Como o professor deve encarar a Alí-é-na-ação? Terá ele (a) coragem de sair da bacia paradigmática?

Uma das piores coisas que podem acontecer para um professor, é ver seu aluno ser punido e depois afastado do seio da escola, e com urbanidade e hipocrisia chamam isso de transferência, - cá para nós – é expulsão mesmo! - principalmente, quando este, percebe que poderia ter tido uma atitude tal, que poderia ter conquistado resultados diferentes, para o aluno, e até para ele mesmo, basta lembrar-nos o que aconteceu com o aluno Roberto, tido como irrecuperável, mas que se tornou professor!

Perguntemo-nos sempre: Que tipo de professor desejo ser, semelhante àqueles que vai empurrando com a barriga, fazendo o mínimo possível? Ou como aquela professora francesa cujo olhar era além do óbvio, conseguia ver o não visto, as qualidades amortecidas pelo sofrimento?

Mesmo que o assunto não leve a uma transferência, pense no que acontece em algumas salas, e como uma atitude melhor pensada poderia evitar alguns maus resultados. Não faz muitos anos, aconteceu algo: Um aluno de ensino fundamental, pediu para ir ao banheiro, e a professora logo lhe respondeu que NÃO! O menino pediu novamente, e obtendo a mesma negativa, acabou fazendo xixi nas calças, fato que causou riso e galhofas por parte dos coleguinhas.

No caso acima, o resultado foi até remediado, pois a professora percebeu que o ocorrido – cá para nós poderia ter sido evitado - chamou o menino pediu desculpas, e pediu desculpas para toda a turma, e disse que a partir de então, todos poderiam ir ao banheiro, um menino e uma menina, de modo intercalado.

Outro exemplo que remete a uma necessidade de mudança no modo de conduzir a regência, aconteceu essa semana! Uma turma de determinada escola estavam preparando-se para fazer uma atividade extra-sala, (passeio no zoológico), que por alguma razão havia sido cancelado, no ínterim, todos sabiam que um menino não havia trago a autorização dos pais para viagem, daí, concluíram que tudo tinha sido cancelado por falta de uma autorização por parte deste aluno, e como resultado a turma toda ficou contra ele, e um deles agrediu o menino, que revidou com um soco, que acabou quebrando-lhe a mão em dois lugares!

Já que o aluno agressor, não se machucou, e sim o menino que se defendeu, a professora, NÃO, quis escutar quando ele disse que sua mão estava doendo, ela chegou a dizer 'bem feito', novamente o menino disse que doía, e novamente, foi negado atenção, ela disse: 'isso é para você aprender'...O menino, que foi agredido, ficou na sala até terminar a aula ainda que a mão estava ficando roxa, e foi para casa, com a mão já inchada e roxa! Quase ao ponto de perdê-la! A pergunta agora é: E a idiossincrasia, onde foi parar? E a empatia maternal? Faltou sensibilidade que poderia tornar-se um grande problema, inclusive caso de polícia, B.O ou processo administrativo e tudo o mais!

- Caro colega professor fique tranqüilo pois o garoto passa bem, só quebrou um dedo e uma parte da mão! - Note que tudo para se defender de agressores, pois este menino nunca agrediu ninguém, é considerado um ótimo aluno, e tem um currículo muito bom diante dos seus mestres!

A falta de atenção, de controle de turma, o despreparo diante de crianças, o estres de salas apinhadas, os baixos salários, junto com o fato de que alguns rege em mais de uma instituição, tudo isso, leva a insensibilidade diante do problema do outro, e quando ocorrem dificuldades, - como as citadas acima -, os sentimentos de impotência por não terem conseguido ajudar alguns alunos, é muito forte, e costuma vir uma atitude de arrependimento silencioso, inquietudes emocionais tipo, 'por que eu não agi de modo diferente naquela hora'! Inclusive há casos em que os profissionais acabam sendo afastados para tratamento psicológico, de depressão, que passou a ser uma das enfermidades que acossa ferozmente muitos mestres!

