Mutuamente intangíveis!
Os saberes são sábios gatilhos quando se tem o conhecimento de si e de estar sendo em relação. Sabendo que nunca teremos na pele a impressão fiel daquilo que sente o outro, diante da sensação, mesmo que mútua, sobre algo sabido. Que paradoxo!
Sentes, percebes e me sinto no teu saber. Porém, o saber que permeia no reflexo do que sei de mim, encontrando certa similaridade, concordância... se torna intangível diante daquilo que captas com a tua afetividade e cognição. Posso afetar os teus sentidos de forma sentida e sabida por mim, contudo, ainda assim, jamais terei penetrado nos átomos essenciais da tua cultura, da tua real sensação.
Nunca saberei qual o gosto da minha temperatura na tua língua... não sentirei os grânulos da alegria que tu vês saltando das camadas do meu olhar e da minha voz... não sei como é a passagem das minhas areias na tua garganta... nem o peso do meu tato na topografia do teu corpo-pensamento... e muito menos sei sobre a sensação que provoco ao caminhar com os meus substantivos, através das reentrâncias da emoção derramada na luz do teu cosmos... e nem como tu sentes o brilho do meu olhar ao ser acariciado pelo teu sol intempestivo...
Que elementos tu captas na textura do meu desejo de ser e saber?
O que transmito à ti ao discorrer sobre a mágica da solidão que habita o meu sentir?
Na percepção do intangível construiremos pontes líquidas?
Transitaremos ludicamente para não viver da distância disforme do não-saber que nos sufoca e nos liberta?
No fundo desejamos mesmo é descamar esses véus, penetrarmos nas cascas das ópticas distorcidas, fabricadas em todos nós. Sorvermos o sentir-saber-ser do outro e alimentarmos os casulos que nos nutrem, depois, transmutarmo-nos em conteúdo e paralelamente em continente, sendo parte consciente do mistério da Vida... vivendo na pulsação da pele que reveste os seres e os mundos!