A literatura de cordel e seu contexto histórico
A literatura de cordel é comumente conhecida como um conjunto de folhetos e romances normalmente dependurados em barbantes (corda ou cordão) por sua vez vendidos em distintos lugares como mercados, lojas de conveniências, em praças públicas, nas grandes e pequenas cidades desse nosso imenso Brasil. Essa forma de expressão literária, embora tenha sua maior produtividade nos estados do nordeste, ultrapassa diversas fronteiras e se espalha por todo o território nacional.
Observamos que muitos estudiosos que se interessam pela história dessa literatura, compartilham de uma forma comum, a assertiva de que surgiu na França medieval de Carlos Magno entre os séculos V e XIII. A partir daí “os cavaleiros andantes” levaram até Portugal através de manuscritos e da oralidade. Assim, a tradição desses tipos de versos rimados surge na Europa e se espalha para outros continentes pelos colonizadores a partir das grandes navegações. Os autores desse período – e até nossos dias – adquiriram o costume de recitar suas obras em distintos lugares e, mais adiante, em praças públicas com o objetivo de atingir com maior alcance um número mais extenso de pessoas que passam às vezes desapercebidas.
No princípio, os folhetos eram de 11x16 cm de 8 a 64 páginas, aproximadamente, mais conhecido como “romance” com histórias de cavalaria, de donzelas não somente versados, pois havia casos de escrita em prosa. A origem do vocábulo “Cordel” foi registrado pela primeira vez em 1881 no Dicionário Contemporâneo de Francisco Júlio Caldas Aulete (1823-1878) editado em Portugal. Nesse período surgiu na Europa um estio literário bem conhecido pela historiografia literária oficial conhecido como Trovadorismo que, por sua vez, demonstravam certa característica popular. Composições conhecidas como “cantigas de amor” e de “amigo”, como também os “jograis” que era o nome dado a artistas ambulantes. Poetas, declamadores, malabaristas, palhaços e saltimbancos, surgiram nesse período e ocupa vasto espaço no estudo da historiografia literária diferentemente do cordel que ainda não ocupa o lugar que merece nesse campo de estudo.
De qualquer forma, muitas marcas da literatura popular deve-se a essas primeiras manifestações trovadorescas da Idade Média. Como fazem os repentistas e poetas hoje, os trovadores poetas, cantores saiam pelas ruas versejando e cantando não muito as agruras do povo, pois a inquisição ameaçadora impunha medo, mas versejando e cantando louvores a natureza, aos amigos e amores marcantes nem sempre vividos, quando não, pensados.
Da época de Carlos Magno e os doze pares de França, a expressão cultural depois denominada Literatura de Cordel chegou à Península Ibérica pelas mãos de cavaleiros andantes e seus pajens. Em Portugal dos séculos XVI, XVII e XVIII, especialmente houve uma divulgação em grande escala, se considerarmos as circunstâncias portuguesas em que, à época, muito mais de dois terços da população era formada por pessoas sem escolaridade alguma. Dos ancoradouros portugueses partiu o Cordel rumo a Salvador e ao Rio de Janeiro, onde conseguiu alguma reverberação à época do vice-reino e do primeiro reinado. Foi, contudo, seguindo rumo norte que esta espécie literária se fez bem mais pujante, de maneira a se incorporar, hoje, ao modo de ser descontraído das gentes do Norte e do Nordeste brasileiros. (PORFIRO, 1999. Pg, 01)
Para Porfiro (1999), a expressão literária comumente conhecida como literatura de cordel amplamente difundida em todo o território brasileiro tem sua origem na França medieval. Os cavaleiros andantes levaram essas manifestações para outros países e a aceitação dessa literatura se deu, sobretudo, nas camadas populares, isto é, pelas pessoas de baixa escolaridade ou sem escolaridade alguma. Assim, chegando a Portugal, os colonizadores que embarcaram para diversos países levaram consigo o cordel e difundiram de forma que foi bem aceita pelos colonizados.
