Diário III

De que me acusa nesse exato momento? Qual alegação me levaria ao tribunal da minha própria consciência? Provavelmente a minha falta de censura prévia, ou o riso escancarado. Me puniria o riso debochado?

Seria eu um reflexo do seu alter ego, ou do meu, por isso tanto incômodo? Ou seria eu o seu pudor devassado? Ou quiçá, seja eu o seu desejo aprisionado ?

Não ligo para as neuras expostas; ou se ligo, esqueço no próximo minuto, não soma na minha experiência, não acrescenta na minha vivência. Nem toda a minha expressão lhe alcança e jamais alcançaria os meus vôos; tenho asas e tenho a liberdade que falta a sua alma desbotada, atada ao chão.

O que vê dentro dos meus olhos brilhantes? A lua, o sol, ou as noites que jamais sonhou? Pois elas existem não só na minha retina, elas passeiam em mim, não obstante eu esteja alerta ou em vigília.

Muito do que rabisco com os olhos tem cores que jamais conhecerá, e muito do que rascunho são retratos da minha mente, portanto inalcançável para as suas pretensões.

Quando sento para verter a minha alma pelas linhas, mil olhos me observam, mil bocas enlouquecem em falas desconexas, muitas atenções se revoltam perguntando sobre as minhas intenções. Há um culpado em cada linha que se auto acusa, há um medo e uma repulsa contida em cada palavra, quando simplesmente só quero esvaziar as minhas comportas. Nada muito importante senão para o meu próprio proveito, mas que não abdico de compartilhar com alguns poucos que gostam do meu confessionário. Para esses que freqüentam a minha pauta, e desfrutam da minha companhia, pode haver alguma assimilação de interesse ou até uma vontade de perceber-me em cada dia, entretanto há ainda curiosos que torcem o nariz, ou Narcisos que não enxergam além do próprio umbigo, mas que passeiam sem compromisso só para em riste me apontar o nariz.

Nada pode acusar a minha preciosa consciência, já que é leve como pluma;

se não sabem olhar para além dos seus próprios passos, não serei eu espora a ferir qualquer um que queira cavalgar nas minhas presumíveis emoções.

Isso é mais uma página das muitas que publico, sem pudores, unicamente guiada pelo compromisso com a minha verdade crua, convicta da fidelidade de cada palavra, ainda que seja só um monólogo.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 17/06/2005
Código do texto: T25251
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