Mobilizações sociais e a violência no Brasil.
A violência urbana é algo que tem se constituído por práticas criminais com base nos moldes mafiosos, como é o caso do Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro e Primeiro Comando da Capital (PCC). É importante citar que a ênfase dada nesta reflexão é apenas um dos exemplos de ato falho, causa e consequência de um sistema vigente e doente que nos deparamos dia a dia.
A origem do Comando Vermelho se deu no Presídio de Ilha Grande, quando presos comuns conviveram com presos políticos e ao se organizarem para aprimoramento das técnicas levaram ao surgimento de um dos maiores venenos da nossa atual sociedade: o crime organizado.
A violência urbana no Brasil tornou-se um fenômeno endêmico a partir da herança de altíssimo custo social do período militar. Nos anos 80, a surpresa dos primeiros seqüestros relâmpagos, os assaltos à mão armada nos bairros de classe média e o crescimento do tráfico de drogas indicavam um estado de perplexidade que tomaria a opinião pública.
O Estado de Direito, falido economicamente com a recessão dos anos 80, teria de enfrentar o colapso da ordem social: populações marginalizadas necessitavam
de emprego e condições decentes de saúde, moradia, educação e lazer.
Nos anos seguintes, a violência se intensificou. Maior se tornou a distância entre os direitos constitucionais e a realidade vivenciada pelas populações. O atual quadro de insegurança publica não recebe do Estado à atenção necessária diante do caos que se tornou regra geral do sistema.
Citarei três casos exemplares que causaram comoção pública diante de tais acontecimentos.
Em novembro de 2001, ao tentar socorrer uma mulher durante um assalto, levou seis tiros que o deixaram paralisado da cintura até os pés. Apesar de viver entrevado numa cadeira de rodas, conseguiu retomar a carreira. Apesar de ser vítima da violência, conseguiu manter o senso de legalidade e justiça que sempre o norteou. O músico Marcelo Yuka ficou paraplégico depois de ser atingido por bala perdida no Rio.
Outro caso que chocou e mobilizou ongs e a sociedade civil foi o caso do menino João Hélio, quando três homens armados tomaram de assalto o carro em que estava o garoto com a sua irmã Aline, de 14 anos. No volante a mãe, Rosa Cristina Fernandes e, no banco do carona, uma amiga da família. Rosa Cristina voltava para casa com os filhos e quando parou em um sinal de trânsito na Rua João Vicente, em Oswaldo Cruz, subúrbio do Rio de Janeiro, aconteceu à tragédia que comoveu o Brasil e boa parcela da comunidade internacional. Com as armas apontadas contra a sua cabeça e os filhos, os criminosos ordenaram que saíssem do carro rapidamente. As três saíram, mas quando a mãe foi tirar o filho João Hélio, que estava preso ao cinto de segurança no banco de trás, um dos assaltantes bateu a porta e arrancou com o carro em alta velocidade deixando o garoto preso pelo lado de fora do veículo.
O suplício do garoto que foi arrastado por sete quilômetros, passando por treze ruas movimentadas dos bairros Oswaldo Cruz, Madureira, Campinho e Cascadura duraria tempo suficiente para praticamente enlouquecer sua família. O que se via pelas ruas por onde os assaltantes passaram com o corpo do menino pendurado pela cintura foram rastros de sangue, massa encefálica, cabeça separada do corpo, joelhos e dedos das pernas e das mãos arrancados pelo impacto do corpo do garoto contra a roda do veículo e proteção de calçadas.
Uma criança que como tantas outras são vítimas diárias da barbárie e da violência urbana e doméstica que assola o Brasil.
E por fim, o caso mais recente, ocorrido na Av. Paulista contra um rapaz que segundo testemunhas não estava fazendo nada, simplesmente passava por ali e gratuitamente sofreu agressões de cinco rapazes em um dos pontos mais movimentados de São Paulo. A causa? Possivelmente por acreditarem que o rapaz “mereceu” por ser (?) homossexual.
Diante desses exemplos é louvável citar algumas ações da sociedade civil organizada, tais como a ONG Viva Rio, que trabalha com campanhas de paz e projetos sociais no Rio de Janeiro e a Comissão Teotônio Vilela que atua principalmente em São Paulo, pela consolidação do estado de direito desde 1983.
É possível dizer que o aumento progressivo das mobilizações político-sociais está fortemente ligado ao descaso das autoridades e ao avanço do neoliberalismo nos lares brasileiros.
Uma sociedade desequilibrada e desigual é doente,intolerante e uma das principais doenças que exibem esse desequilíbrio é a violência urbana.
A violência estará sempre relacionada a pouca educação, cultura e saúde. Na luta pela sobrevivência o ser humano e seus valores éticos e morais saem de cena para ficar somente o instinto, “a lei da selva”.
A atuação desses grupos tenta cumprir um papel que seria do estado, mas ainda avança a passos curtos e lentos, como diria o poeta, “a passos de formiga”.