Em Portugal uma lei promulgada por Dom João V, em 1789, dava privilégio para os cegos comercializarem essa literatura. No seu início, as narrativas tradicionais e fatos circunstanciais que envolvia o cotidiano das pessoas eram os principais motivos que levavam os autores a produzir ainda nesse período. Dessa forma, já podemos observar dois pontos específicos de bastante relevância para a compreensão dessa forma de expressão literária. É que no seu marco inicial observamos que essa literatura tem seu ponto de partida na oralidade e na memória da coletividade.
Como era fonte de comunicação antes mesmo da criação do jornal, isso acabou por possibilitar o escritor explorar fatos e acontecimentos sociais que fazia parte do cotidiano e da memória das pessoas. O grande atrativo dessa literatura era a força da expressão oral. Dessa forma, as “folhas volantes” ou “folhas soltas” como eram conhecidas em Portugal estão entre as primeiras manifestações da literatura de cordel.
Um dos exemplos dessa exploração da oralidade e da memória por parte dos escritores cordelistas são as histórias de Carlos Magno, da Princesa Magalona, etc. Eram histórias contadas e passadas de pessoa para pessoa, não obstante, compartilhada pela coletividade. Por sua vez histórias até de outras nacionalidades eram adaptadas ao gosto português e de uma forma oral eram passadas para outras gerações. Somente com um tempo essas histórias foram escritas e versejadas por esses poetas populares.
Essa literatura era passada de boca em boca, muitas vezes feita de improviso, registrada pela memória dos ouvintes dos próprios poetas e vendedores que declamavam entusiasmadamente inquietando os presentes e até cantada pelos violeiros artífices de climas descontraídos e até nostálgicos – pra não ir tão longe. Essa literatura de cordel é publicada em folhetos baratos justamente para alcançar as camadas populares. Esse é um dos motivos de essa literatura ser comumente conhecida como literatura popular , pois é fundamentalmente, em todos os aspectos, feita pelo povo e para o povo. No México e na Espanha essa literatura é conhecida como “pliego de cordel” ou “pliegos sueltos”. Em Portugal, de “folhas volantes” ou “folhas soltas”. No Chile, de “coplas de ciegos”. Cada país tem a sua forma própria de acordo com a língua (idioma) de definir, conceituar e classificar a literatura de cordel.
No Brasil, as primeiras manifestações literárias do cordel são datadas comumente a partir da segunda metade do século XIX. Leandro Gomes de Barros escritor cordelista com mais de dez mil folhetos vendidos foi um dos primeiros autores desse gênero. Antes da produção escrita desse autor, a literatura de cordel era apenas fruto das manifestações orais e, essa disseminação, por sua vez, fazia parte de um intenso exercício de memória por parte até mesmo dos autores e seus devidos interlocutores. Os que sabiam ler e escrever, nesse caso, os próprios autores como foi dito ou mesmo os próprios vendedores que recitavam as narrativas em praça pública e em feiras com o objetivo de vender os folhetos, eram os principais divulgadores dessa produção literária.
Introduzida no Brasil pelos colonizadores lusos que trouxeram com eles as conhecidas “folhas soltas” e até mesmo muitos manuscritos, a literatura de cordel ganhou mais espaço e divulgação bem mais tarde com o surgimento de pequenas tipografias ainda no século XIX. Assim, essa manifestação literária ganhou mais terreno fértil no nordeste e aqui se fixou como uma das peculiaridades da cultura regional. Como era comercializada em Portugal, França e Espanha era comum encontrar nos mais diversos lugares, sobretudo, feiras livres, cordéis pendurados em barbantes ainda com temas longínquos, mas retratando as evoluções sociais.
O cordel chegou ao nordeste brasileiro com o “romance popular” ganhando mais ascensão com os romances brasileiros que passam a ser divulgados entre nós a partir do fim do século XVI e início do XVII. Os colonos trouxeram essa literatura com objetivos e interesses variados. Ela chegou ao Brasil, assim também como chegou em países como México, Peru, Argentina e Nicarágua. Estes países em questão utilizavam folhetos populares com personagens europeus e nacionais envolvendo, por sua vez, temas patrióticos, políticos, amorosos, profanos lidos e cantados.
