Novos olhares: uma concepção de educação para o meio rural
Rudá Ricci em seu artigo “Esboços de uma nova concepção de educação do meio rural brasileiro” chama a atenção para uma característica bastante relevante da noção de educação voltada para o meio rural brasileiro. Em um encontro com diversas lideranças, o autor chama a atenção para a fala de um jovem dirigente rural que, afirma, por sua vez, que pelo motivo de a educação em escolas no campo transmitir um modelo de educação visivelmente urbano muitas das características rurais são deixadas de lado e por isso o jovem do campo perde um pouco de suas raízes, saem para continuar seus estudos na zona urbana e, quando retornam ao campo, trazem consigo outra cultura que se distingue inevitavelmente da do campo.
O discurso observado por Rudá Ricci revela, segundo ele, um discurso novo das lideranças rurais. Evidentemente, essa observação nos remete a uma questão de educação. Com isso não é difícil observarmos que as escolas assentadas nas áreas rurais têm um modelo de educação voltado para as características urbanas e por isso acabam por se tornar visivelmente não atrativo para o homem do campo. Com horários incompatíveis com os hábitos rurais; metodologias de ensino rígidas excessivamente e com o calendário que não respeita o ano agrícola, estas escolas acabam por promover um modelo de educação incompatível com a realidade vivida pelo homem do campo, como já fora dito. Isso equivale a dizer que há uma educação para o campo, mas que não há efetivamente uma educação do campo.
Obviamente, de acordo com esse pressuposto é necessário haver uma revolução no sistema educacional bem como nas estratégias pedagógicas. Com a mentalidade evolucionista, a partir dos anos 30 do século XX, o brasileiro acabava por associar a forte presença rural no emergente proletariado com as idéias de imoralidade, falta de progresso e desenvolvimento. Moralidade, desenvolvimento e progresso eram, portanto, características inquestionáveis do espaço urbano.
Além disso, podemos acrescentar diversos modelos de educação norte-americanos também como motivadores de uma subordinação educacional da cultura rural aos objetivos da industrialização educacional. Com isso, o currículo passou a ser definido de acordo com certa hierarquia de conteúdo e não como plano de estudo sobre a realidade. Assim se firmou um modelo educacional essencialmente urbano.
Dessa forma, a educação formal é uma espécie de “alternativa à vida rural”. Por isso, é bastante comum o fato de o jovem após ter concluído as séries primárias ir procurar emprego nas cidades. Os novos discursos das lideranças rurais se voltam também para o aspecto político e não mais apenas para o produtivo.
De qualquer forma, diversas medidas já vêm sendo adotadas para tornar uma educação própria do campo. Um modelo de educação que valorize a realidade rural tanto na sua dimensão política e produtiva como também na sua dimensão histórica é fundamental para o desenvolvimento e valorização do campo.