AINDA FALTA UMA MESTIÇAGEM CULTURAL

Não dá para esquecermos o passado de forma definitiva, como talvez muitos simplesmente queiram, porque o passado não nos esquece. O passado, quando mal resolvido, nos acompanha estrada do tempo adiante. Urge assinar uma carta de alforria de toda uma gama de valores etnossociais pretéritos que foram desqualificados, bloqueados e sufocados por mais de quatrocentos anos. Só não foram anulados porque sua força era de matriz preponderantemente espiritual.
Quando os africanos vieram para o Brasil, como presos econômicos, eles não chegaram sem bagagem. Vieram com eles companhias invisíveis, que também trouxeram toda uma carga de culturalidade e de religiosidade para serem disseminadas do lado de cá do Atlântico, inclusive como bálsamo psíquico, inclusive para mostrar aos lusitanos e lusodescendentes a riqueza da vida em sua interação entre as dimensões humana e espiritual.
De alguma forma, a trasmigração África-Brasil teve também essa função ou missão transalfabetizadora ou civilizatória espiritual, que só não se consolidou pujantemente por causa das repressões eclesiástica e senhorial. Se os brancos se assenhoreassem mais da realidade metafísica suscitada pela religiosidade africana, haveria o enfraquecimento dos dogmas cristãos-católicos, com uma crise de fé talvez sem precedentes. Se as “coisas trabalhadoras” tivessem liberdade plena de manifestação cultural, religiosa e artística, poderiam facilmente ser “descoisificadas” perante a opinião pública. Seria um risco para todo o processo colonizatório da Coroa. Daí a ambígua política governamental-eclesiástica de manter os negros coisificados enquanto seres sociais, mas, ao mesmo tempo, cristianizados, inclusive através do batizamento paroquial obrigatório, como um processo reforçativo da transalienação religiosa.

“O boi na canga é uma rês. O boi na mata é um indivíduo”. – Clóvis Mota, professor e pensador de Serrinha-BA.

Hodiernamente, ainda existe escravidão negra no Brasil. Escravidão de valores, de manifestações culturais e artísticas. Não que os negros contemporâneos não tenham liberdade de manifestação, mas essa liberdade ainda está adstrita aos nichos negros. Tais manifestações não têm liberdade de ir e vir por todos os quadrantes sociais brasileiros, em pé de igualdade. Ainda são vistas, e até admiradas, mas à distância, como coisas de negros. Não existe nenhuma confusão no processo produtivo, em que pesem a apreciações individuais de ambos os lados, mesmo que a alguma distância.
Os negros são segregados em sua arte e em sua cultura, e também são de certa forma proibidos de participar da festa do salão nobre do conhecimento universal. Isso gera uma espécie de apartheid cultural, artístico e religioso.
E isso já vem de longe. Na época do cativeiro laboral, os negros eram cerceados não somente no direito de trabalhar livremente e mediante paga, mas também eram proibidos de estudar formalmente. Conhecer diretamente as obras clássicas da literatura europeia e brasileira? Tocar piano? Dançar balé? Nem pensar! Produzir livremente manifestações religiosas, artísticas e culturais universais de origem europeia? Jamais! Era exclusividade dos brancos.
Por isso, até hoje, ao lado do passivo econômico que o Brasil adquiriu, e ainda não quitou, com os negros do passado e do presente, há também um grito de liberdade de conhecimento, de cultura e de relações fraternalmente multiabrangentes, que ainda está preso na garganta do inconsciente negro do povo brasileiro, sufocado principalmente pela pressão da dificuldade financeira.
Até essa abolição mais ampla se consolidar, milhões de consciências individuais ainda precisam ser despertadas. Muitos afrodescendentes, inclusive, precisam ainda despertar a sua consciência negra como um processo terapêutico de autoaceitação e de autoafirmação de sua própria negritude. É uma fase fundamental e importante do processo.
Outros “de cor”, contudo, já estendem o conceito e, mesmo sem renegar sua etnicidade e sua eticidade de matriz negra, já despertam e mobilizam, também, uma espécie de consciência universal. Já almejam e contribuem para uma espécie de “paz interétnica”, mas não aquela paz separatista em que a etnia historicamente inferiorizada aceita sua condição submissa e se mantém no seu canto, aparecendo no salão nobre só para servir. Não. É a paz dos que se veem e lutam para ser vistos, acima de tudo, como seres humanos iguais em tudo na vida, com os mesmos direitos de ir e vir de todos os cidadãos. É a paz dos que têm as artes, as religiões e as culturas de sua origem respeitadas, inclusive porque também estas têm seu quê de universalidade. Estes já transcenderam para uma perspectiva histórica e social mais ampla das divergências conceituais no campo da justiça e da injustiça sociais, do conhecimento e da ignorância e do poder e da submissão em função de divergências étnicas e suas repercussões ainda nos tempos hodiernos, especialmente na educação e no emprego. Decorrentemente, acabam vendo como doentes morais, ou como cegos conscienciais, alguns brancos que os discriminam.

