CASTELO DOS DESEJOS (Cármen Neves)

Inicio este breve ensaio, com a leitura de capa do livro CASTELO DOS DESEJOS. Trata-se de um óleo sobre tela, da artista plástica e poetisa DALVA AGNE LYNCH.

Recursos não verbais:

— através do desenho — na capa do livro — traços indicativos de distância: a figura do Castelo situado na escarpa de um penedo, de difícil acesso, simboliza o distanciamento de morada, como também, psicológico, de um vampiro. A cor branca da parede externa do castelo nos leva ao embranquecimento de pele do Drácula no seu repouso diurno. O céu de azul intenso, paradoxalmente à escuridão de um mundo vampiresco, anuncia-nos o espírito apaixonado, porém condescendente, do príncipe das trevas. Uma lua mantém o valor lendário. Um mar se confunde com o azul celeste e a falta de ondas das águas condiz com a paisagem estática do exterior. Assim, o mistério se mantém, no interior, até que mergulhemos na leitura do pensamento recriador da romancista CÁRMEN NEVES.

A história, em si, conta-nos a saga de um vampiro na conquista de uma mulher, não o sobrenatural de sua existência macabra — a força do poder em dentadas sangrentas —, senão a sensualidade cultivada pelos homens ditos normais. Por baixo de uma capa vampiresca e arrogante subjaz uma grande sensibilidade afetiva. Além de uma visão romântica, surpreende-nos o jogo de conquista, de sexualidade exacerbada, de instinto libidinoso, germe da luxúria. Contrariando a tradicional posse imediata dos humanos, comportamento de linhagem do conde Drácula, o personagem do Castelo dos Desejos, mantém a virgem prisioneira, intacta, num jogo de conquista de alto teor erótico, seduzindo-a a cada encontro, até que a mulher se entregue aos apelos da paixão.

Concomitante à prosa realista dos dias atuais com referentes de problemas sociais, alguns autores têm enveredado pela narrativa fantástica, trazendo no seu âmago a magia, notadamente as multifacetadas histórias dos Vampiros, renascimento da literatura gótica iniciada no século XIII, na Inglaterra, com cenários medievais — castelos, florestas, ruínas. A publicação desses romances tem se estendido ao cinema, com filmes em séries.

Traço firme e delicado permeia a obra da escritora gaúcha, residente em Criciúma/SC. A estrutura linear do livro se quebra com as secções de prosa e poesia, montagem de poemas escritos por outras mãos, fugindo, em alguns textos poéticos, do sentido estabelecido no contexto romanesco, no que se refere à fôrma e forma, sem perder o juízo estético, como uma respiração, quando estamos envolvidos na leitura sôfrega. Esse contraponto é o resultado de um sofisticado jogo de imagens que abrilhanta a escrita de CÁRMEN NEVES.

Rita de Cássia Amorim Andrade
Enviado por Rita de Cássia Amorim Andrade em 12/10/2010
Código do texto: T2552154
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.