No princípio, essa literatura teve maior aceitação no nordeste brasileiro, mas avançou mata a dentro e chegou até a Amazônia aonde teve grande repercussão nas praças de Belém e Manaus. É curioso observarmos também que como a Amazônia necessitava de uma grande mão-de-obra para trabalhar nas seringueiras e colher o látex, bem valorizado naquele período, foram recrutados nordestinos sertanejos para suprir a necessidade dessa produção. Dessa forma, os nordestinos levaram consigo o cordel. Os que sabiam ler levavam manuscritos e os que não sabiam levavam na memória os diversos versos rimados e apreciados por eles e pelos nordestinos de uma forma geral.
Dessa forma, com a migração do nordestino para diversos estados do país, o cordel adquire maior divulgação e começa a se espalhar e se fundir com outras culturas regionais. Com relação às temáticas que o envolve, estas também são inevitavelmente influenciadas por outras contextualizações, tradições e realidades locais na qual o autor cordelista está inserido. O ponto curioso nesses contextos é que a maior parte do público leitor do cordel continua sendo, sobretudo, migrantes nordestinos sertanejos.
Outra forma de expressão da literatura de cordel se deve aos típicos cantores repentistas. Com versos improvisados acompanhados de uma viola ou violão, os repentistas criam narrativas orais que vão desde a exploração de uma determinada realidade social até aos combates e desafios entre eles amplamente festejados. Inevitavelmente, a maior parte dessas narrativas se perde por serem registradas de uma forma muito rápida apenas pela memória da coletividade, isto é, dos ouvintes.
O Desafio de João Melchiades com Claudino Roseira:
Roseira:
Senhor Melchides respeite
Se quizer ser respeitado
Olhe bem que seu Roseira,
É cantor considerado
Sou um cantor do agreste
D´um saber muito elevado.
(...)
Melchides trate melhor
A este Claudino Rosa
Carreira de besta fera
Saber de seu Ruy Barbosa
Trovão do mez de janeiro
Ventania temerosa.
Melchiades:
Roseira isso é um horror
Você não se considera,
Com esta barbaridade,
O seu cantar não prospera
Deseja ser Ruy Barbosa
E diz que é besta fera.
(Leandro Gomes de Barros 1865-1918)
Essa forma de construção é bastante utilizada pelos poetas populares. Não há muita distinção entre a forma de construção do repente e do cordel tanto que às vezes até se confunde um com o outro quando colocados em forma de texto diferenciando-se apenas pelo acompanhamento de instrumentos musicais e pelo improviso bastante característico do repente, pois o poeta popular escreve pausadamente pensando ao passo que o repentista canta improvisando. Entretanto, isso não quer dizer que seja uma regra. Nem sempre funciona dessa forma. Compreendemos também que a décima é a estrutura mais utilizada na improvisação dos repentistas e já pouco utilizada nas construções do cordel. Essa à cima, por exemplo, é construída de estrofes de seis versos conhecida como sextilha com rimas alternadas abcbdb. Nas septilhas geralmente as rimas são postas de forma semelhante às sextilhas como, por exemplo: abcbddb.
Os desafios tanto do repente, quanto do cordel, como foi dito, é bastante festejado, sobretudo, no Nordeste brasileiro. Essa peleja que gira em torno do repente reúne sempre um grande número de pessoas que sempre escolhem ficar do lado de um ou do outro repentista que sempre busca atingir o seu adversário e, assim, demonstrar ser superior na arte da cantoria e do improviso. Essa, evidentemente, é a mola propulsora desses artistas da palavra.
Discussão de João Formiga com Francisco Parafuso:
Estava João Formiga
Versejando alegremente
Nas terras do Ceará
Quando chegou de repente
Um cantor do Mato Grosso
Quase tonto de aguardente.
O dono da casa disse:
— Pois então, meu camarada
Você canta com Formiga
Uma discussão pesada
Se ganhar leva o dinheiro
Se perder não leva nada.
Chegou na sala e saudou
A todo o povo primeiro
E disse a João Formiga:
— Vá sabendo cavalheiro
Sou Francisco Parafuso
Dou certo em todo tempero.
(...)
F: Meu amigo Parafuso
Agora vou lhe dizer
Deus me livre de beber
Fumar eu também não uso
Do fumo eu tomei abuso
Porque nada bom não traz
Pois quando eu era rapaz
Quase o fumo me liquida
Enquanto Deus der-me vida
Nem bebo, nem fumo mais.