[No geral, o sistema ainda é bruto para os afrodescendentes, mas mais bruto ainda para aqueles que não se olham no espelho cúbico caleidoscópico da pluralidade humana. E é pior para aqueles que não riem, não cantam e não dançam atrás do espelho, para o espelho, do espelho, através do espelho e acima do espelho. Enfim, para aqueles que não veem o espelho dentro de si mesmos, no outro, na sociedade e em todo o universo.]

Além do aspecto epidérmico, o grande passivo social tupiniquim tem a ver também com toda uma ética espiritual de matriz africana e indígena, manifestável em forma de arte e de sabedoria, que precisa resplandecer e se fundir com a culturalidade geral da nação. Após essa fusão cultural e de liberdade de acesso dos negros e pobres e também dos brancos e ricos aos ambientes da cultura e da arte universais de todas as matrizes, num ir e vir harmonioso e unificador, aí, sim, há de surgir um Brasil efetivamente democrático, modelar e unitariamente plural para si e para o mundo.


A QUESTÃO NEGRA É UMA QUESTÃO DE EDUCAÇÃO E DE ECONOMIA

Com a Lei Áurea, todos os escravos ganharam a liberdade social definitiva, mas não receberam qualquer indenização que lhes garantisse uma sobrevivência minimamente digna para si e para seus descendentes. Não trouxeram para a vida livre das ruas a liberdade econômica e a liberdade educacional formal, imprescindíveis para assunção de melhores posicionamentos estamentais dentro da sociedade competitiva como um todo.
Os negros entraram no páreo das concorrências mercadológicas com muito atraso. A partir de 13 de maio de 1888 tiveram vida nova, mas passaram a ter grandes dificuldades para arregimentar recursos educacionais e financeiros próprios (além de continuarem, por novas leis, restritos praticamente em nichos segregados, o que equivale a um cativeiro indireto). Construir quando se tem uma base herdada ou um apoio material na construção é muito mais fácil do que construir do zero, sem qualquer recurso, isso quando se tem direito a construir alguma coisa.

As discriminações continuaram existindo, e existem até hoje, em que pese à valorização da negritude e à tomada de consciência dos próprios negros perante si como seres herdeiros de uma ancestralidade muito rica de expressões artísticas, culturais, religiosas e espirituais.
No Brasil, a convivência e o compartilhamento dos valores sociais têm se dado de forma aparentemente harmoniosa. Porém, ainda é comum a discriminação na distribuição de oportunidades na esfera econômica. Os negros ainda moram predominantemente nas periferias da cidade. Ainda trabalham nas periferias das empresas de ponta (no setor de limpeza, segurança, vigilância etc).
Qualquer tipo de emprego é digno e merecedor de todo respeito, mas muitos negros são “convencidos”, logo cedo, a ir, com ou sem vocação, para a fila dos cargos de apoio ou da linha de fundo, por causa de sua cor. Os critérios de seleção se definem não somente na apresentação dos currículos, mas também já na opção deles (obrigatória) pelas escolas e cursos de formação profissional mais baratos, além da acomodação consciencial de seus próprios familiares e professores, desde a infância. O esquema é montado assim, difusamente, mas sempre eficaz para a exibição do frame que todos vemos no mercado. É uma tendência estatística que ainda se confirma visualmente. Porém, no plano interindividual, a relação empresa-empregado ou empresa-candidato a emprego sempre leva em conta outros fatores (muitos deles invisíveis aos olhos) para seu sucesso ou para seu fracasso, independentemente de aparências estáticas tridimensionais.

