"RALAÇÕES" SOCIAIS DA NET – UM ENSAIO.

 

É complexa a relação interpessoal pela Net. Tenho a impressão, tomando por base alguns experimentos que fizemos nalguns bate-papos, chats ou que nomes tenham. Evidente que nos aspectos que se seguem, exceções são contempladas, mas grosso modo, identificamos alguns pontos críticos.

 

01 – Parece que a mentira é a verdade instituída;

02 – Grande numero de participantes se comportam meio que num divã de psicanálise.

 

Estes dois pontos são um pouco do que muito ou pouco a gente se depara quando acessa as salas de bate papo. A nosso inserção, como dissemos, foi um pouco na lógica do “eu-lírico” – ou seja, assumindo papéis de homem ou de gay masculino, com seus respectivos codinomes.

 

 

a) Eu, na versão homem:

 

Passando-me por jovem, recebia muito mais solicitações de mulheres interessadas; se, sendo jovem era alto e negro, despertava outros interesses; se estava teclando no reservado, então o papo é outro e caminha mesmo para o erotismo. O tamanho do falo é sempre avocado, embora discretamente, mas nem tanto assim. Outra pergunta recorrente é sobre o estado civil, onde mora, trabalho, etc. O tradicional “como você é” não deixa de ser regra. Mas ninguém é feio, nem pobre, nem mora em favela. Observa-se que boa parte das mulheres nutre, embora disfarçadamente, uma encontrar relação duradoira e, nem sempre dizem se tem filhos e ainda diminuem a idade. Neste sentido, fico me perguntando sobre o óbvio: se não se fala a verdade por que se fazem as perguntas? Será que a natureza humana gosta de ouvir respostas mesmo que sendo mentirosas? Ou será que a internet inverteu o processo levando a verdade a ser buscada através da mentira? Neste caso, certamente quem levaria mais vantagem seriam aqueles tecladores que tivessem mais intimidade com o comportamento humano em sua parte mais condenável, que é o jogo. Uma boa parte dos crimes cometidos através de relações iniciadas pela internet demonstra o alto poder de jogo principalmente dos homens. Tudo em nome da sedução, mas com outra finalidade, principalmente de explorar a fragilidade de algumas mulheres tornando-as vulneráveis. Observamos a grande tendência de mulheres mais velhas quererem envolvimento com rapazes bem mais jovem sendo a recíproca verdadeira. Identificamos alguns homens e mulheres que conversam, conversam, mas na hora de estreitar a relação via MSN, telefone, e-mail, caem fora. Dá-nos a impressão de que a internet pra eles funciona como válvula de escape, terapia virtual, etc.

 

 

b) Eu, na versão gay masculino:

 O script se repete na grande maioria do anterior. Independente do papel assumido são pessoas. E pessoas têm a mesma natureza, independente do apito que gostem de tocar na cama com homens, mulheres, gays e assemelhados. Certamente que a conversa na sala de bate papo gay caminha por lugares mais extravagantes, mais objetivos. No geral, as conversas são definidas pelo próprio login dos participantes tipo: “Paulão 21” – que induz a ser um homem grande com todos os predicados igualmente grandes. Outros já tem login mais objetivo: “passivoprocura”, “coroaativocomebunda”, etc.  Nomes de animal também são expostos: “gatopreto20”, “cavalobrabo”, etc.

Diferente da janela hetero, a gay é fálica por excelência. Surgem convites constantes para sexo “numa real” ou via CAM. As conversas geralmente giram em torno de quem “dá e quem come”, não sendo possível identificar outras intenções como por exemplo romance duradoiro, etc. Esta visão romanesca é preponderante nos bate papos heteros, conforme já nos reportamos.

Outro aspecto bastante identificado foi a lógica da beleza e da riqueza. Há uma excelência marcada pela maioria dos gays das salas de bate papo em cima da mentira deslavada, acima de tudo quando se descreve o biótipo de cada um. Poucos se dizem pobres de feição, mas no geral moram bem e declaram-se de pouca idade ou maduros, nunca idosos.

 

c) Eu, na versão gay feminino:

 

De fato não nos demoramos nessa sala, embora fizéssemos algumas inserções. Muita coisa se repete na lógica da mentira em forma de verdade. No geral, as mulheres têm outro movimento, até porque não tendo órgão sexual externo como o homem, as suas relações no geral são afetivas mesmas, na base da fantasia e na execução dos papéis que desempenham na relação com a outra. Percebemos que entre elas há uma maior facilidade para encontros e liberação de outros contatos. Nas conversas, pouco se dá importância quando uma delas diz que tem uma companheira. Dá-nos a impressão que isto as torna mais caçadoras, como se o espírito masculinho baixasse nelas. Fica mais difícil num bate pago lésbico identificar quem se posiciona com sapatão ou como sapatilha. Pra quem não sabe, sapatão funciona um pouco na lógica do homem; sapatilha é mais feminina, mais doce, um pouco na lógica da mulher, não necessariamente nesta mesma ordem.

