A Arquitetura da Palavra

[...] “este homem extremamente capaz e que quase todos os dias tem ao seu lado um caderno onde escreve, não publica nada e não deixa nada ser publicado”. [...]

Maurice Blanchot. O Livro por Vir, 1984.

Sinto-me identificada por estas palavras… Ao falar do autor sem livro. Porém, sou alguém que não só escreve, busco compreender os meandros do evocar das palavras o sentido que traduz os vários mundos e sentidos que deliciam e satisfazem quem escreve e quem lê. Blanchot é meu autor de cabeceira.

Existe com toda a certeza um ponto entre o escrever e o não-escrever, a partir do qual o Infinito se expressa, aflora… Sobrescrevendo os desejos de personagens e de seus autores numa miscelânea que primeiro pinta imagens no ciclorama da mente e depois, crepita palavras no papel.

São rarississíssimos os momentos que atingi tal ponto, tanto que por estes lampejos, átimos que escrevi de Emídio seus primeiros capítulos. A beleza é pretensa e o ritmo o de uma balada. Em minhas palavras há um árduo exercício estético e uma forçosa vontade de acertar nos erros primários inconcebíveis e errar calculadamente, em trechos e expressões na busca do efeito estético diferenciado.

É com toda certeza uma arquitetura da abstrata, essa constatação é base de toda semiótica. A criatividade/criação que envolve o escrever é como um espírito ornado, uma estrutura feliz que positivamente não será bem traduzida.

Escrever é traduzir, e, por conseguinte, traduzir é interpretar, assim toda interpretação é única, subjetiva… É um olhar.

Um elogio, não podendo ser entendido de outra forma, me foi feito a poucos dias, – pois, em minhas caminhadas onírica, anímicas e mentais, sobreveio em minha censura falha histórias que não me obrigo a escrever, claro e obviamente, porque busco o ponto em que, alcançado, escreverei dúzias de livros livre e espontaneamente, – e em função do relato de um dos meus planos literários, disseram-me: – “Se botar uma semente na tua cabeça, ela até nasce.”

Concordo de todo com o gracejo, porque escrever pra mim é uma conversa infinita, esquizofrênica e lisérgica, (risos), a questão literária um exercício e o efeito estético o objetivo final. A verdade é que ninguém tem dificuldades de se comunicar, e sim, de pensar. Imaginar o fazer-se entender também faz parte da comunicação, imaginar o que se quer comunicar/escrever é um exercício de criação, como uma mentira longa e branca.

É uma tradução que o autor faz do que só ele tem conhecimento, ele pode escrever com infinitos propósitos, o de inclusive fazer o leitor tirar suas conclusões… Dar seu final.

Eu, certamente, não serei capaz de alcançar a maestria de um tradutor, aquele que verte textos fabulosos de uma língua “estranha” para sua língua “mater”.

O receio inerente o meu trabalho de aparecer ou publicar, reside em esgotar toda a obra antes dela ser lida, revisá-la, tratá-la como uma tradução fiel ou infiel, com respeito à arquitetura de paredes e ideias, a estrutura abstrata em que ela se move, se desenvolve e, muitas vezes se governa.

“Sou Artista do verbo e da frase de efeito…” que nunca escreveu um livro (não terminou ainda)… O Escrever tem um desígnio que não pode ser esquecido, não ainda… É um caminho para viajantes de sonhos antes de tudo, e a volúpia, que é a junção de palavras com suas funções lingüísticas inerentes, é um virtuosismo! Falta-me a merecida maturidade… As leituras de base, noites inteiras ou tardes de labor literário…

É a razão que creio como motivo justo para ainda não ter terminado minha primeira prosa… Nem começado os livros que ainda estão por vir.

Fabiana Rosberg
Enviado por Fabiana Rosberg em 22/12/2010
Código do texto: T2686402
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