Abderramã na Terra de Heidrum.
Abderramã na Terra de Heidrum.
Era o cenário apocalíptico do pós-guerra que se tornara cotidiano da vida e dos sonhos de Abderramã. Desde o ato de misericórdia em que deixara fugir o temido rei de Constantinopla, o cenário que se estabelecia ao som dos gemidos de dor dentre homens e cavalos, fazia tormenta ao espírito misericordioso de Abderramã. Qualquer imagem dentre os 360° possíveis, figuravam a morte, a dor e a falta de compaixão. Tudo era determinado pela estúpidez de meros quilos de ouro. Era a materialidade que imperava no espírito dos homens. Ao passo que os imperadores pensassem que controlavam todas as riquezas, a verdade era que o ouro que controlava eles. Sempre se perguntara se valeria a pena buscar aventuras... Absolutamente tudo que poderia exemplificar o espírito misericordioso do nosso pobre guerreiro, foi o fato de ter sido capaz de deixar escapar o temido rei de Constantinopla. A fama deste governante era absoluta nas Terras Antigas. Sempre se soube que o espírito dos homens sempre temia ao perigo que não se podia ver. Os demônios invisíveis existentes naquela época. Eram inúmeras as explicações para o que não se podia compreender. Era a busca na compreensão do que não se podia ver e nem de se explicar. Como atualmente. Era a interrogação sobre como seria a criatura que governava Constantinopla. A criatura que era capaz de realizar ousadias que a consciência jamais compreenderia. A criatura capaz de realizar as mais incríveis estratégias, sem o menor temor. Era a criatura que não temia o destino. Era a criatura que sabia quais seriam seus resultados. Abderramã cada vez mais sentia vergonha do quão estúpido pode ser a mente do homem, ao qual procura explicar o desconhecido com coisas irracionais. Heidrum era a prova disso. Heidrum, o demônio que não se podia ver. Heidrum, a chave de todas as respostas. Heidrum, o terrível imperador de Constantinopla. Heidrum, o perspicaz, estrategista e criativo conquistador de todos os impérios.
Abderramã observou mais uma vez.
Heidrum, uma criança de sete anos se afastava, como se todo o seu conto de fadas houvesse terminado, e o sonho terminara.
Abderramã se afastou, como um guerreiro que perdera a guerra.
O horizonte cada vez menos resplandecia o Sol que se escondia cada vez mais.
A escuridão tomava posse da luminosidade.
A hora de dormir chegava, e os piores pesadelos para Abderramã, também.
Era a vergonha de fazer parte do exemplo, para uma pequena criança...
Saiu de cabeça baixa, pois aprendera que as crianças são reflexos da educação que os adultos dão.