Uma Mulher Chamada Maria - revendo os papéis familiares
Uma Mulher Chamada Maria
- revendo os papéis familiares
Magnificat anima mea Dominum
Et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo.
Quia respexit humilitatem ancillae suae:
ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes.
Quia fecit mihi magna qui potens est, et sanctum nomen eius.
Ao longo da história humana, os seres humanos sempre procuram explicações pessoais, místicas e científicas para os acontecimentos à sua volta. Antes da ciência, surgiu a religião, o que marcou profundamente os costumes por séculos e séculos. Dentre todas, as religiões de característica monoteísta prevaleceram e, dentre essas, o cristianismo foi a mais difundida até hoje, por católicos e protestantes.
É certo que Deus é infalível, mas o homem não. Redações, leituras, traduções e interpretações humanas de sua palavra fazem parte do berço que tem originado e modificado costumes nos mais diversos povos e lugares do nosso planeta Terra. No Gênesis, estão as nascentes dos preconceitos contra as mulheres, os negros e os gays, enganos que geraram distorções de comportamento – como se pudesse haver uma supremacia nata de um ser humano sobre o outro, onde um é valorizado e o outro desmerecido – o que vem sendo desmentido ao longo do tempo.
Aqui, abordaremos a (re)forma paulatina da figura da mulher, vista pelo homem a partir da metáfora da costela. Inspirado na criação de Adão, Deus cria Eva. A costela também significa que o homem não saberia viver nem sobreviver sem a companhia e qualidades da mulher, já que a costela ou coluna óssea é que sustenta o corpo, é a sua pilastra – dado que Adão não era feliz sozinho e não falta na costela do homem osso algum. A mulher é o ninho e o homem a semente, são ambos alicerces para uma família com filhos. Os dois são seres fisicamente completos, embora sejam diferentes, em vários aspectos. São iguais como seres filhos de Deus e em sua importância no mundo. Assim, em muitos escritos, onde está escrito homem, entenda-se ser humano e não somente o homem, excluindo a mulher.
Assim, através da sua manifestação em Jesus Cristo, Deus fez questão de mostrar ao mundo o erro injusto quanto às mulheres, quanto à interpretação errada que foi dada a simbologia do gênesis a respeito da criação do homem e da mulher. Os dois nasceram de Deus, Ele os criou, a mulher não nasceu do homem.
Deus precisaria de uma mulher para se materializar, já que criou todas as coisas, visíveis e invisíveis? Não. Entretanto, o Verbo se fez Carne e habitou entre nós através de uma mulher. Jesus nasceu humano, foi amamentado, carregado no colo e amado por uma mulher, sua mãe e laço com a humanidade, já que José não era seu pai - gerador e consangüíneo -, pois de acordo com a fé cristã, Cristo tinha o sangue apenas de Maria, embora tivesse em José um bondoso e humilde pai adotivo, que também não o desamparou e foi um bom amigo da mulher com quem se casou.
A minh'alma engrandece o Senhor
e o meu espírito se alegrou em Deus meu Salvador.
Ele se contemplou na humildade da sua serva;
doravante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada
pois o Poderoso fez em mim maravilhas e Santo é Seu nome!
Esse cântico está no Evangelho segundo Lucas [Lc, 1:46-55] como resposta de Maria a um cumprimento de sua prima Isabel que louva Maria por sua fé, mas ela entende que não merece ser elogiada por ter fé, mas sim, Deus merece ser louvado, por a ter escolhido para essa missão e entoa o Magnificat como resposta e agradecimento, pois Maria sente-se glorificada, pela honra em ser a Mãe de Jesus Cristo, o canal por onde Ele se materializou e viveu humano entre nós.
Maria instruída pelo arcanjo Gabriel era sabedora das atribulações que sofreria e aceitou tudo, resignada, diante da majestade de Deus, Maria humildemente aceitou os sofrimentos que viriam, para que se cumprisse a aliança. Imediatamente, sofreu o preconceito de seu pai e de José – que a queria como esposa -, pois foi vista como uma mulher que engravidou fora de um casamento por um pai desconhecido – motivo por que visita Isabel – a conselho de sua mãe, Ana. Posteriormente, foi aceita e protegida por José que a desposou, pois de acordo com os costumes até então, seu destino seria ser apedrejada.
