Arranhando a garganta
Minhas palavras não cabem dentro dos meus lábios... mas fenecem antes dos versos...essas adagas afiadas na tranversal da garganta sangram sem verter...e morrem antes de nascer...
Nem a solidão das celas mofadas...nem a falta dos sóis matinais...revelam a miséria desse cárcere...onde se canta versos e madrigais com gosto de fel ou lambuzado de mel em horas quase abertas ou fugindo da noite rota...que se estampa na minha janela esburacada pela luz da luas cheias...
Queria poder conter em frascos miúdos os versos que não te dei...carregar nos bolsos as canções que assobio no correr do dia...as mesmas que embalam os versos súplices que escapam pelos papéis... a fugirem dos meus lábios semi cerrados...
Quanto desfilam diante dos meus olhos os verbos risonhos...e fogem dos meus dedos apressados...pela covardia dos meus pecados...pela economia dos meus atos nesse palco de representações...
..só me restam as pardas letras, quase inexpressivas...que de tão diretas e de tão miseráveis pranteiam rimas pobres...carregadas de emoções sinceras...esperanças...pacto entre nós...alianças que a muito nos une...mas em cadeia...me pune...
Plantar sonhos nas palavras...aquarelar os dias...varrer as nuvens...e acender o lume das estrelas...vai poeta enfeitar o dia...vai cantar a sua melodia...rasga o peito...
...Vira a página das tuas dores...na alquimia das poesias teu padecer soa como cântico...tua algesia intensifica o prazer de poetar...
Me gasto no arremedo das minhas lágrimas confusas...e me prostro na orla dos dias...como a cobrar de mim...os favores que não me dei...as cores que não experimentei... me acarinho e me perdôo pelos meus gestos exagerados...pelas minhas falas descompassadas...me submeto às minhas ilusões insensatas...sem julgamentos detalhados...e quando as prosas me fogem encabrunhadas...quando os versos se perdem dentro dos meus labirintos escuros...arranho meus desejos tolos...e me fecho no meu baú de saudades...onde me inundo de mim...para recompor minh´alma aflita...