FRATRICÍDIO EM NOME DE "DEUS"

O menino se formou homem e virou pastor de ovelhas. Seu irmão mais velho, virou lavrador da terra. Ambos se amavam, se completavam, até que um dia se encontraram com o fogo (reação química da própria natureza) pela primeira vez e decidiram identificá-lo de "deus". Em seguida, como não podia deixar de ser, lhe fizeram oferenda. O primeiro, o primogênito, lavrador da terra, trouxe do que produzia ao que chamavam de "deus": verduras, legumes, frutas, hortaliças. Em um altar improvisado atearam fogo, e sobre este, jogou sua oferta. Nada prestou, tudo se queimou, deteriorou, cozinhou. O mal cheiro que exalou afastou a todos os presente que não suportando a fumaça e o mal cheiro logo repudiaram tal oferta dizendo que o "deus" deles não a aceitara. Que dó! Imaginem como ficou o semblante do ofertante?

Limparam então o altar para que o outro irmão também oferecesse sua oferta. Atearam fogo. Então ele, o irmão mais novo, pastor de ovelhas, covardemente matou uma ovelhinha, derramou seu sangue sobre a terra e ofertou sobre o altar sua carne e sua gordura. Agora sim, que maravilha! O cheiro que exalou da carne e da gordura assando, assanhou o paladar de todos os presentes (com exeção do irmão mais velho, o lavrador da terra) extigando-lhes os desejos contidos, despertando o que havia de pior e melhor dentro de cada, sobressaindo-se o pior para o mundo. Pronto, disseram todos que aquela oferta foi aceita, que o "deus" havia recebido e cheirado até a fumaça que subia incólume em direção aos céus.

Então, a violência, até então desconhecida, apareceu, nasceu como a aurora em manhãs de verão, com toda força, linda e terrível, trazendo dor, sofrimento, tristeza, agonia e morte. Seres ingênuos, puros, foram contaminados por um ato tresloucado de alguém que a tudo isso iniciou, e o primeiro fratricídio aconteceu.

O fogo não era "deus", as ofertas não eram necessárias, a morte não era para acontecer. A ovelhinha nada tinha de culpada para ser assassinada, seu sangue derramado sobre a terra e sua carne e gordura jogadas sobre o altar em brasas para simples satisfação de desejos incontidos, até então desconhecidos, experimentados.

E o altar transformou-se em tabernáculo, depois em templo, sinagogas, e hoje em igrejas. Local de oferendas a "deuses" estranhos, que exigem sacrifícios, holocaustos, com morte, derramamento de sangue, de criaturas inocentes, puras, imaculadas, para simplesmente se justificarem como "senhores" de alguma coisa qualquer, de alguns seres humanos "mané". Lugar onde ofertantes histéricos, irracionais, inconseqüentes, bestas ruins, dementes, se projetam na disputa de "quem dá mais" para parecer melhor que o outro, que seu próximo mocho, que menos dar, ou que nada pode dar.

Esse "deus" é tremendo, para aqueles que lhe querem obedecer, pois mentir, matar e roubar sabe muito bem, realizando os desejos dos que só sabem dizer amém. Mentir é sua performace, desde os princípios áureos, onde ainda havia a simplicidade, a ingenuidade, a pureza, bem distante da maldade. É a esse "deus" com certeza, que oferecem os sacrifícios de matança, porque não há outro "deus" igual a este, que vive da desgraça dos seres humanas "antas". O derramamento de sangue o satisfaz, porque a morte é sua companheira em todos os tempos, ainda que lhe haja agora pouco tempo, continuará enganando, matando, destruíndo e roubando para a todos intimidar, fazendo-os escravos de púlpito e altar.