P: Você é um inocente
Fumar é uma beleza
O fumo tira a tristeza
Fica a pessoa contente
O suco da aguardente
Ao homem dá bom prazer
Portanto posso dizer
Com pensamento profundo
Enquanto eu viver no mundo
Bebo e fumo até morrer.
(...)
F: Você assim vai errado
No caminho da perdição
Não obedece a lição
Do mandamento sagrado
No caminho do pecado
Dando gosto a satanás
Perde as forças divinais
E toda vitalidade
Eu que conheço a verdade
Nem bebo, nem fumo mais.
P: Hoje já é conhecido
Bebe o sábio e o vagabundo
Quem não bebe neste mundo
No outro será bebido
Eu como sou prevenido
Antes da morte descer
Todo dia hei de beber
Fazer minha carraspana
Enquanto existir cana
Bebo e fumo até morrer.
(...)
Aí o dono da casa
Disse: — Está muito boa a porfia
Nem um nem outro perdeu
Vou repartir a quantia
Porém vocês cantem mais
Até amanhecer o dia.
(Severino Borges da Silva 1919-1991)
A discussão de João Formiga com Francisco Parafuso é uma das manifestações ao mesmo tempo literária de certo teor cômico e, também, com um aspecto fundamentalmente religioso e moral. Vendo os dois juntos, um ouvinte lança um desafio entre os dois e promete uma recompensa em dinheiro para o vencedor do desafio. De um lado um defende a sua posição de fumante e consumidor de bebida alcoólica, e de outro um que procura desqualificar as posições defendidas pelo adversário. No final do desafio, o ouvinte que propôs a discussão vendo a destreza dos dois, dá o desafio por empate e propõe dividir a recompensa entre os dois e pede para continuarem na performance. Nessa peleja, observamos a predominância de uma linguagem tipicamente popular por ser simples e de fácil entendimento.
Essa construção é composta, embora introduzida por uma sextilha semelhante ao poema anterior com rimas alternadas abcbdb, por décimas que são estrofes de dez sílabas raramente utilizadas no cordel atual.
A doença do rico é a saúde do pobre:
Ou senhora Aparecida
Santa padroeira nodre
Abençoai este livro
Que minha pena descobre
Sobre a doença do rico
Ou a saúde do pobre.
(...)
O filho do rico estava
Com manta e enxoval bordado
Trancelim de ouro fino
Sapatinhos prateado
Num berço chique e elegante
E seis enfermeiras de lado.
O filho do pobre estava
Numa grade de madeira
Sem manto e enxoval
Sem sapato ou enfermeira
Sem bico e sem trancelim
Na mais profunda berreira.
(...)
Chegando o médico parteiro
Deu alta às duas mulher
A mulher do rico foi
Pra São Francisco Xavier
E a mulher do pobre foi
Pra favela do Jacaré.
Chegou a mulher do rico
Na sua rica mansão
E depressa duas babá
Correro para o portão
Pra receber o garoto
Filho do rico patrão.
O menino pobre tem
Mingau de fubá cozido
Sem leite tôd ou aveia
Aguado e sempre dormido
E até sem leite materno
Que o da mamãe foi sumido.
(Jota Rodrigues)
Esse cordel trata de uma realidade social bastante comum tanto nas periferias, sobretudo, das grandes cidades brasileiras como é o caso de São Paulo e Rio de Janeiro para onde em busca de uma vida melhor, muitos nordestinos migraram. A realidade da vida nas favelas e a falta de sustento para as famílias é bem retratado nesses trechos do poema: A mulher do rico foi/ pra São Francisco Xavier/ E a mulher do pobre foi/ pra favela do jacaré. E mais adiante: O menino pobre tem/Mingau de fubá cozido/ Sem leite tôd ou aveia/ Aguado e sempre dormido. Esse contraste colocando de um lado os ricos e do outro os pobres não deixa de ser uma observação sempre pertinente colocada pelos poetas populares.
