LEIA-ME (.2)

Todo esse tempo eu andava tentando ser o escritor "straight-edge", abstendo-me de todo tipo de técnicas imersivas, tais como: ouvir música enquanto escrevo, etc. Estava sendo assim já por uns três ou quatro meses, nos quais a única -- que tá mais pra "técnica", já que eu não o fazia exatamente /para escrever/ mas sim /por escrever/ -- "técnica", isto, que usava era ir dar, de tempo em tempo, uma cochilada. Ou seja, após brigar por um tempo razoável com as letras, eu geralmente ia dar uma deitada pra relaxar. E o que ocorria no fim é que isso, geralmente, fazia-me acordar com um bando de outras idéias pululantes...

Até hoje estava sendo assim....

Bom, eu cansei.

...

Me dou bem com fatos. Não sei se tem a ver com o tipo de leitura que tenho feito -- filosofia, contos fantásticos, Darwin, Nietzsche -- desde uns 12... Bom, /certamente/ tem. É que... Bom, simplesmente eu não consigo sentir dó dos outros (?). Às vezes... às vezes eu até sinto, ainda mais por haver sofrido na carne uma vasta gama de dores, das físicas às sentimentais, existenciais e "anestesiais" .../King of Pain/...? (Lembrei da música... é engraçado como TODAS as coisas que você sempre via e ouvia vão começando a fazer sentido quando você passa de "interno" à herói de gibi.)

De todo modo -- eu sempre digo "de todo modo" aqui pelo começo do segundo parágrafo... de maneira que é uma boa forma de distinguir meus "bons textos", ou os que escrevo com sinceridade --, de todo modo, existe uma boa razão pra eu ter juntado aqueles dois tópicos meio "nada a ver" no primeiro parágrafo. O motivo é que eu, dia-após-dia, ouço gente reclamar, das mesmas coisas... E eu não os culpo, claro... é difícil ser "perfeitamente equilibrado" num mundo que obriga as pessoas a equecerem tudo "o que vale a pena" em prol de um monte de merdas inventadas. Não sei se pelo quesito "novidade" ou pelo quesito "burrice intrínseca ao ser-humano"¥, mas hoje em dia preza-se mais os "milagres tecnológicos" do que os "milagres" humanos. E acho que nem preciso argumentar... É só observar... basta observar.

É que eu, no entanto, não costumo reclamar muito da vida. Ela pode, e geralmente consegue, ser /uma bosta/. Mas não adianta, e nunca adiantou, reclamar. Sim, eu sei que as pessoas o fazem de maneira (semi?-)inconsciente... (Como uma boa parcela de tudo o que fazemos, desde a pré-história...) E sei que a culpa que eu sinto por, sei lá,

"estar 'melhor' do que elas?" (Acho difícil que esteja, mas tudo é relativo...)(?),

"não poder ajudar"(??),

"ser um vagabundo que vive a vida como acha que deve, igual ao Frankie*, que toca e escreve mas que (ainda?) não é pago pra isso..." (??)...

É, existem uns "bons 'motivos'", mas, cá entre nós, nenhum deles vale a pena morrer por.

A culpa, no entanto, é um "anti-instinto" (...risca. Melhor: instinto vilão) que, outrora, se é que já /era/, devia ter outro nome... Serei claro... Imagine um samurai, no japão feudal. Este cara, por algum deslize estúpido, matou sua cachorrinha akita. Que merda. Provavelmente este cara passaria por um período de um certo sofrimento, pensando coisas como "Pobrezinha... Tão inocente e eu a matei..." E sentiria algum tipo de culpa -- provavelmente MENOS INTENSO do que aqueles que sentimos hoje... por coisas bem menores.

E este foi o exemplo INTENSO. Agora vamos ao outro, não-tão-intenso, que poderia-se chamar "útil". O nome deste tipo de culpa seria "observância dogmática." Vamos voltar de novo ao japão feudal. Ah, esquece, vamos pra outro lugar, antes que pense que eu sou um "otaku"**, ou essas merdas. (Eu quase não assisto a essas coisas...) Esquece, é mais fácil continuar no Japão, mesmo. Pois bem. Aquele mesmo samurai serve a um shogun***, e, numa de suas entrevistas, repleta de etiquetas... Porra, deixa isso pra lá. Culpa, nesse sentido de "observância dogmática", seria um tipo de sentimento de alerta pra quando se faz algo errado. Pra quando se transpõe uma regra de conduta, gerando o risco de que outros tenham que pagar, em algum grau, pela inobservância do sujeito. É um sentimento bem presente nos humanos, e, embora talvez existe em alguns outros mamíferos, acho que é em nós que ele aparece mais. Sentimos culpa (principalemente os que pensam muito) por uma série de coisas...

Lembro-me de um filme (o "Máquina do Tempo", estreando o mesmo cara de "Amnésia") onde, confrontado com um daqueles seres que habitam o subsolo no futuro, o protagonista ouve de seu rival feioso a seguinte frase: "O grande problema dos humanos está no 'E se...?'" [Adaptada livremente aqui.] Sim, faz um quê de certo sentido. :Enquanto uma pessoa remói os "não foi assin's" do seu passado, perde um bocado de tempo precioso que poderia ser gasto pra MELHORAR as coisas. E, claro, ainda de tabela cultiva o maldito monstro da culpa. É, medos e culpas são mesmo doenças...

E eu ainda não completei o raciocínio grudado ao primeiro parágrafo. Bom, acho que ficou meio tarde agora... Mas farei-o num próximo texto, começando do 0.

Agora, as notas de rodapé:

* I did it my way... (F. Sinatra)

** jp - Aquele que adora animês/mangás.

*** Os "generais" nipo-feudais.

¥ Burrice que, "reformulada" pela ação do acúmulo de experiência, dá origem àquilo que chama-se inteligência.

Cabeça de cu alada
Enviado por Cabeça de cu alada em 28/12/2010
Reeditado em 28/12/2010
Código do texto: T2695342
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