O raciocínio, ainda que inconsciente, de muitos empresários chamados “privilegiados econômicos” é o seguinte: “nada contra os negros como clientes, mas como representantes diretos da pessoa jurídica comercial perante a clientela...” É uma forma sutil de empunhar ainda o azorrague ou a chibata que se usava outrora para as punições no regime escravocrata, mas que também marcava quem era quem no jogo das dominações interétnicas. Ainda tem deixado seus vincos.
Quase sempre, os negros que ocupam cargos estratégicos ou bem remunerados nas grandes empresas são aqueles que fizeram carreira e provaram sua capacidade funcional na lida diária. Normalmente, a injustiça acontece é na seleção dos currículos, após a análise da experiência escolar, da experiência profissional e da fotografia.
[Até algum tempo atrás, era comum se ler nos anúncios de emprego: “exige-se boa aparência”. Ficou proibido por lei. Agora, a frase-chibata para negar aos negros certos cargos executivos, cargos-vitrines ou cargos-propagandas é: “Vossa Senhoria não atinge o perfil exigido pela empresa”...]

"Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, ainda haverá guerra." - (Bob Marley)

As condições econômicas de moradia, de trabalho e, consequentemente, de salário, são o principal termômetro de identificação das distorções ainda havidas nas relações pragmáticas entre as formações socioeconômicas.
Nas festas abertas e sociais, nas manifestações populares em geral dos fins de semana, normalmente, todos são iguais perante a lei (exceto nas abordagens policiais a suspeitos ou a simples transeuntes). Porém, de segunda a sexta-feira, a lei costuma ser aplicada de forma branda para os de cor branca e de forma aleijadora e alijadora para os “de cor” que portam currículos preto-e-branco. É uma seletividade sutilmente segregacionista.
O problema não é isoladamente apenas a imagem epidérmica do candidato a emprego, mas também a sua condição de incipiente e de insipiente oriundo de senzalas-escola.
As escolas públicas, em sua maioria (impressão que ainda tenho em 2010), têm grades curriculares forjadas para moldar os estudantes, desde o ensino fundamental, para serem escravos do sistema. Não lhes capacitam a se aprovarem por mérito nas faculdades, nem nos concursos de emprego e nem na articulação verbal nas provas-entrevistas do mercado de recursos humanos. [Para afastar a associação com prisão metodológica e didática, tem-se usado mais amiúde nos ambientes pedagógicos a expressão “currículo escolar” ou “matriz curricular” em lugar de “grade curricular”.]

A questão não é apenas corrigir erros do passado através de ações reparatórias. Fazem-se mister também políticas liberatórias, unificatórias e, para garantia e sustentação disso tudo, políticas educacionais de qualidade. E que estas não visem necessariamente a atender às exigências mercadológicas, nem se baseiem nos padrões capitalcêntricos, muito menos nas exigências da plutocracia ou milionocracia, mas que priorizem a formação de mentes libertárias, estimulem o pensamento filosófico, a consciência crítica, a saúde integral e a ética crística, social e humanitária.

Hoje em dia, já não é mais nada tão pessoal, ou seja, de pessoa humana para pessoa humana, como soía acontecer no passado. O preconceito é mais das pessoas jurídicas high society, entranhadamente contaminadas pelas ideologias lucrólatras do mercantilismo capitalista, contra as pessoas físicas trabalhadoras “de cor" e preconceituosamente destoantes. As pessoas humanas melanodermas (de pele excessivamente pigmentada ou conceitualmente negra) ainda não satisfazem os interesses econômicos das pessoas jurídicas que vivem de fachada e de “boa aparência” perante sua clientela high society que compra grifes, marcas e artigos de luxo e que é predominantemente composta por leucodermas (de pele deficientemente pigmentada ou conceitualmente branca).
O vácuo relacional trabalhador-negro/empregador-branquista se alarga ainda mais quando, ao aspecto da tez, se somam outros preconceitos, como o estético, o biotípico, o indumentário, o etiquetário, o gestual e o linguístico.
As empresas não socioelitistas, mas que também concorrem pelo lucro e correm do fantasma da falência, também discriminam os “pobre-descendentes” e, dentre estes, os afrodescendentes, por causa da capacitação cada vez maior que é exigida no setor de produção. A alta seletividade exigida pelo atual capitalismo globalizado favorece sobremaneira aos candidatos oriundos das escolas técnicas e das grandes faculdades e empresas de ensino de ponta, que, por sua vez, exigem muita verba dos alunos-clientes.
E assim esse ciclo difuso vai se metastizando mais e mais no corpo social, alargando, consequentemente as sarjetas marginais da alta empregabilidade.
Enquanto isso, têm se fortalecido, sem riscos de falência, a indústria dos entretenimentos emburrecedores, das (in)culturas de massa, das drogas sociais dessensibilizantes, dos cacetetes-chibatas e das grades carcerárias.
É uma tendência já anacrônica, que precisa ser banida do consciente coletivo empresarial e do inconsciente social em suas várias vertentes.

