GANHEI DO CARLOS

Como tenho o cuidado de não escrever bobagem, principalmente em se tratando de poesia, quando decidi divulgar meus textos, contratei uma espécie de censora de qualidade para avaliar minha produção. O que ela não entendia de cara, é certo que não passava. Não conseguia ver aprovada nenhuma incursão mais surrealista, poesia concreta ou impressionista, nem pensar. Textos em forma de X, ou fazendo qualquer tipo de desenho, ou com palavras rebuscadas, com rimas infantis ou mensagens herméticas levavam o adjetivo: palhaçada.

Como me sentia com a criativivade tolhida, acabei dispensando a moça, mas não sem antes fazer um tira-teima curioso.

Escrevi uns versos sobre o gato:

O gato

um fato

pro rato

a jato

é chato

no mato

pacato

é nato

sem sapato

mas com muito tato

que barato

ali, um gato

Mesmo sabendo da repulsa dela em relação a gatos, com uma cara de riso, peguei uma poesia que gosto muito, tipo abstrata, do Drummond, passei para o papel e mostrei as duas; a dele e a minha do gato:

- Qual das duas você prefere? Não é para divulgar não, é só uma curiosidade.

Ela fez uma cara de poucos amigos e muitos inimigos e murmurou:

- Porcarias, mas como essa aí eu não entendo nada mesmo, muito a contra-gosto, fico com a do gato.

Sorri satisfeito, todo convencido. Venci do Drummond!

Mas o gato mesmo não deu a mínima para esse fato.... "tava nem aí".