Deste modo, estas considerações embora superficiais, podem nos dar uma visão rápida do universo feminino buscando os seus gêneros iguais para sexualidade. Para ilustrar, finalizamos com o registro de que a grande maioria das lésbicas consegue levar relações estáveis por mais tempo que as masculinas. Algumas teorias que não tem base científica sugerem que, por não terem pênis, as mulheres investem no afeto, enquanto que os gays geralmente traem quando encontram um membro maior do que o que ele tem em casa. Mas isto é controverso

 

VIÉS PSICANALÍTICO:

 

Sempre tivemos uma imaginação sociológica acerca de que as redes de relacionamentos sociais, salvo melhor juízo, funcionam no viés da psicanálise ou da terapia virtual. Certamente que os indivíduos não procuram essas redes com essa consciência, mas é assim que tudo indica agem , considerando que se projetam em cima do que gostariam de ser, como se como são ou estão, não lhes satisfizesse. Tudo pode contribuir para que a SOLIDÃO seja a grande mola propulsora das pessoas que buscam esse “amparo” sócio psicológico. Uma grande característica dessas pessoas mais vulneráveis é o tempo de duração na rede. Há tipos que a qualquer hora que se entra, por exemplo, no NSN a pessoa está lá. Plugada. Conectada. No nosso entendimento, isto é ponto negativo para quem se interessa em levar algo sério com uma pessoa desse tipo. Já existe até quem codifique isto como “doença” o que nos leva a defender a grande chance que isto tem de ser convertido, de fato, em doença. Em sendo patológico, remete-nos a questão projecional  enfatizada no desenvolver do nosso texto. Isto reforça nossa defesa de que é a SOLIDÃO o maior vilão de toda essa interdependência. Ela, a solidão, fica maior (se é que se pode dizer assim), pois no passado, quando as cidades respiravam mais as relações face a face; quando o desenvolvimento não tinha alcançado os atuais níveis de segregação das pessoas em apartamentos, em guetos, em tribos, etc. É certo que não se pode culpar as redes por esses descaminhos, pois ninguém pode ignoras as benesses que a internet nos trouxe. O grande problema das redes – Orkut, Badoo, Facebook, Par Perfeito, Sonico, etc., é que elas não têm problemas. Cada uma delas dispõe de tecnologia específica dentro de políticas estabelecidas gerencialmente. A essas redes compete reunir. Unir é coisa de gente, não delas. Unir pessoas é um substrato interno de cada membro participante.

Há uma tendência para que os pais geralmente condenem esses sites de relacionamentos. Contudo não procedem a essas condenações, pois representam muito mais uma desculpa de certos pais e mães para se eximiram das culpas de terem sido ausentes na consolidação dos limites dos filhos.

Finalizando nosso modesto ensaio, esperamos continuar fazendo maiores observações sistemáticas acerca desse tema. De fato, o mundo hoje gira em torno muito mais da internet do que das relações sociais mais imediatas do nosso dia-a-dia.  Não sei se isto é o aval para que a gente generalize a culpa como sendo da Net. Mais cedo ou mais tarde o mundo teria que ter as tecnologias da informação que temos hoje e que, com certeza, teremos com mais sofisticação no futuro próximo. Podemos entender, sem com isso massacrar nossa raça humana, que nós sempre buscamos respostas para perguntas que não fizemos. E vieram as respostas que nós assimilamos como sendo nossas. Com isto, hoje o que se pode tentar, é inverter o processo e redescobrir o simples das relações sociais como o amor, o perdão, a solidariedade. Resgatando isto, creio que a humanidade vai convier bem com a internet e com os sites de relacionamentos sociais que, no seu bojo, não tem a função de unir pessoas, mas reunir – uma reunião sem rosto, mas com corpo, pois a alma só se alcança com a união. Esta se alcança com renovação interna extrema, com base cristã. Afora isto, as relações não passarão de "ralações sociais" que, como tais, na maioria dos casos ferem, machucam e não levam a lugar nemhum, senão ao aumento da solidão.  


Lembramos que este assunto é inesgotável e carece de mais estudos e pesquisas. Pretendemos investir nisto mais sistematicamente. Contudo, fazemos esta sugestão aos Sociólogos e Psicólogos que pretendam dissertar sob forma de monografia ou assemelhados.