Utopia

Significado filosófico: Que não existe em lugar algum; descrição de uma sociedade ideal; refere-se a um ideal de vida proposto. Pode ser também a expressão da esperança, pois, graças ao projeto utópico – como antecipação teórica daquilo que “ ainda-não-é” -, torna-se possível criar condições para a reforma social. No sentido pejorativo, refere-se ao ideal irrealizável.

Falar de utopia, em filosofia, seria como falar de fé em religião.

Segundo as definições dadas ao termo, principalmente em filosofia, é dizer daquilo que não existe em um lugar espacialmente definido, ou invertendo as posições do pensador, falar de um lugar que não existe espacialmente, pretendendo dotá-lo de uma qualidade que não a possua.

O imaginário das utopias clássicas, diante da expansão marítima e comercial vivida nesse período, dá a tônica e o tema, propriamente dito, ao novo estilo filosófico-literário, inaugurado por Thomas More, que o usa não só para tentar estabelecer um novo sistema social, como dá impulso à própria expansão territorial, dando uma direção para o descobrimento, conhecimento e formação social de um “Novo Mundo”.

Imaginado um mundo novo, More, idealiza Utopia, bem distante da faixa do globo ocupado pela civilização humana no século XVI, mas com uma estreita ligação com o continente já habitado de maneira bem deficiente e inteiramente dominado por uma classe elitizada da sociedade vigente. Além do que a expansão territorial era a idéia central dos governantes desde os tempos mais remotos, tentando ampliar suas fronteiras e riquezas, conquistando novas faixas de terra do planeta. Na época de More, a terra era a principal fonte de riqueza e trazia consigo também poder e status.

A descrição da Ilha é feita com base numa comparação com a Inglaterra do seu tempo, que tem uma função de negativo. È perfeitamente possível entender Utopia como uma anti-Inglaterra. A Inglaterra de More não é mais medieval, os valores não são mais exatamente os da nobreza, embora muito ainda reste dessa época. A singularidade da Inglaterra, onde a nobreza mais cedo começou a perder poder, permite entender porque é tão forte a crítica de More à propriedade privada.

Na sociedade inglesa a essa época já era tênue a linha que distingue burguesia e nobreza. Era muito fácil a ascensão à nobreza de um burguês rico ou a um nobre adquirir as práticas de um burguês. Com isso, haveria mudança drástica, também, não só na construção do conhecimento, como na obtenção do mesmo por uma maior parte da sociedade, tendo todos, o direito à educação de forma eficiente e totalitária.

Thomas More escreveu uma obra onde descreve uma sociedade que entende como melhor que aquela onde vivia. Isso todos sabem. O próprio nome da ilha acaba corroborando essa concepção geral de que Utopia é considerada como o local onde se encontraria a sociedade ideal, e sendo ideal inalcançável. Mas embora o nome da ilha indique que esta exista em um lugar nenhum, ela é situada geograficamente na América, no novo mundo. Ela não é colocada num lugar imaginário, num lugar espiritual, ou num lugar perdido. A ilha existiria no novo continente, sendo então possível fazer a viagem para lá. E é exatamente o que fez Rafael Hitlodeu, o viajante do qual supostamente More ouviu falar da ilha. Por sinal, idoso e sábio, Rafael Hitlodeu representa o rei filósofo de Platão. Essa localização no Novo Mundo está ligada a idéia da esperança de um novo tempo, de uma nova era para o homem, que é o Renascimento e o Humanismo.

A descoberta de uma nova terra trazia consigo uma nova chance, isto é, para os insatisfeitos com o mundo europeu, a possibilidade tanto de encontrar uma nova civilização melhor, quanto um novo lugar para experimentar. O Humanismo do autor estava fazendo um grande rompimento com a idade média, não estava interessado na promessa de uma recompensa no além, no espírito, está preocupado com o mundo físico, com o mundo temporal. Um dos maiores méritos do livro Thomas More foi deslocar o Paraíso para o mundo real.

Constantemente é sugerido por More que Hitlodeu compartilhe sua sabedoria com os reis, fazendo parte de algum Conselho de Estado. Este sempre nega e argumenta com base na crença (experiência ?) de que seus conselhos nunca seriam ouvidos. Hitlodeu, ou melhor More acredita que uma mudança na sociedade não poderá ser feita a partir da vontade das classe no poder num gesto de filantropia. Ao contrário do que acontece em Utopia, um mundo ideal onde um grande patrono, Utopos, reformou a ilha e a tornou na sociedade perfeita, More sabia o que aconteceu com Platão. More queria que a jornada em direção a Utopia fosse feita pelos que estavam insatisfeitos com o mundo como era.

A mudança teria de ser feita de baixo, não pelo povo, mas pelos sábios conduzindo o povo, sem a ajuda dos poderosos. More tinha bem claro que os beneficiários da sociedade em que vivia nunca iriam querer mudar para uma sociedade igualitária e iriam se opor a qualquer tentativa de fazê-lo. Uma mudança no mundo deveria ser preparada cuidadosamente, e divulgada secretamente pelos sábios que a encabeçariam, até que chegasse o momento de bradá-la para os inimigos

A proposta de uma sociedade planejada, trazida por More, embora use da ironia destilada à classe dominante da sua Inglaterra e de outros sistemas totalitários da época, tem suas conseqüências. Como ponto positivo anota a igualdade entre todos, quando nenhum indivíduo da sociedade sairia prejudicado naquilo que ela oferece, mas é bastante “utópico”, esse sistema, pois os governantes serão sempre uma classe distinta dentro de qualquer das sociedades que se venha forma.

Por Osmar Maciel.

Omam
Enviado por Omam em 23/12/2010
Reeditado em 23/12/2010
Código do texto: T2687786