SAMBA: Origens históricas - Onde surgiu, seus principais autores no passado e os tabus da compra e venda de músicas no Brasil

SAMBA: ORIGENS HISTÓRICAS – ONDE SURGIU, SEUS PRINCIPAIS AUTORES NO PASSADO E OS TABUS DA COMPRA E VENDA DE MÚSICAS NO BRASIL

O termo ‘samba’ é de origem africana e tem seu significado ligado às danças típicas tribais daquele continente.

A origem da palavra samba, seria, uma derivação do quimbundo semba, que significa umbigada, ou do umbumdo samba que significa estar animado ou estar excitado. A palavra pode ter ligação com a língua luba e com outras línguas bantas, onde samba significa pular ou saltar com alegria.

O samba surgiu da mistura de estilos musicais de origem africana e brasileira. O samba é tocado com acompanhamento de instrumentos de percussão (tambores, surdos, timbaus, pandeiros, chocalhos) e por violão e cavaquinho. Posteriormente foram entrando os instrumentos de sopro, principalmente, o trombone de vara, o sax, o trompete e a flauta. Geralmente, as letras de sambas falam do cotidiano de quem mora nas cidades, com destaque para as populações pobres.

As raízes do samba nos remetem ao Brasil Colonial, com a chegada da mão-de-obra escrava e hoje é tido como o ritmo nacional.

Há uma quadrinha de frei Miguel do Sacramento Lopes Gama, publicada em 12 de novembro de 1842, no número 64 da revista "Carapuceiro", de Pernambuco, de grande importância histórica, citando a palavra samba:

Aqui pelo nosso mato,

Qu'estava então mui tatamba,

Não se sabia outra coisa

Senão a Dança do Samba.

O estilo do samba tem a ver com maxixe, lundu, batucada, jongo, modinha e choro. Mas o samba adquiriu suas próprias características.

O samba de roda nasceu no Recôncavo Baiano e foi levado, na segunda metade do século XIX-início do século XX, para a cidade do Rio de Janeiro pelos negros que migraram da Bahia e se instalaram na então capital do Império. O samba de roda baiano, em 2005 tornou-se Patrimônio da Humanidade da Unesco e é precursor do samba carioca e nacional.

No Rio de Janeiro a dança praticada pelos escravos baianos migrados, entrou em contato e incorporou outros gêneros musicais tocados na cidade (como a polca, o maxixe, o lundu, o xote, entre outros), adquirindo caráter singular e criando o samba carioca urbano e carnavalesco.

O primeiro samba gravado no Brasil foi “Pelo Telefone”, em 1917, cantado por Bahiano. A letra deste samba é atribuída a Mauro de Almeida e Donga reivindicou a autoria da música. "Pelo Telefone" era uma criação coletiva de músicos que participavam das festas da casa de tia Ciata, mas acabou registrada por Donga e Almeida na Biblioteca Nacional. "Pelo Telefone" foi a primeira composição a alcançar sucesso com a marca de “samba” e contribuiria para a divulgação e popularização do gênero. A partir daquele momento, o samba começou a se espalhar pelo país, inicialmente associado ao carnaval e posteriormente adquirindo lugar próprio no mercado musical. Muitos compositores ficaram famosos com o samba: Heitor dos Prazeres, João da Bahiana, Pixinguinha e Sinhô, mas os sambas destes compositores eram amaxixados, conhecidos como sambas-maxixe.

Tempos depois, o samba toma as ruas e espalha-se pelos carnavais do Brasil. Neste período, os principais sambistas são: Sinhô Ismael Silva e Heitor dos Prazeres .

COMP(R)OSITORES

Desde tempos remotos, quando a política de direitos autorais engatinhava no Brasil, era comum ao autor de uma música, vendê-la a alguém que estivesse interessado. E essas vendas de música e de letra tornaram-se comuns até bem pouco tempo.

