Crítica ao Estado e sua Estupidêz

Que Estado é esse que resolve seus problemas com violência e bala? Que sociedade é essa que aplaude uma sombria corte de blindados subindo os morros levando os mensageiros da morte ceifando a vida de inocentes, que o Estado deveria proteger? E os bandido então que tantos querem combater, quem realmente são eles? São aqueles que empunham fuzis nos morros ou aqueles que tiram o couro da classe média e os veste como peça rara de vestiário?

Esses bandidos que estão sendo caçados nos morros são filhos de um Estado omisso e de uma política pública natimorta que fracassou em sua missão e agora não tem humildade de reconhecer sua derrota e inutilidade e para não ficarem de cabeça baixa usam toda sua força como grito desesperado por algum resultado que não trará a nada. O tão temido tráfico de drogas, que mata muito mais que as drogas em si, não irá minguar, até que todas as escalas de produção e venda desses artigos hoje tidos como ilícitos seja controlado pelo Estado, e quando aquele que usa seja totalmente despenalizado tendo a liberdade usar suas substâncias, nem que seja dentro de sua própria casa com total paz, como a Holanda de certo modo faz. Como muitas vozes unissonamente falam, como FHC por exemplo, “não existe sociedade humana sem drogas”. Querer as demonizar é algo tão infundado e absurdo quanto querer proibir uma prática esportiva pelos riscos que por ventura ela faria, e a querer banir com argumentos meramente políticos, quando na verdade os únicos fatos que devem ser utilizados são os científicos e sociológicos.

Eu até ia falar algo sobre o que fora dito por Beltrame, Secretário de Segurança do Rio, mas a matéria do jornal O Globo publicada no link http://oglobo.globo.com/blogs/sobredrogas/post.asp?t=usuario-culpado-diante-de-velho-problema-beltrame-usa-velha-resposta&cod_post=171655 é mais que suficiente, em resumo ele culpa o usuário por manter o tráfico, mas esquecesse que o tráfico só existe por que essas substâncias, que outrora eram tidas como lícitas, são vista com a encarnação do demônio e devem ser a todo custo devolvida ao inferno as quais fazem parte.

Voltando ao texto em si... Alguém realmente se preocupou para que o dia de hoje fosse apenas um pesadelo incrustrado nos confins de uma mente insana? Acho que não. Por quanto tempo aquelas pessoas viveram as margens de uma sociedade e de um Estado que deveria as nutrir assim como faz com as classes mais abastardas? Querer os criticar é muito fácil para quem vê de fora. Apontar o dedo na cara daquele que “é diferente” e o culpar por algo que ele fez é fácil, mas querer entender o porque de ele ter feito algo é uma coisa que foge nossa boa vontade e nossa responsabilidade. Muitos dizem “só envereda por tal caminho quem quer”. Será mesmo? Quem em sã consciência iria escolher um caminho que o levará a óbito no auge dos seus vinte e poucos anos? Loucos de atirar pedra a parte, mas acho muito pouco possível alguém escolher isto, a não ser em extrema necessidade, que só existem pela negligência estatal.

Abrindo um pequeno parênteses. O por que de alguém entrar num caminho desses, praticamente sem volta? Eu basicamente vejo uma explicação, logicamente existindo outras. Numa sociedade predominantemente consumista, onde o ter define o ser, aquele que nada tem é sempre visto, independente de onde more, como um ser inferior, como um sub-ser. Outros buscam por um certo status, que não deixa de ter um vínculo com “o possuir”, vale dizer que numa sociedade de consumo, basicamente só é vivo aquele que consome, quem não o faz é uma mera peça descartável, cuja existência totalmente trivial, deixo claro que não penso assim, mas o mercado por sua vez...

A única arma que pode vencer uma guerra de forma derradeira é o bom senso, e quem o tem busca sempre uma alternativa definitiva, mesmo que seja a longo prazo, mas num mundo em constante mudança, onde tudo tem que ser para ontem, se não for assim não tem serventia, não presta, até mesmo por que os combustíveis que movem todos os políticos é o voto, e em maior ou menor grau a vaidade, sendo assim um “tapa buraco” agora sacia essas vontades imediatas mais eficazmente do que uma solução que levará anos, onde aquele que cumpre a meta via de regra não é aquele que as lançou.

Num mundo efêmero e descartável, as soluções tem que também ser assim. Tem que mirar o aqui e agora, e como a “solução” mais rápida é invadir um morro, onde vivem milhares de inocentes, com tanques e armas pesadas, ela tem que ser tomada, já a educação, essa sim a única solução para todos os males, é deixada de novo em segundo plano por demorar muito tempo, consumir muitos esforços, e de quebra não dá votos imediatos além de produzir um efeito colateral que se encontra na redução da massa de manobra que sempre vota nos mesmos falaciosos de belo semblante.

Ao fim dessa “gloriosa” operação serão deixados para trás incontáveis cadáveres, de “bandidos” como eles mesmo dizem, mas será mesmo que todos são bandidos? E se me permitem, refaço a indagação inicial, quem são os reais bandidos? A Tv já mostra as bala perdidas, uma foi encontrada num bairro de certa nobreza, no Jardim Botânico, ninguém foi atingido, mas o mero fato de um projétil ter se abrigado ali já causa todo um impacto, ao contrário dos corpos dos inocentes, vistos como efeito colateral de uma operação que visa um bem maior, não causam tanto impacto, sem falar em todos aqueles cuja existência foi extirpada graças a essa guerra estúpida e espúria as drogas. Uma frase que li, esqueci agora quem é o autor, que diz algo assim ‘na luta do bem contra o mal, é o povo que entra com os corpos.’ Nada mais verídico, infelizmente.

Aqueles que nos falam prometem com todo esse circo pegar bandidos e esmigalhar o tráfico. Mas e aqueles bandidos que usam farda? E como pode-se deduzir, muitos deles estão subindo os morros agora mesmo. Seus crimes devem ser apagados por eles estarem indo matar aqueles que a sociedade e o Estado crucificou? E os inocentes que irão tombar, os mesmos que os nossos soldados de negro, que trazem a paz com um fuzil na mão, juraram proteger, quem será por eles? Quem irá apagar e pagar a dor de suas percas? O Estado? Alguém pode indagar. Se o Estado ligasse para esse povo a situação nunca iria chegar onde chegou. Os bandidos de hoje são o sub-produto da política estatal, e como todo sub-produto, deve ser eliminado para não contaminar o produto em si, e deixar as futuras safras saudáveis. Mas quando o próprio produtor está podre e decrépito, como fazer para ele não gerar mais produtos indesejados? Só vejo dois caminhos, um dele está sendo tomado agora, que não trará uma solução definitiva, será mera maquiagem encobrindo as cicatrizes já abertas, o outro é derrubar o Estado e para das suas cinzas criar algo novo, para aqueles que acham essa ideia muito abrupta, então que o poder do produtor seja aos poucos drenada até que ele definhe como um tumor que há tempos vem destruindo o corpo de seu portador, no caso a sociedade.

Infelizmente meu texto trouxe mais perguntar que respostas, até por que quem sou eu para querer responder a tanta coisa, e ousar assim, de forma descabida, ser o dono da verdade, quando num mundo reinado pelos sentidos existem tantas verdades e tantas mentiras para um mesmo fato, o único que pode dizer quem tem a razão é o tempo com seu empirismo, a nós meros seres donos das indagações apenas nos resta torcer para que os homens sejam guiados pelo bom senso, e que se por acaso algum Deus exista, Ele guie nossa espécie para um fim mais nobre. Como diz qualquer pedido veementemente dito em fim de oração: Amém!