POESIA EM TEMPO DE INDIGÊNCIA

A Poesia exerce grande poder de comunicação, através de imagens e sentimentos, em linguagem de sons e ritmos harmônicos, graças a inspiração do Poeta, que faz brotar em versos, as várias realidades vividas pelo ser humano.

Além de descrever com arte as suas emoções mais íntimas, o poeta transporta para os versos, conflitos bem ou mal resolvidos, alegrias e angústias, enredos e ações do cotidiano, ora cantando alegrias, ora, tristezas, a depender do seu estado de espírito.

As vibrações emocionais são o maior combustível para a inspiração do poeta, atento aos fatos sociais relevantes, à exclusão social - fruto das desigualdades, à falta de oportunidades, à exploração do homem pelo homem - no capitalismo selvagem vigente, ao amor, ao desamor, à hipocrisia reinante, à violência urbana, às guerras, à indigência.

A humilhação do brasileiro excluído nos enche de indignação e é recorrente em nossa literatura, desde o grande poeta seiscentista Gregório de Matos e Guerra, o “Boca do Inferno”, perseguido pela igreja e exilado para a África pela coroa portuguesa, justamente porque, em seus versos satíricos, condenava as desigualdades sociais e a indigência.

No Brasil Império, o “Poeta dos Escravos” - Antonio Frederico de Castro Alves, arrebatava multidões, declamando seus maravilhosos poemas abolicionistas, nas praças e nos Teatros, pelo Brasil afora.

No século XX, o poeta chileno Pablo Neruda, cantou em sua lira, o genocídio praticado pelos espanhóis contra os ameríndios, culminando com a destruição das culturas Aztecas, Maias e Incas.

Outros poetas tratam da ficção.

A indigência, que traduz a extrema pobreza, o estado miserável do ser humano, não seria fator impeditivo da produção de poesia. Pelo contrário, o sofrimento estimula a inspiração poética. A fome é algo comovente e faz sofrer, tanto ao faminto quanto aos segmentos sociais mais sensíveis, dada a flagrante impotência do homem em resolver os problemas em sua volta.

Aí o poeta chora em seus versos-lamento ou em suas sátiras; e derrama a verve sobre aqueles que, no Poder, não são capazes de se emocionar com a imagem da criança faminta, que vive e dorme na rua; muito menos com o desespero das famílias desamparadas, que habitam e dormem sob tetos de papelão...

As privações dos excluídos comovem demais o poeta, cuja sensibilidade não chega à maioria dos governantes que adota a política da “Comida pouca, meu pirão primeiro”...

A indigência, que atinge mais de 25% da população, é a maior chaga social deste país e influencia fortemente o nosso cotidiano, argumento implícito am nossa poesia.

INDIGÊNCIA

Olha a criança faminta,

Sinta...

Olha a família carente,

Gente...

Olha pra aquela favela,

Cela...

Olha pra aquele arrastão,

Cão...

Olha pra aquele drogado,

Lado

Ajuda quem está sofrendo,

Sendo...

Acaba o mal que os consome,

Fome...

Vomita o teu ideal,

Mal...

Curando aquela ferida,

Vida...

Que toca o teu coração,

Vão...

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 19/06/2005
Código do texto: T25837
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