BAHIANO

Manuel Pedro dos Santos, Bahiano, nasceu em 5 de dezembro de 1887, em Santo Amaro da Purificação – Bahia. Viveu no Rio de Janeiro até sua morte, em 15 de julho de 1944. Cantava modinhas e lundus acompanhando-se ao violão. Ficou conhecido e ganhou destaque na história da música popular brasileira e do samba, ao gravar para a Casa Edison o primeiro samba levado ao disco, Pelo Telefone, em 1917. Além disso, Bahiano é considerado o primeiro cantor profissional do Brasil.

JOÃO DA BAHIANA

João Machado Guedes nasceu em 17/5/1887 Rio de Janeiro, RJ e faleceu em 12/1/1974 na Casa dos Artista (Jacarepaguá) Rio de Janeiro, RJ. Dos doze filhos de Presciliana (baiana), foi o único a nascer no Rio. Os outros eram baianos. Ele introduziu o pandeiro no samba e compôs inúmeras canções.

ISMAEL SILVA:

Ismael da Silva nasceu em Niterói RJ em 14 de Setembro de 1905 e morreu no Rio de Janeiro RJ, em 14 de Março de 1978.

Internado em hospital da Gamboa, foi procurado por Bide, que lhe trazia uma proposta de Francisco Alves: o cantor, na época já famoso, queria comprar um samba seu. Aceitou, e “Me faz carinhos” foi lançado em disco Odeon, trazendo no selo o nome de Francisco Alves como intérprete e autor. Logo depois o samba “Amor de malandro” era lançado nas mesmas condições, e o êxito alcançado pelos dois discos levou Francisco Alves a propor-lhe exclusividade na gravação de toda a produção do sambista. Inicialmente aceita a proposta por Ismael Silva, mais tarde este compromisso foi desfeito, por iniciativa de Ismael.

SINHÔ

José Barbosa da Silva, Sinhô, compositor, violonista e pianista, nasceu no Rio de Janeiro em 8 de setembro de 1888 e morreu aos 42 anos incompletos de tuberculose na mesma cidade em 4 de agosto de 1930.

Polêmico, foi acusado diversas vezes de apropriar-se de canções alheias “Samba é como passarinho, é de quem pegar” – Esta frase lhe é atribuída.

ASSIS VALENTE

José de Assis Valente Nasceu em Santo Amaro da Purificação, BA, a19 de março de 1911e faleceu no Rio de Janeiro, a 6 de março de 1958. Foi levado ao suicídio por dívidas. Dentre suas composições mais famosas está "Brasil Pandeiro", além da única música brasileira sobre o Natal, com a qual ganhou o concurso da Prefeitura do Rio: Boas Festas – Anoiteceu/ o sino gemeu/e a gente ficou/feliz a rezar.../ Papai Noel/Vê se você tem/a felicidade/pra você me dá... Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel...

Seu trabalho foi um dos mais profícuos da música popular brasileira, constando que chegava a compor quase uma canção por dia – muitas delas vendidas a baixos preços para outros, que passavam a figurar como autores.

HUMBERTO PORTO

Humberto Porto nasceu em Salvador, BA, a 19 de janeiro de 1908 e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, a 23 de setembro de 1943.

Em parceria com Benedito Lacerda compôs a marchinha “Jardineira” que veio a imortalizar-se no cancioneiro popular. Segundo informações de familiares, também foi vítima de compradores de música.

DORIVAL CAYMMI

Nasceu em Salvador, a 30 de abril de 1914 e faleceu no Rio de Janeiro, a 16 de agosto de 2008). foi um cantor, compositor, violonista, pintor e ator brasileiro. Compôs sambas, samba-canções, baladas e outros gêneros, a maioria exaltando a Bahia.

ARY BARROSO

Ary de Resende Barroso, nasceu em Ubá - MG,a 7 de novembro de 1903 e faleceu no Rio de Janeiro, em 9 de fevereiro de 1964, vítima de cirrose hepática.

