POESIA É FANTASIA AUTOBIOGRÁFICA

A proposta poética chega ao receptor crítico. Feminina e delicada, linda como a sua autora, mimo de meu rol de ‘amigos’. Gosto do contexto, apesar de seu visível derramamento emocional e da subjetividade, como é usual ocorrer no dito ‘poema de amor’... A forma de apresentação é um convite ao estudo. Vamos lá, ao trabalho analítico...

“COCHICHO DA BRISA

Autora: Mone Uezu

Já não tenho segredos

Só tenho versos de amor

Minhas palavras se revelaram em silêncio,

Meus desejos foram saciados por uma taça de amor

Uma brisa cochichou no ouvido da flor...

Num tom suave

Tocando os arvoredos

Descendo nas cachoeiras

Fazendo todo o universo ouvir...

O vento rodopiando no tempo

Tornou-se cúmplice do meu silêncio

Que muito revela sem soar...

Hoje o amor é o maestro do sussurrar do meu coração.”

– pelo Orkut, 17/12/2010, 11h37min.

Amada Mone!

Deu-se uma guaribada no texto, buscando fazer de uma PROSA POÉTICA (escrita em versos) um poema com alguma Poesia. Somente limpou-se o texto, fez-se a cirurgia, na intenção de instigar a autora e sua criatividade. Buscou-se uma peça esteticamente mais ajustada ao contexto lírico-amoroso, que é a proposta original. Realizou-se o que dificilmente o autor iniciante faz: o segundo momento de criação – a TRANSPIRAÇÃO. A regra é ficar somente no primeiro momento – o da INSPIRAÇÃO. Procurou-se a impessoalização do poema, para que o leitor venha a se apossar do mesmo, de sua proposta, e a peça cumpra o seu intento: permitir o 'apossamento' pelo leitor. E que o receptor se encante com a matéria inventada. Sim, pois Poesia é fantasia criada sobre a autobiografia, por mais que o autor se exima das semelhanças e aponte, como escusa e proteção, eventuais coincidências... Poesia, num primeiro momento, é isso: PERMITIR AO MISTÉRIO DO OUTRO QUE SE ALUMBRE... Poema, que é a materialidade da Poesia da contemporaneidade, tem de conter confraternidade e universalidade de linguagem. O poema é mais do leitor do que nosso. A rigor, depois de publicado, só ficamos com a substancialidade material – os direitos autorais gerados pela peça. E o poema vai cumprir a sua missão no mundo: levar a boa-nova em plenitude. Neste caso, fala do mundo dos afetos. Uma recriação em que o que está sendo visto não é mais – apenas – de seu autor, porém é “... todo o universo a ouvir...”. E, nesse espírito, chegamos a uma nova fórmula de apresentação. Pela “cirurgia”, o poema salta aos olhos. Esteticamente, contém mais Poesia... Parabéns à autora. Que entenda que fez o seu amigo grato, mais feliz com o mistério revelado pela Palavra... O poema é o arauto das pequenas verdades de seu autor, porém, é a cristalização de que a realidade pode vir a ser diferente, melhor de ser vivida...

“COCHICHO DA BRISA

Mone Uezu

Já não há segredos

só versos de amor.

Palavras se revelaram

em silêncio,

nos desejos saciados

pela taça do amor

e a brisa cochichou

no ouvido da flor...

Num tom suave

Tocando arvoredos

descendo cachoeiras

todo o universo a ouvir...

O vento rodopia no tempo

revela-se sem soar

e se torna cúmplice do silêncio...

O amar é maestro

no sussurrar do coração.”

– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2009/10.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/2677334