Sabedora de quem era o seu Filho, ela o amou devotadamente, fez de tudo para protege-lo desde a sua presença em seu ventre, durante sua infância, e o apoiou em todos os momentos, sendo uma mãe atenta. Como que nem tudo já lhe tivesse sido revelado, grande foi a dor de Maria, ao presenciar tudo o que fizeram ao seu Filho, pois ela não sabia que tanto sofrimento era necessário e que sua posterior morte na cruz seria a marca da sua vitória, pois Jesus ressuscitaria, sem um ferimento, três dias após colocado em seu túmulo, viveria entre os homens e subiria tempos depois aos céus, frente a centenas de testemunhas, confirmando as profecias.
Católicos romanos, ortodoxos, anglicanos, e algumas denominações protestantes usam com freqüência o título de "Mãe de Deus”. No texto original da Bíblia, Maria é definida com a palavra Theotokos (grego: Θεοτόκος : Theotókos), que foi traduzida para o português como “mãe de Deus”, "portadora de Deus" ou "aquela que dá a luz Deus". Isso tem causado muita confusão aos menos estudiosos. Lógico que esse título não se refere à Maria como Mãe de Deus desde a eternidade (no Kairos), mas “mãe de Jesus”, aceito entre os cristãos como verdadeiro Deus e também como “Mãe de Deus na Terra” (no Chronos). Em contrapartida, o termo Theotokos torna explícito o significado teológico, desfazendo mal-entendidos da paternidade divina de Jesus em Maria.
Os dois criadores da religião Protestante, que são os maiores teólogos do segmento, inicialmente, a rejeitaram como “Mãe de Deus” um dos motivos para o cisma do catolicismo, mas, no final, a reconheceram. Lutero pediu desculpas por ofensas a Maria, antes de morrer. Faz parte da obra de Calvino: "Na visita a prima Izabel Maria transpôs colinas e caminhos ásperos a pé". Como naquele tempo não havia limusines, ele escreveu: "Maria deveria ser levada por uma carruagem puxada por 40 cavalos". Assim, ele também terminou considerando-a Santa Mãe de Deus e a exalta.
Há entre os cristãos de algumas denominações protestantes pentecostais, quem duvide que Maria seja santa ou especial aos olhos de Deus, mas deve-se considerar que ainda tivesse sido puta, por ter carregado Jesus Cristo em seu útero 9 meses, amamentado-o, carregado em seu colo enquanto bebê, criá-lo como seu filho até os 12 anos de idade... santa seria e imaculada (entenda-se imaculada como sem mácula, sem a mancha do pecado). Se apenas um toque na sua túnica de Cristo fez cegos enxergarem, mudos falarem, se apenas um olhar seu mudou vidas completamente... Certo é que entre todos os seres humanos, nenhum outro teve um contato tão íntimo com Deus como Maria Santíssima, antes simplesmente Maria. Alguma pessoa no mundo fez mais por Jesus?
Existem outros nomes que católicos dão a Maria. Muitos a chamam por Nossa Senhora (entenda-se aí a concepção da vassalagem amorosa, em ardor de fé e gratidão), outros ainda a chamam de Nossa Mãe, pela analogia de ser Mãe de Jesus pois ela foi a escolhida por Deus como mãe dEle, sentem-se compelidos a adotarem-na também como sua mãe, seguindo o exemplo de Cristo na Terra, que chamava a todos os mais próximos de irmãos, tratando-os como iguais. Santo é um título de reconhecido dado entre os católicos às pessoas, abençoadas por Deus, já que como humanos, todos somos pecadores, passíveis de erros. Por isso a mulher que deu a luz ao menino Jesus e subiu aos céus em assunção (termo diferenciado de ascensão, pois se considera que Cristo subiu por seu próprio poder, mas Maria foi elevada) é chamada Santa Maria, como abençoada, e Maria Santíssima, como a mais abençoada entre todas as marias, abençoada especialmente entre todas as mulheres, mais que qualquer outra, agraciada por Deus com a vida eterna em corpo e Espírito.
