Desabafo Nº 5

A vontade de fazer algo que muda o mundo, algo que revolucione e de alguma maneira melhore o poço de lama onde você vive, sempre aguçou os sentimentos dos jovens mais propensos a realmente se importar com algo que mereça mais tempo que uma hora diária nas noites do culto a novelinhas que servem de lavagem cerebral das crianças e condicionamento de suas mamães e papais. A chama da revolução não passa de uma pequena fagulha que é alimentada com migalhas úmidas de um pão sabiamente chamado de “ajuda de custo”. O poder do povo mais parece uma rinha de galos, onde os donos dos animais se reúnem de tempos em tempos e assistem os menores sangrarem, para nomear seu dono campeão, vencedor e presidente. Infelizmente eu não posso fazer nada quando a água bate aos meus pés se nem ao menos, nadar eu sei, alguns aprendem quando a água atingem a altura do peito, mas nessa hora já é tarde e não existem pra onde ir. Tudo o que eu vejo em meu bairro é desgraçado aos meus olhos e o pior é que ele corresponde a uma pequena fração de um plano maior da maldita terra livre onde eu não posso expressar o que tenho vontade, da maneira que tenho vontade sem ao menos provar da privação de liberdade por uma noite. Crianças que deveriam saber o verdadeiro sentido de ir a escola, praguejam o fato de as férias estarem acabando. Hoje a escola se tornou para os pais, uma obrigação para que não levem sua criança de seus braços e para que ele não perca a maldita “ajuda de custo”. O estudo e o conhecimento hoje, se tornaram um maldito catálogo, onde a maioria escolhe aquilo que poderá lhe trazer mais lucro, de acordo com a força de vontade própria naquilo que previamente será chamado de trabalho, mas que ao começar, será chamado de desgraça. Ninguém mais estuda por querer saber, por conhecer, por realmente ficar inteligente, ninguém mais canta pra “alegrar a alma” a não ser a alma do real, a alma de presidente verdes e mortos, e rainhas que insistem nesse sistema falho e morto que só se vê em outro lugar, sendo este nas páginas de romances medievais. Ninguém mais cria, só existe a procriação e propagação de conceitos que eu poderia respeitar, mas sou livre pra acreditar num deus que eu mesmo criei e que encontro dentro de meu próprio peito sem ter a necessidade de estar presente em um templo para adorá-lo.

A comodidade arrombou as portas das donas de casa e derramou seu leite, fazendo com que elas não fizessem nada a não ser chorar pela desgraça e limpar o chão com o pano imundo tecido pelo conformismo. Em minha mais singela opinião, o leite derramado só faz em atrair moscas, essas por sua vez atraem aranhas, que chamam os pássaros e quando se percebe já foi criado todo um universo novo e diferente do anterior com o leite dentro do jarro, porém infelizmente, ninguém derrama o leite por vontade própria, ninguém quer arriscar lutar por algo novo e abrir mão da única coisa que cada um pode dar pelo outro, o suor e esforço, ninguém mais liga pelo bem ou satisfação que não seja a própria, ou em raros casos por alguns poucos debaixo do próprio teto.

E mesmo depois disso tudo eu só consigo me lembrar de uma citação:

“Havia um motivo pra contar essa história, mas, temporariamente fugiu da mente do autor” Douglas Adams