Açaí: tesouro da floresta
Recentemente o consumo do açaí se tornou uma coqueluche nos grandes centros urbanos; uma novidade que tem atraído atenção de muitas pessoas ávidas por produtos novos que contenham propriedades rejuvenescedoras e afrodisíacas.
Pouca gente sabe que o consumo do açaí é algo bastante antigo, que remonta aos povos que viviam aqui antes do Descobrimento do Brasil. É antigo e ao mesmo tempo bem atual, pois o açaí é um alimento muito importante na dieta dos habitantes da Amazônia, onde milhares de famílias fazem uso diário dessa iguaria.
Nas comunidades extrativistas da Amazônia toda a família se envolve na colheita e no preparo do açaí. Desde cedo as crianças aprendem a colher o açaí. Com 5 ou 6 anos elas já começam a subir nas palmeiras para colher os cachos cheios de frutinhas negras. Esse trabalho mais parece uma diversão para as crianças, que sobem na palmeira com o auxílio de um laço feito de folhas que é amarrado aos pés. Esse trançado tem um nome bem curioso: “peconha”. Assim, as crianças colhem os cachos; as mulheres fazem a “debulha” dos frutos (que é a retirada dos caroços dos cachos), colocam nos cestos e se envolvem no preparo da polpa; os homens ficam com o trabalho pesado de carregar os cestos e, também, são responsáveis pela comercialização da produção.
Na região Norte o açaí é consumido tradicionalmente por toda família, de manhã, no almoço ou no jantar. Ele é consumido puro ou acompanhado com farinha de mandioca, tapioca, carne, peixe ou camarão. Em outras localidades do Brasil o açaí é consumido de um jeito bem diferente, como uma sobremesa ou suplemento alimentar. É empregado no preparo de sorvetes, licores, mousses, vitaminas com xarope de guaraná, acompanhado com frutas, mel e cereais.
Vale ressaltar que a importância da palmeira do açaí na Amazônia não se limita ao uso da polpa dos frutos com alimento, pois dela tudo se aproveita. Após a extração da polpa, as sementes dos frutos de açaí servem para manufatura de artesanato (biojóias); as folhas são usadas para coberturas de casas e para confecção de utensílios (trançados, cestos, esteiras etc.); o caule da palmeira serve como ripas de telhado; as raízes são usadas na medicina tradicional para combater verminoses; o palmito serve como alimento e remédio.
Especialmente na última década tem sido criadas diversas Reservas Extrativistas (RESEX) como uma forma de apoiar as comunidades que vivem da produção do açaí. Nos locais onde o governo tem apoiado efetivamente essas comunidades é surpreendente a melhoria da qualidade de vida e a redução de problemas ambientais, como o desmatamento e as queimadas.
É gratificante saber que além do simples modismo, o açaí se tornou um ótimo referencial de desenvolvimento social e proteção da natureza. Por isso, desejo que cresça em nossa sociedade o reconhecido e apreço pelos conhecimentos e o modo de vida dos povos da floresta !!!
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Publicado no Jornal Mesa de Bar News, edição n. 403, p. 15, de 25/02/2011. Gurupi - Estado do Tocantins.
Giovanni Salera Júnior
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