão.

Você é o anel que um dia cravamos no dedo de uma mão,

a melodia acéfala que se faz passar pela nossa carne feito um gozo compressor e infinitivamente feroz,

é a larva que sai pelas frestas da nossa alma como aquele desejo que um dia teimamos em chamar de meu bem, de minha linda.

Você é a cama de faquir que nos imanta com tal espessura que nunca mais cairemos fora. Nunca mais.

Você é o torpor bêbado e bizarro que carregamos pelas orelhas sem descanso, sem perdão, sem nada.

Você é o que nos cozinha vivo, fumegando cada rincão da nossa alma entre gargalhadas que fazem o nosso mar virar pó.

Você é o desejo de todos que cabrestamos dentro da gente, é um gozo que nunca conheceremos suas artimanhas de fato,

é um passo em falso que nos empurra para o grande precipício que sempre quisemos domar, talvez dopar, talvez sonhar,

é uma trilha pedregulhada, uma engolida áspera, um grito que fazemos tão alto, mas tão alto, que não conseguimos ouvir.

Você nos desafina o rumo, mostra que somos presas fáceis desta gaiola onde as grades são os nossos próprios membros, as nossas próprias ilusões, os nossos próprios sertões.

Até que um dia cuspimos fora todo o nosso sono e entendemos que neste circo não fomos nada além do que a mera serragem do chão.

Nada além do que mera serragem do chão.

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