Qualquer nada já vale o mundo
Hoje o tempo não andava, não sei se era ele ou se era eu
olhava pra fora de uma janela tristonha e via o dia passar
tranquilo como passa o menino que não tem nada a perder
ia mansinho, ia ventando, ia levando esse viver
e eu me encolhia, me assustava e de pronto me perguntava
de que vale essa angustia, que me deixa cega e surda
que me faz falar demais, atropelando meus iguais
já bem sei, não vale a pena, fui tentando me afastar
fui sorrindo, distraindo e fingindo que não ligo
e ai o tempo passou, voou e me carregou
já não me importa se são santos, se anjos ou demônios
se eles correm, se só andam ... se param e se encantam
vejo em mim alguém parecido com aquele tranquilo menino
alguém que sabe sorrir, que espera pra falar, que gosta de ouvir
que pode a tudo observar, alguém que se perde no tempo
que não tem mais nada a perder
pois pra quem não espera ganhar
qualquer sol já faz animar
pra quem não precisa de tudo
qualquer nada já vale o mundo
e agora eu olha a janela
e não espero ver nada por ela
vou pulá-la vou quebrá-la.. ela já não me diz nada
quero ver do outro lado, jogar pensamentos pro alto
quero subir numa árvore, jogar pedras no rio
andar sem sapatos na areia, partir naquele navio
e para os que ainda preferem julgar sentados atrás de janelas
cansados, pálidos, plácidos em suas vielas
espero apenas que se salvem a tempo
que se lembrem como é correr contra o vento
que encontrem suas crianças internas
e que as façam crescer arteiras e belas