Desde que Maria subiu aos céus, na frente de dezenas de pessoas, ela tem se manifestado em aparições com semblantes e tons de pele diferentes pelo mundo, não excluindo ninguém, mas fazendo-se anunciar, em semelhança física com as mais variadas nações, causando uma sintonia mais fina com todos os povos da terra, motivo porque são atribuídos, a Maria Mãe de Jesus, vários nomes. Em todos os contatos feitos, Ela pede Amor e Paz entre os homens e que esses não maltratem o coração de seu amado Filho, Jesus, que sofre com todas as violências presenciadas pelo céu, dos homens que brigam entre si, desmerecendo seu sacrifício na Cruz, para bem anunciar a sua boa nova (evangelho), uma nova atitude, baseada no amor entre os homens e na fé em Deus Criador, onde não existe o menor e nem o maior, mas todos são filhos de Deus.
Somente a partir desses acontecimentos, reforçados pela presença da figura de uma mulher chamada Maria na considerada Sagrada Família: Deus Pai – Santa Maria – Deus Filho Jesus, a mulher começou a ser tratada como ser humano. Antes disso, não era considerado que ela tivesse direito algum em nada, apenas a servir e procriar, ou seja, era tratada como um animal que fala. Isso prova que a religiosidade tem um imenso poder educativo e reformador, pois através de Maria, a presença da mulher no nosso mundo passou a ter um valor tão importante quando a do homem, segundo a visão desse, já que não acreditamos que para Deus tivesse valor menor. Ainda que isso não tenha sido totalmente assimilado entre todos os povos, verifica-se que caminha para que seja.
É sabido que qualquer bem vem de Deus como nascente primária, ainda que se manifeste entre os homens através da bondade, seja durante um lampejo ou por toda uma vida. Dentro dessa visão, é comum aos católicos, quando fazem seus pedidos diretos a Deus, também pedir a intervenção dos santos – cujas vidas foram especialmente devotadas a Deus e manifestadas em bondade – ou seja, pedem que os santos somem com eles seus pedidos ao Criador, acreditando que assim, seriam ouvidos com mais boa vontade pelo Pai, já que os fatos magníficos na vida dos santos, aos olhos dos homens, mostram que esses são especialmente amados por Ele.
Que Nossa Senhora, Mãe de Jesus e nossa mãe, nos abençoe e nos proteja com seu manto de amor. Rogai a Deus por nós, Santa Maria.
Há ainda um estudo teológico de muitos anos, não considerado conclusivo, iniciado pelos católicos em cima da premissa de ser Maria a materialização do Espírito Santo ou do chamado Amor, uma vez que o Espírito Santo é o Amor que une o Pai ao Filho, pois foi Ela especialmente amada pelo Criador, cumprindo tudo que lhe foi designado como esposa que permaneceu fiel e como zelosa mãe amantíssima de Jesus Cristo.
A questão das orações diante das esculturas só pode ser simbólica, pois isso seria como uma fotografia, elas não são os Entes Deus, Jesus ou Maria, entretanto, na Bíblia está escrito, “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18:20). Em seu nome, só pode ser em ato de fé a Deus e de amor aos seres viventes - revelado em bondade, principalmente, a um ser humano, seu irmão, portanto sua presença espiritual estaria sim, na igreja dos católicos, no templo dos evangélicos e em muitos outros lugares, onde tais atos estejam sendo praticados.
É bom lembrar que há quatros tipos principais de irmandade entre os homens, por onde se possa praticar a fraternidade, primeiro, somos todos irmãos em Deus Criador nosso e do mundo que nos cerca; segundo, pelo Sagrado Sopro do Pai Eterno, somos irmãos dentro de uma família, por laços de sangue, através de nossos pais; terceiro, somos irmãos em nossos postulados de fé - e os cristãos devem ser irmãos entre si - já que Jesus Cristo chamava a todos os mais próximos (apóstolos, discípulos e amigos) de irmãos; por último, somos irmãos de nossos amigos, pessoas que adotamos como parte de nossa caminhada, pela vida.