BRASIL SEM PRECONCEITOS
Nas eleições do primeiro turno, quase setenta por cento dos votos foram para mulheres. Aliás, ninguém considerou se eram homens ou mulheres que concorriam à presidência do Brasil. A vitória da igualdade não para por aqui.
Quando Eunice Mafalda Becker Michiles assumiu uma vaga no Senado, em 1979, tornando-se a primeira mulher senadora pelo voto - a primeira tinha sido Princesa Isabel por sua nobreza – ela foi badalada pela imprensa brasileira e internacional. Paulista de nascimento e amazonense por adoção Michiles representou o Amazonas, o Brasil e a mulher. Hoje o Amazonas elege outra senadora: a senhora Vanessa Grazziotin Bezerra, catarinense de nascimento e amazonense de coração. Dois casos que demonstram que não há preconceito para os que vieram de outros estados para aqui morar. Não há preconceitos sequer para representar o estado.
As duas mulheres candidatas à presidente: Dilma Roussef e Marina Silva tampouco são pessoas “padrão”. Marina vinda do interior foi apresentada ao banco escolar, sendo alfabetizada na idade em que as meninas-moça costumam ser apresentadas à sociedade oficialmente, pelo Debut. De analfabeta passou à professora e depois ingressou na política. Não conseguiu chegar ao segundo turno, porém suas propostas não poderão ser jogadas na gaveta por quem assumir a presidência.
Dilma Roussef, como bem observou um comentarista político, não é amada nem odiada, apenas bem apadrinhada. Contudo é a mulher que por pouco não conquista a presidência no primeiro turno. Nem seu passado de guerrilheira, tampouco seu estado civil – duas vezes descasada – são objetos de discriminação. Se há 50 anos uma mulher se atrevesse ser candidata a um cargo público já seria vista com desconfiança. Se viesse de um casamento desfeito seria execrada. Se fossem dois, receberia adjetivos chulos.
Os tempos mudam e nós mudamos com eles. Dizem que no Brasil é possível acontecer um casamento entre árabe e judeu numa igreja católica, o Buffet ter lingüiças de porco em seu cardápio e uma banda afro fazendo a animação musical.
O amazonense, que não discrimina ninguém, não vota em Serra porque tem medo da discriminação dos paulistas. Neste contexto, a origem passa a ser um crime maior que qualquer outro. Entenda-se.
Seja qual for o resultado das urnas, uma vitória já está consolidada: a da igualdade de oportunidades. Depois dessa eleição ninguém poderá dizer que a mulher é discriminada. Em pouco tempo ninguém mais questionará o sexo dos candidatos.
Luiz Lauschner – Escritor e empresário
lauschneram@hotmail.com