Já que entramos no tema de capacitação dos professores, agora podemos começar a refletir, no termo que aparece acima, Ali-é-na-ação, podemos lê-la sem interrupção, ou separadamente, e encontrar EUREKA! A solução para boa parte dos dilemas educacionais!

Se não, acompanhe comigo pausadamente, Ali, ali aonde? Perguntaria o incréu – oras bolas – na escola, na sala, durante a regência! é afirmação certeira, onde não há dúvidas, na ação, ou seja, na prática dialética, no ir e vir do fazer pedagógico diário, não deixando para resolver depois, mas estar atento (a) ao que ocorre, e dar respostas adequadas para atenuar a situação, manter uma ação coerente com a dignidade humana, nunca devemos encarar as salas de aulas, como uma caixa de skinner, que por meio de tortura e estímulo, os ratinhos nos obedecerão!

Os governantes poderiam e deveriam verificar ali, ou melhor na escola, por meios inteligentes, como anda a práxis escolar, e melhor ainda, que intervenções se fazem necessárias, par a melhoria das aulas! O que de fato os professores precisam como material de apoio pedagógico; não adiantaria por exemplo encher as escolas de computadores, se os alunos e professores não puderem tocar neles! Não adiantaria ter uma quadra coberta, se os planos de ensino, calendário escolar e cargas horárias esdrúxulas não contemplam espaços para aulas na quadra, para momentos de reflexões sobre o que se lê ou aprende, - o incréu perguntaria – aulas na quadra? Podemos dizer-lhe urbanamente, vai ler mais! Não se esqueça é na ação, que tal fazer assinatura de revista sobre educação!

Também poderemos ler normalmente o mesmo morfema, Alienação¹, e até agir assim, expulsando para longe algo que devemos prezar tanto, - os alunos - a razão de ser da escola, - pergunte-se caro colega – o que seria da escola se não houvesse alunos?

Infelizmente, estamos alienando alunos aos montes, quando praticamos nossa melhor hipocrisia! a de passar notas antes de começarem as avaliações, e de enviar médias maravilhosas, para nossa Secretaria de Ensino, e para os demais na escala hierárquica, para aumentar o IDH, ou receber mais recursos, baseados nestas médias, para continuar sendo urbano. - Mas a vontade é falar outra coisa, que descreveria muito bem esta prática nefasta, mesquinha e míope!

Quanto temos que refletir sobre os aspectos da formação do profissional da educação frente aos processos ensino e aprendizagem! Somos na realidade organizadores de processos de conhecimento.

Para ir um pouco mais no fundo desta problemática educacional, e como isto está diretamente relacionado com a formação do profissional da educação, tomemos um fato relacionado com um discurso que controla e policia todas as ações, de modo quase invisível, quase na subjetividade,uma dominação semântica que no fundo controla dirige e engambela a comunidade escolar, de modo muito sutil e profissional!

A idéia de escola em sua gênese, foi planejada de tal modo, que aparentemente exista uma liberdade para o aprendizado, sobre qualquer temática, e sem nenhuma restrição, ou punição por parte da classe dominante, daí a ilusão de que a escola é realmente a panacéia de tudo, a solução de tudo, e soluciona mesmo! Basta você – caro colega professor – imaginar que todos nós estamos dentro de um barco de papel, - daqueles que fazíamos quando em criança – e que todas as escolas no mundo inteiro, também são barquinhos, e que todas, todas mesmo, estão dentro de uma bacia de alumínio, ou melhor vamos melhorar a bacia! De ferro, já que a elite dominante com mão de ferro, não permite que os barquinhos saltem da bacia, e criem rodinhas!

Creio que ficou claro a ilustração, se ainda requer maior esclarecimento, que tal recorremos a MAINGUENEAU², quando ele mesmo disse: “por esses meios produzir na superfície discursiva a figura da instituição que a torna possível” e acrescenta “eficácia ideológica”, pontuando sobre a escola, como ela é, dentro de um discurso de controle e dominação, ou como disse os barquinhos podem imaginar muitas viagens, apenas dentro da bacia de ferro!

