Comentários sobre a cultura
O vulgo costuma pensar que a cultura é uma espécie de adorno, algo como um colar simbólico que os pedantes ambicionam com o intuito de se exibir. De acordo com essa crença, a cultura é almejada com a finalidade de ostentação, com o fito de se mostrar melhor que outros.
Outros, menos ignorantes, acreditam que a cultura seja uma espécie de ferramenta para a obtenção de dinheiro e status. Esses crêem que a cultura deva ser buscada para ajudar o enriquecimento da pessoa, e sua consequente ascensão social.
Embora haja certa verdade na primeira concepção acima, já que a cultura, em oposição à ignorância, tende fortemente a embelezar os que a detêm (se o nega, pense nos muito ignorantes, em contraste), e também na segunda, já que a cultura pode servir como meio para a obtenção de dinheiro, há uma terceira, e mais forte razão, para se almejar a cultura.
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Para aqueles que não conhecem as árvores, uma floresta extremamente diversificada, povoada por uma variedade enorme de plantas, parece composta por um único tipo de coisa: árvore. Aos olhos daquele que ignora as coisas relativas à floresta, ela parece uma imensidão homogênea, uma mesmice verde e ilimitada. O conhecedor daquele ambiente, no entanto, verá ali toda a sua enorme diversidade.
De fato, a riqueza de nada vale se não pode ser percebida. Assim, a riqueza de uma floresta, constituída por sua diversidade, passará desapercebida aos olhos do ignorante, do mesmo modo que aos de um cego.
É necessária muito pouca sabedoria para se perceber que a riqueza, que quase todos almejam, de nada vale se não pode ser usufruída. A mais bela pinacoteca não tem valor para um cego, assim como a mais vasta discoteca não interessa a um surdo. Ambos estariam impossibilitados de usufruir dessas riquezas se a possuíssem.
Em um grau mais radical, o ignorante está privado de usufruir o mundo. Seus olhos vêm apenas uma parcela muito superficial de todas as coisas, enquanto seus ouvidos compreendem apenas uma parte muito pequena daquilo que ouvem. Em sua compreensão, a floresta mais rica, habitada pelos mais diversos seres, se assemelha a um bosque monótono, coberto apenas por um único tipo de coisa: árvore, compondo um espetáculo tedioso, como toda a sua vida, inexoravelmente povoada por umas poucas entidades descoloridas, insípidas e monótonas.
A cultura é a própria riqueza.