Talvez todo esse frame somente se modifique quando essas próprias divisões gerais de classes sociais e suas injustiças distributivas virarem páginas passadas no grande livro da dialética histórica do planeta, a partir do pleno resgate e consolidação de uma cosmovisão ancestral mesclada com uma supervisão universalista e, consequentemente, confraternativa e agregadora global. Será quando houver um trânsito interétnico livre e igualitário, para apreciação e produção de manifestações culturais, religiosas e artísticas universais, ainda que entre estas perdurem marcas históricas de matriz europeia, africana, americana, indígena, asiática etc. Será também quando o atual capitalismo leviatânico sofrer uma freada em sua ascensão desnaturalizante e desculturalizante, suficiente para fazer resplandecer outros valores maiores da vida, outros focos de beleza humana, outros sentimentos espiritualizantes e mais voltados para o amor, fraternidade respeito às diferenças e compreensão e perdão aos erros de visão próprios e alheios do passado.
Mas, ainda na atual contemporaneidade, algum laivo dessa sociedade igualitária dos sonhos já poderá ser perceptível, a partir da soma substancial de iniciativas etnoinclusivas dos indivíduos pertencentes à high society, à low society, às diversas castas educacionais e às direções empresariais e governamentais. Vamos esperar, mas engendrando microações socialisticamente voluntárias, individuais e convergentes, desde já, seja na sala de aula, de frente para o espelho, no ambiente empresarial, no reduto religioso, enfim, em cada oportunidade, em cada esquina.


AUTOESCRAVIDÃO: O PIOR JUGO

Como seres humanos, nós temos a capacidade natural de nos adaptar a qualquer condição de sobrevivência, mesmo que seja imposta por outros seres humanos. Por pior e mais desumanizante que seja a condição, a partir do raciocínio que formamos a respeito, podemos não morrer. Podemos até viver em paz, amar, sonhar, brincar, mesmo presos a ambientes objetivamente torturantes. Entra em bom socorrimento, também, o conjunto total de interações que estabelecemos com todos os estímulos de sustentação externa, horizontais ou verticais, e internas.
O que mata, adoece ou faz sofrer não é a condição externa em si, mas é sua não aceitação sistemática e conflituosa pelo condicionado. É o não desenvolvimento de qualquer meio alternativo de respiração natural que não entre em conflito com a condição. É, principalmente, a acomodação prostrativa que impede o crescimento, apesar de ou independentemente da condição, até poder se libertar dela por completo. Aliás, qualquer estado de inércia prolongada já é em si uma pré-condição para uma condição dolorosa posterior.

No Brasil, há uma tendência histórica de se criar e se aceitar um condicionamento comportamental inferiorizante dos negros, ainda na infância. [A famosa boneca Barbie, por exemplo, é vendida em várias cores mundo afora, a depender da cor predominante da população de certos países que são grandes compradores. Já no Brasil, a empresa Mattel (sua fabricante), só a vende bem branquinha, loiríssima e magérrima. Será que não lhe disseram que aqui não é a Europa? As crianças, inclusive as negras, veem nela o modelo de beleza. Já começa por aí a supervalorização da etnia branca e subvalorização da etnia negra.]
Nos seus primeiros relacionamentos sociais, muitas crianças negras já se autoestigmatizam. Como elas são induzidas, às vezes, pela própria educação doméstica e televisiva, a verem como pessoas bonitas, alegres e bem sucedidas apenas as pessoas brancas da televisão, então quando começam a frequentar os primeiros ambientes sociais misturados, especialmente o ambiente escolar, já entram com o seguinte letreiro escrito na testa: “Favor, excluir-me” (das oportunidades de ascensão social, intelectual, profissional...).
Na prática, esse letreiro é manifestado pela baixa autoestima, timidez improdutiva, esqualidez mental, total desinteresse pelo aprendizado, incapacidade de aceitar e superar desafios e pela ausência de metas e ambições pessoais.
Assim, elas já antecipam lentamente a sentença do processo social que tende a condenar os negros e os pobres a se manterem degredados, desde o berço, nas bordas do grande círculo das oportunidades de ascensão socioeconômica.