Claro que não queremos promover anarquia, nem revolução, nem motim, longe disso! Estamos problematizando a educação como a conhecemos com o objetivo de, como já havia dito em outro discurso, - saltar o muro para espiar do outro lado - sair fora da bacia no sentido de quebrar paradigmas dominantes e de alienação.

Se você se tem coragem mesmo de enfrentar o balançar da bacia, e remar para sair dela, poderia mostrar que é assim, por desmistificar para seus alunos, conceitos históricos equivocados, enunciados por cientistas, grandes nomes, porém patologicamente míopes, que postularam teorias nefastas, para agradar reis e rainhas e clérigos hipócritas, e que conseguiram destruir sonhos, esperanças, e privar muitos, num processo alienatório e competitivo que continua até hoje, brilhando nas melhores universidades em todo o mundo!

Se deseja maior fruição acadêmica sobre estes discursos nefastos que tal recorrer a FOUCAULT³ quando disse: “supunha sempre mais do que dele se sabia”.

Como os PCNs, e os Temas Transversais permite uma possibilidade de - sair da bacia- este processo ensino e aprendizagem, poderia ser utilizado para problematizar junto aos alunos as dicotomias entre fatos que em ciência são experimentos que foram provados por demostrarem evidências comprovadas.

Já as teorias, suposições que não chegaram a ser confirmadas por falta de provas tangíveis, ou mesmo impossibilidades, sempre carregadas de suposições. Talvez o incréu diga – 'eu não me preocupo com ciências, não é minha disciplina mesmo, isso é coisa da professora de ciências biológicas'! Com esse discurso é melhor continuar dentro da bacia, pois tal professora não quer, e pior ainda, não serve para ficar do lado dos que já saíram ou estão saindo da bacia.

Ainda que falando de ciências sociais, e como ilustração da necessidade de sair da bacia, Avram Noan Chomsky em SANTOS4, um dos maiores lingüistas e alguém que já saiu da bacia americana do Tio San, note o que disse: “A meu ver, a estrutura corporativa profissional das ciências sociais tem servido,muitas vezes, como um excelente instrumento para as proteger do discernimento e da compreensão, para excluir aqueles que levantem questões inaceitáveis....por meios mais sutis”

Notou - caro colega professor – que um grande cientista, teve a coragem de sair da bacia de ferro? Disse sobre “excluir” que é o mesmo que alienar exatamente o que ele não quer fazer, e é por isso que além de linguista, ele é também um grande defensor das gentes, das pessoas, assim como nós devemos ser dos alunos.

Algo profícuo que podemos extrair do comentário acima, é que existe uma grande disputa de poder, entre a elite dominante e as massas enganadas, e nós cientistas professores e formadores de opinião, devemos honrar nossos estudos, e defender a verdade, ainda que sejamos criticados pelos que preferem ficar nadando numa água suja e viciada, numa bacia rasa, numa mente pequena, que não tem a coragem de pular o muro para espiar do outro lado!

Por fim, - caro colega professor- já que se dispôs de paciência par chegar até aqui, e me ouvir pacientemente, agradeço sua ousadia, talvez você já está começando a nadar rumo a quebra de paradigmas dominantes de exclusão, de alienação, lembrando sempre que é na práxis diária, na escola, na ação, no mesmo espaço usado para oprimir de modo sutil, que poderemos utilizar para libertar, para provocar reflexões, ainda que vá de encontro das ideologias e teorias nefastas de dominação, e de segregação!

Referência:

1.PRIBERAM, “Alienar” Dicionário da Língua Portuguesa , www.google.com.br

2.MAINGUENEAU, Dominique, Gênese dos Discursos, Edições Criar Curitiba, PR pg.134.

3.FOUCAULT, Michael “A arqueologia do Saber” Editora Forense Universitária 6ª edição, pg. 40.

4.SANTOS, Boaventura de Sousa “ A crítica da razão indolente – Contra o desperdício da experiência, Editora Cortez, pg. 370.

Cristino Mendonça
Enviado por Cristino Mendonça em 15/10/2010
Reeditado em 20/05/2011
Código do texto: T2557699
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