Muitas das grandes canções compostas sobre a Bahia levam a autoria de Ary Barroso. As controvérsias são muito grandes quanto à veracidade das suas criações, uma vez que apesar de músico, Ary não conhecia bem a Bahia para realizar uma obra tão importante sobre o nosso modo de ser, sobre os costumes baianos, etc. Segundo denúncias nem sempre bem vistas pela mídia, Humberto Porto e Assis Valente, a exemplo de outros compositores da época, costumavam ‘vender’ suas composições ao Ary quando as dificuldades lhes batiam às portas. Assim, BAIXA DOS SAPATEIROS, TABULEIRO DA BAHIANA, IOIÔ DE IAIÁ, entre outras, não teriam sido compostas pelo Sr. Ary Barroso. Consta no bilhete de despedida de Assis Valente, quando encontrado morto após ingerir formicida, um pedido para que Ary pagasse seu aluguel atrasado. Outro fato notório da época diz respeito aos programas de rádio, cujos apresentadores tinham pessoas que intermediavam a apresentação dos novos artistas, mediante a cessão de músicas e de dinheiro, conforme o caso. Outros exigiam co-autoria ou parceria. É bom frisar que, nas décadas de 1930, 1940. 1950, era comum a venda de músicas de compositores para os famosos COMP(R)OSITORES. E isso continuou e até continua, em menor proporção, dadas a inúmeras demandas na Justiça, culminando com sentença de condenação de Roberto Carlos, entre outros autores, por terem usurpado os direitos autorais dos verdadeiros criadores de algumas canções. Esse assunto é controverso, sabemos que é quase um tabu, mas temos a obrigação de expor à posteridade como se davam ou se dão ainda, as relações entre artistas ávidos de aparecerem na mídia e seus pretensos padrinhos. Há casos em que apresentadores de Rádio e TV ganham dinheiro com shows que realizam sem pagar cachets aos artistas que se apresentam em seus programas. Inclusive algumas emissoras embarcaram nessa e enchem as burras de dinheiro às custas do artista nos dias atuais (2011).

À época de Assis Valente e Humberto Porto, era normal o compositor sair com uma ou mais partituras pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro para tentar vender suas músicas visando pagar suas contas, fazer feira, comer e beber. Era o costume da época e não há o que se discutir quanto a isso. A ética, entretanto, condenará sempre, seja quem for que compre ou furte a criação artística de alguém. É a chamada propriedade imaterial da obra de arte que deu lugar à Lei de Direitos Autorais, que o Brasil copiou dos países mais desenvolvidos e que vem coibindo os males da deslealdade, da esperteza e da falta de caráter de uns e de outros, através dos anos.

Assisti um documentário sobre a música popular brasileira e anotei depoimentos de Sergio Cabral e outros entrevistados nos quais eles relatam a questão dos direitos autorais no início do século XX, quando os compositores saíam às ruas do Rio para venderem suas obras. Também quanto ao samba ter ido da Bahia para o Rio, o Sergio Cabral, que é biógrafo de Ary Barroso e conhece muito dos primórdios da nossa MPB, garante que a migração do grupo baiano de compositores para o Rio é que fez nascer o samba. Esse dado é irrefutável, pois trata-se de um carioca de renome que reconhece que ‘o samba nasceu foi na Bahia’ como bem disse Vinicius de Moraes em uma de suas composições.

Por outro lado, as leis de Direitos Autorais não são devidamente fiscalizadas. E só quem recebe dinheiro de direitos autorais é uma meia dúzia que domina o mercado. Os demais ficam sem nada. Isso é assunto de Estado e os governos não tomam qualquer atitude para resguardar os interesses de todos. As emissoras de Rádio e TV deveriam pagar bem os direitos autorais dos seus musicais, mas não o fazem, escudados nas benesses governamentais. Não identificam os autores das músicas que são interpretadas por cantores que nunca fizeram uma composição e nada criam. Muita gente ainda se refere à música como se pertencesse ao cantor. É uma desinformação que desmoraliza a ética e sensatez de um país que deseja seriedade para chegar ao primeiro mundo. E o tratamento destas questões torna-se imperativo para que isso ocorra em menor espaço de tempo. As Leis existem, mas não são cumpridas e ou fiscalizadas pelo aparelho estatal corrupto e burocrata que nos domina.

Referências Bibliográficas:

Enciclopédia Wikipédia

Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha

CABRAL, Sérgio - No tempo de Ari Barroso. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, s/d.

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 14/01/2011
Código do texto: T2728095
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