Nutrição para o amor real

“O que nos falta é vida cósmica, o Sol e a Lua dentro de nós...” D.H.Lawrence


Andamos confusos a respeito de amor e de sexo.
Especialmente quanto aos contornos, por onde se delineiam os nossos anseios mais íntimos e indagações, a respeito do que esperar e do que buscar nos relacionamentos afetivos.
Evitam-se conversas francas nessa direção por uma absurda pressão social que marginaliza quem não simula uma postura superficial e politicamente correta sobre o tema.
Por uma bandeira de mesmismo ideológico e na exacerbação de egos individuais, os relacionamentos ditos insatisfatórios são facilmente descartáveis.
Gerando um círculo vicioso de inadequação, medo de amar e insegurança.
Persiste uma ilusória busca de gratificação instantânea, uma corrida pela igualdade sexual e não admissão das óbvias diferenças de gênero e expressão pessoal.
Assim, exige-se para si, todos os direitos políticos e biológicos sem nem ao menos encarar o pouco que se deu em prol da capacidade de crescer através de relacionamentos duradouros e criação de vínculos emocionais honestos.
Mas como a natureza de cada ser é complexa e subjetiva, a hiperestimulação invasiva da mídia, tentando padronizar cérebros, corpos e hormônios, dificilmente irá condizer com as verdadeiras e diversificadas motivações internas de cada um.
Acontece que a personalidade emocional não se desenvolve na falta de contato com o seu interior.
Principalmente nos jovens, o auto engano de buscar uma identificação com a imagem do momento, sem levar em conta as verdadeiras motivações da alma, só faz submergir o coração num mar de dúvidas existenciais.
A vontade de trazer à tona a ânsia pessoal de expressão individual e idealização de um par e, a um só tempo, não encontrar para tanto, um ambiente favorável e confiável de mútua aceitação, só faz abafar uma incipiente humanidade.
Esconder-se por trás de uma falsa postura de perfeição e hedonismo de nada adiantará.
Urge que nos voltemos para o auto-conhecimento. Para uma aceitação autêntica do que de fato nos importa, nos motiva ou nos limita. E só assim teremos uma maior compreensão das motivações e valores do outro.
Estamos perdendo a autenticidade dos gêneros e nos tornando estrategistas.
Enviando mensagens ambíguas de auto-suficiência e pontos de vista pré fabricados, alimentados por uma infinidade de apelos impessoais das redes de comunicação instantânea.
Simula-se a igualdade “politicamente correta” entre os sexos, como se não existissem diferenças energéticas, de estilos e como se o próprio conceito de feminino e masculino se fundisse numa mesma liga de metal frio e solitário.
Perdeu-se a noção de polaridade e de seu efeito inspirador, motivador e curativo.
É emergente que se lance mão de um filtro pessoal na  seleção do excesso de informações que circulam desprovidas de conhecimento, em detrimento da verdadeira sabedoria de si mesmo.
Confiando mais nos próprios instintos e capacidade de separar o joio do trigo.
Parando de engolir sapos e ruminar idéias estranhas à própria natureza essencial.
Sabedoria de viver.
Quando distorcemos o olhar interior e entramos inconscientes numa competição entre os sexos, não conseguimos manter o foco nos desejos do próprio corpo e coração.
Quando recebemos imagens e conceitos prontos do que deveríamos desejar e requerer para sermos aceitos socialmente, perdemos a integridade.
E passamos ao largo da integridade alheia.
Encontrar no parceiro, pensares, ideais filosóficos e espirituais afins, é, sem dúvida, um achado que advém da peregrinação genuína e não manipuladora.
Por outro lado, a expectativa de se encontrar uma“alma gêmea” já é um grau de exigência irreal.
Especialmente para quem ainda não passou pela experiência da construção de um amor real, que se enriquece na dança de energias de suas polaridades.
Esse é um exercício constante e delicado na manutenção da individualidade, durante todo o processo do nutrir-se reciprocamente, respeitosamente e eroticamente.
Caso contrário, frustramos a aspiração mais abnegada de que a humanidade é capaz: a auto-educação.
O que sugiro é que possamos nos reinventar a cada dia, com carinho, descobrindo um universo em si a ser desvendado.
Criar o hábito de olhar o comum com admiração.
Com um novo olhar.
Disciplinar o hábito de olhar o outro com ternura, com curiosidade.
Mas principalmente com um olhar verdadeiro e gentil.
Admitir que precisamos do sexo oposto para nos sentirmos completos.
E principalmente para sermos amados apesar de sermos o que somos.

(lançamento/2011)

Lídia Carmeli
Enviado por Lídia Carmeli em 10/02/2011
Reeditado em 15/04/2011
Código do texto: T2782817
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.