POSSÍVEL CARTA DE UM DESCARTADO

Estou empoeirado por dentro

Minhas prateleiras estão represadas de pó

Compartimentos fechados, obtusos, escarnecidos, carcomidos...

Estou violentado adentro, dentro de mim há tanto vazio, há tanta vacuidade, exílios...

Que o som da minha cabeça não se propaga mais...

Alucinação é o meu fanal e com a droga sou dela passageiro, entro no mundo do abismo, alço quedas livres, tudo gira, como num trem fantasma, monstros surgem

Do nada, mundo abismal, pia batismal do mal, tudo insano, canibal e eu pobre animal, só entro com a carne e o sangue

Baixíssima vibração, entranhas atoladas no pó lodoso do mangue...!

Meu olhar por fora tá torto, tá morto...

Por dentro não nego, tá cego...E minha saga é seguir (pra onde???)

O pó que escorre cérebro adentro é como um mar revolto por onde navegam meus ossos jangada...

Sou almirante aspirante sem rota de chegada à (coalizão?!) colisão.

Não tem ilha deserta, todas estão povoadas de espectros com matizes cor de pó

Brancos zumbis, tudo se mistura no porto inseguro de meu leme

Que treme à deriva da marola, desta viagem sem volta e sem destino.

É como se eu só existisse zumbificado pra droga. Tudo o que falam dela só a inaltece ainda mais...

Penso nela logo inexisto...Ela entra, adentra, invade, toma posse, ela não é minha hóspede é meu hospedeiro

Ela não faz parte de mim é eu que faço parte dela...O mundo é uma aberração pelo lado de fora vermelhidão, rebelião...

De meus olhos brancos...no momento exato em que adiciono, ou melhor condiciono o pó em mim...Tudo

Se liberta, o fardo é leve, meus olhos fechados criam pés e andam por dentro de mim contraditórios...

Sem fins somatórios, enfim!

Subjacente a droga desfila, definha, e de fininha mostra atalhos, caminhos, ruas desertas...

Caminhos que não me trazem de volta, geralmente chego aonde nada passa a existir, aliás...

O não existir é apenas uma amostra-grátis neste meu mundo....E cavernosamente é nele que eu

Hiberno...É o inverno de meu ser que dorme, mas logo o efeito passa pela estação, e a fome consoante

Volta novamente enorme, e como caça , sou caçado pelo lobo branco, e pra não virar carniça

Corro atrás da neve, até me camuflar novamente...Acho até que nas minhas veias sem verão...

Só correm pó que me corroem...O mar vermelho de meu sangue se polarizou....Salinizou-se

Não há vida...houve mar...Overdodose...Tudo em mim é MAR MORTO.