O trabalho em condições escravistas torna-se um inferno ou uma tortura justamente para aqueles que se enfraquecem e se acomodam ao regime da chibata ou dos rigores laborais. Quando se toma consciência da sua situação, geralmente o caminho é a liberdade, senão logo do ambiente torturador, mas imediata e principalmente da consciência.
Qualquer condição deve ser superada com os poderes internos do condicionado, e a superação é o caminho natural para a libertação completa dos jugos interiores ou dos jugos exteriores. Cada um de nós precisa se alforriar de conceitos e preconceitos escravizantes, a todo momento. A abolição é um processo de cada dia.
A propósito, vós, que estais aí no vosso sossego leitoral, até agora, respondei-me, por favor: Vós sois escravo de quê? Estais se escravizando em quê? Estais livre de quê? Estais se libertando de quê? O que ainda eventualmente viveis a carregar: chibata ou grilhão? Azorrague ou libambo?
Cada um de nós ainda tem, de alguma forma, um escravo e um algoz a libertar de dentro de si mesmo.

“Tava doromindo, cangoma me chamô.
Disse: levanta, povo! Cativêro já cabô!”
– Versos de “Cangoma”, canto de jongo de domínio público, famoso na voz de Clementina de Jesus (escutai em http://www.youtube.com/watch?v=YLIzH0yKq5w).

Tão vital quanto a lei da aceitação é a lei do progresso.
Os preconceitos de cor atualmente reinantes na nossa sociedade são meio obscuros e velados. Quase sempre são demonstrados inconscientemente, porque consideram ainda as influências mais racistas e discriminatórias do nosso passado escravista.
Muitas demonstrações de preconceito são fugidias e “escapam” através dos atos falhos, por um velho costume enraizado dentro do próprio preconceituoso, ou por estar incutido na sua herança cultural subjacente dos velhos tempos.
Grande parte dos preconceituados, igualmente, não consegue superar-se e acaba reacendendo às vistas alheias o preconceito de que tendem a ser vítimas. Frise-se, inclusive, que muitos brancos preconceitousos sistemáticos assim o são, porque ainda sentem na pele perispiritual os traumas sofridos como negros em encarnação passada. Pode-se dizer figurativamente que são brancos de alma negra mal resolvida. O campo mental registra pensamentos, sentimentos e sensações físicas, psíquicas e emocionais marcantes, que podem atravessar várias encarnações, enquanto não houver fatores suficientemente fortes para promover uma libertação definitiva de tais autoarquétipos.
Muitos brancos preconceitousos sistemáticos assim o são, porque ainda sentem na pele perispiritual os traumas sofridos como negros em encarnação passada. Pode-se dizer figurativamente que são brancos de alma negra mal resolvida. Não se autorresolveram antes como negros, e ainda não se autorresolveram agora como brancos.

"É a nossa mente que cria a escravidão e é ela também que cria a libertação". – Sai Baba

A solução encontrada por muitos discriminados e integrantes de grupos de desfavorecidos sociais é um maior empenho no sentido de serem melhor do que a média da população, em todos os sentidos. Essa superação abrange, inclusive, o alinhamento da estética indumentária, a observância mais precisa das regras de etiqueta e, principalmente, uma melhor performance escolar e profissional. Isso não deixa de ser também uma espécie de autodiscriminação, ainda que para melhor! Em muitas situações, ela serve para favorecer o equilíbrio entre o que a sociedade (inclusive a escolar), em princípio, costuma esperar deles (não muita coisa) e o que eles acabam oferecendo efetivamente à sociedade, em termos de resultados, adiante.
Muitos discriminados, através dessa linha acima da média, costumam reverter olhares preconceituosos em seu derredor, e acabam conseguindo, depois de muitos esforços, um lugar mais digno sob o sol das oportunidades da ascensão social. E o retorno positivo pretendido por eles avoluma-se, principalmente quando essa autopreparação superante sobre a média comum se reverte em resultados úteis e proveitosos para si mesmo e para a coletividade.


“Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados. Nosso medo mais profundo é o de sermos poderosos além de qualquer medida. É a nossa luz, não as nossas trevas, o que mais nos apavora. Nós nos perguntamos: - Quem sou eu para ser brilhante, maravilhoso, talentoso e fabuloso? Na realidade, quem é você para não ser? Você é filho do Universo. Se você se fizer de pequeno, não ajuda o mundo. Não há iluminação em se encolher para que os outros não se sintam inseguros quando estiverem perto de você. Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós. Não está apenas em um de nós, está em todos nós. Conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo. Quando nos libertamos do nosso medo, nossa presença automaticamente libera os outros.” – Nelson Mandela (1918, advogado, ex-líder rebelde e ex-presidente da África do Sul), em trecho do seu discurso de posse como presidente.

O mais esperável é a igualdade de direitos sociais para todos os aparentemente diferentes, sem que estes precisem forçar mudanças que não quereriam fazer se fossem privilegiados sociais. É gostoso se ter e se exercer o direito de apenas ser e deixar ser o que se é, quer como ser humano, quer como ser cultural, quer como ser étnico. A paz, a igualdade, o respeito uns aos outros indivíduos e umas às outras formações sociais é que devem reger todas as relações conviviais, seja no ato ou na execução dos contratos, seja no compartilhamento das alegrias, dos prazeres e da felicidade.
Em princípio, cada um tem o direito de aprender o que quiser, vestir-se como quiser e fazer o que quiser, desde que não prejudique direitos perigosamente próprios nem alheios. É esse direito subjetivo de ser-se que o Estado, a sociedade como um todo e cada indivíduo em si devem respeitar e fazer respeitar. Abaixo os chamados privilégios sociais oriundos de diferenças étnicas, econômicas, educacionais ou culturais!

Discriminar sistematicamente é um vício. Quando não vivemos ostensivamente nesse vício, temos a tendência em estado latente. A depender da pressão, da irritação ou do estímulo emocional em um conflito, costumamos arrancar do inconsciente expressões racistas ou pejorativas que tentam ferir a integridade do adversário que tem uma marca social e historicamente discriminada. Depois vem o arrependimento, ou não, mas o crime já foi perpetrado.
Quase todos nós somos educados socialmente para discriminar os outros ou nós mesmos que já somos culturalmente discriminados, desde a infância. Isso se transforma facilmente num vício de comportamento.
Daí a importância do exercício constante de reeducar também os sentidos e os reflexos adquiridos para comportamentos antidiscriminatórios. As piadinhas, a simples maledicência e qualquer associação dos feitos com aspectos aparentes de alguém são formas de preconceito, seja positivo, seja negativo.

Recado particular para a Srta. Judiceia, de Campo Grande(MS): A atitude é esta: não discriminar a nós mesmos, não discriminar os diferentes de nós, não discriminar os que discriminam suas próprias diferenças e não discriminar os que discriminam os outros, mesmo que entre estes outros estejamos nós mesmos. Podemos e devemos recriminar ações discriminatórias, inclusive acionando as autoridades competentes, se for o caso, mas não exatamente humilhar, ridicularizar ou devolver ação igual para o discriminante.

Hoje, o grande algoz comum a todos é o sistema capitalista e seu azorrague de mil correias, das mais enganadoras às mais cruéis e bestiais. É um meio mais influenciador sobre nossas vidas do que o meio gráfico das tabelas estatísticas do IBGE
Ao lado dele, entretanto, o grande império que se interpenetra aos poucos na mente de todos os indivíduos mais sintonizados com as novas ondas conceituais autolibertantes é o império da consciência e do amor fraternal.
Oxalá, quando as futuras leis corretivas e expansivas estiverem em pleno vigor, coincida também de já estar em pleno desenvolvimento o mais esperado de todos os valores relacionais: a ética, mesmo de matriz étnica, cultural, religiosa, bíblica, crística, familiar ou simplesmente pessoal. Quando cada um terá força e capacidade de destrancar seus grilhões enferrujados, com a chave da consciência cósmica e do amor crístico, confraternativo, solidário e respeitante a todas as diferenças, impulsionado, inclusive, pela transpercepção da linha evolutiva multiexistencial e suas inexoráveis leis de livre-arbítrio, ação e reação, causa e efeito, progresso e amor. Oxalá!



E-book: http://recantodasletras.com.br/e-livros/2920017

Josenilton kaj Madragoa
Enviado por Josenilton kaj Madragoa em 02/01/2011
Reeditado em 20/04/2011
Código do texto: T2704221
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