Aqui a linguagem informal que, ao seu turno, é uma das características mais marcantes da poesia popular pode facilmente ser observada nas expressões: “Deu alta às duas mulher”, “E depressa duas babá”, “Correro para o portão”, “Sem leite tôd ou aveia”. A falta de variantes de prestígio caracteriza claramente esse processo. A concordância também não é uma preocupação na criação artística da poesia popular, de uma forma geral. Esse é um dos pontos caracterizadores desse tipo de literatura fundamentalmente voltada para a realidade , linguística, social e artística das classes populares. O poeta fala a linguagem que deve ser entendida pelas pessoas simples de origem pobre e sem instrução. Isso, inevitavelmente, qualifica a literatura de cordel como literatura popular e deixa sua marca mais profunda de bastante relevância não somente para a compreensão de suas realidades regionais ou suas raízes, mas também para a compreensão dessa literatura que é uma das mais importantes do Brasil e do mundo.
Essa composição de Jota Rodrigues segue a mesma estrutura da de Leandro Gomes de Barros. São estrofes formadas por seis versos (sextilha) de rimas alternadas abcbdb. Percebemos também que o cordel no seu princípio tinha estrofes de quatro versos ou “pés” conhecida também como quadra que desapareceu do cordel no começo do século XX. Havia também os poemas de vinte e quatro estrofes com cada estrofe começando por uma letra do alfabeto português. Nos dias atuais isso também caiu em desuso.
Dizer quem foi o primeiro autor de um texto de cordel é tarefa muito difícil. Sabes-se que pouco antes da Guerra de Canudos (1896) foram encontrados manuscritos que remetiam à tradição oral do cordel, mas nem um nome em particular vinculou-se à autoria destes manuscritos. Pouco depois desse período o autor paraibano Silvino Piraú Lima publicou versos em forma de cordel. Entretanto, o grande nome dessa poesia popular foi, indubitavelmente, Leandro Gomes de Barros (1865-1918) com cerca de dez mil folhetos impressos. Esse autor começou a publicar seus versos em forma de cordel do final do século XIX até sua morte em 1918. Nasceu na fazenda Melancia, em Pombal-PB, no dia 19 de novembro de 1865 e faleceu em Recife-PE, no dia 4 de março de 1918. Nasceu na Paraíba, mas foi em Recife (PE) que lá publicou toda a sua obra. Seu livro “O Cachorro dos mortos” vendeu mais de um milhão de exemplares. Inicia sua produção por volta de 1889 até sua morte, como já fora dito, escrevendo aproximadamente 600 títulos.
O empresário e poeta João Martins de Athayde (Ingá, 24 de Junho de 1880 - Recife, 7 de agosto de 1959) foi sem dúvida alguma um dos autores que mais contribuiu para a divulgação da literatura de cordel produzida no Brasil no século XX. Assim como Leandro, João Martins nasceu na Paraíba-PB e foi ainda jovem para Recife-PE, onde criou uma editora e nela publicou seus próprios cordéis como também de outros poetas. Com a morte de seu antecessor Leandro Gomes de Barros, comprou da mulher de Leandro os direitos autorais desse poeta e publicou assumindo para si a autoria de muitos desses cordéis. A questão problemática dessa autoria só foi desfeita na década de oitenta do século XX quando a Fundação Casa de Rui Barbosa publicou os originais de Leandro Gomes de Barros destituindo, assim, a autoria de João Martins de Athayde. Entretanto, isso não diminuiu a importância desse poeta que até hoje ainda tem seus textos impressos e espalhados por todo o território nacional.
Os poetas Francisco das Chagas Batista (1882-1930), Firmino Teixeira do Amaral (1896-1926), José Camelo Rezende (1885-1964), João Melquíades Ferreira (1869-1933), Severino Borges da Silva (1919-1991). José Bernardo da Silva, Cuíca de Santo Amaro, João Antonio de Barros (Jotabarros), Patativa do Assaré, Manoel Camilo dos Santos, Rodolfo Coelho Cavalcanti, entre outros, estão entre os principais poetas populares da história da literatura de cordel.
A partir da década de 20, a partir da publicação das obras de Leandro Gomes de Barros, a carreira de poeta e editor de cordel se profissionalizou e essa forma de expressão literária ganhou grande expressão e notoriedade no cenário literário nacional. Estes poetas citados merecem destaque não somente pela publicação de seus textos, mas também pelo esforço próprio em difundir e valorizar essa literatura que infelizmente não alcançou o espaço necessário que merece na historiografia literária.