O ter inibe o ser.
Há uma preocupação com o “ter”, enquanto o “ser” devia ter mais importância, mas vivemos numa época singular, onde as pessoas não querem ser nada. Eu vejo com bastante preocupação o futuro da humanidade, penso que em pouco tempo vai desaparecer o interesse pelo estudo, se é que já não tenha desaparecido.
É verdade que há um fenômeno tecnológico bastante relevante em curso, para justificar o pouco interresse dos jovens e até de uma boa parte dos adultos pelo livro, por uma formação acadêmica. Embora alguns procurem um tipo de formação profissional, não raro se observa que este interesse não é pelo saber em si, é, na verdade, por uma questão financeira, a busca de um emprego público que lhes propocionem segurança.
A busca desenfreada por prazer tem como causa a falta de objetivo, sobretudo para os jovens que têm, por natureza, a curiosidade por novos caminhos para auto-realização. Em outros tempos, quando não se tinha tantas possibilidades, nem tantas ferramentas, as pessoas demoravam mais para alcançar seus objetivos profissionais, o mundo caminhava mais lento. Não sou saudosista, mas confesso que preferia a lentidão com a que caminhava a humanidade outrora, acredito que erámos mais felizes.
Há um paradoxo, em se tratando deste tema, enquanto temos mais possibilidade de ser qualquer coisa, em qualquer área, observo que os valores se inverteram, antes o homem se orgulhava da honra, da moral, sobretudo do nome que construia com muito trabalho e zelo; hoje escuto, em qualquer lugar por onde ando, grandes homens jactando-se por terem coisas materiais, por terem mulheres novas e belas, não escuto alguém se orgulhar de ser um médico cuidadoso, professor bem preparado ou um advogado estudioso. Não raro se percebe que suas profissões não são sequer citadas em conversa informal. É veraz a mãxima que diz que o ter inibe o ser.
Evan do Carmo